*DOENÇA DE VON GIERKE

GLICOGENOSE TIPO I DE CORI


Introdução 

As Glicogenoses:

Doenças genéticas do metabolismo do glicogênio. A falta das enzimas do metabolismo do glicogênio acarreta várias doenças autossômicas recessivas chamadas glicogenoses. Existem pelo menos doze descritas. As miopatias de depósito podem ser devidas ao acúmulo de polissacárides ou de lípides. Entre os polissacárides destacamos o glicogênio, embora de maneira excepcional, possam ser encontrados outros, como as glicoproteínas, polissacárides neutros e mucopolissacárides neutros.

O glicogênio é encontrado em praticamente todos os tecidos, destacando-se o hepático e o muscular esquelético. O metabolismo do glicogênio é regulado por um sistema enzimático que, quando alterado, acarreta importantes modificações no seu teor, bem como na sua estrutura.

As glicogenoses se caracterizam por um depósito anormalmente aumentado de glicogênio nos diversos tecidos, cuja estrutura pode ser normal ou anormal. Essa alteração ocorre por ausência ou deficiência de enzimas envolvidas no processo de síntese e degradação do glicogênio. Em se considerando os aspectos clínicos, as glicogenoses podem ser divididas em quatro tipos, dependendo de sua distribuição: muscular, hepática, hepato-muscular e generalizada. A classificação numérica adotada é a que foi proposta por Gerty Cori, em 1957, chegando ao número VI. Desde então, outras foram descritas. Atualmente, já foram identificados doze tipos de doenças genéticas do metabolismo do glicogênio.

Definição da Glicogenose tipo I

A Glicogenose tipo I ,  descrita em 1929, é uma afecção de natureza genética, com provável transmissão autossômica recessiva. É causada pela ausência da enzima glicose-6-fosfatase,  a qual é necessária para a conversão do glicogênio em glicose, o defeito bioquímico básico determina o acúmulo de glicogênio no fígado, rins e intestinos.  Por não haver atividade desta enzima no músculo esquelético, não há depósito de glicogênio nesta estrutura.

A glicose trazida  pela alimentação é normalmente passada da circulação para o fígado e nele armazenada como glicogênio. O organismo do bebê com esse tipo de distúrbio metabólico é incapaz de reconverter o glicogênio armazenado em glicose e dessa forma,  aparece a hipoglicemia.  É uma doença que pode regridir com a idade, caso tenha um tratamento adequado no início da sintomatologia.  O paciente pode não apresentar sintomas, após a adolescência.

Sinonímia

É uma doença também conhecida pelos seguintes nomes:

·         Doença de Cori tipo I.

·         Glicogenose hepato-renal.

·         Glicogenose tipo I.

·         Deficiência de glicose-6-fosfatase.

Transmissão

Transmitida com caráter autossômico recessivo, apresenta acúmulo de glicogênio, de cadeia normal, no fígado e rim, devido à deficiência de glicose-6-fosfatase.

Manifestações clínicas

As manifestações clínicas costumam ter início nos primeiros meses de vida:

·         O bebê apresenta hipoglicemia com toda a sua sintomatologia. A hipoglicemia não responde a adrenalina ou glucagon.

·         Aparecimento na pele de xantomas, que são depósitos de gordura na pele, devido ao aumento do metabolismo lipídico; essa deposição de gordura é mais comum nas bochechas caracterizando a "face de boneca", nas mamas e nas nádegas.

·         Presença de crises de hipoglicemia.

·         Crises convulsivas.

·         Hepatomegalia (aumento do volume do  fígado).

·         Renomegalia (aumento do  volume dos rins).

·         Emagrecimento.

·         Hipotonia.

·         Abdômen proeminente.

Diagnóstico

·         Exame clínico.

·         Exame físico.

·         Exames laboratoriais podem revelar hipoglicemia, acidose, hiperuricemia, hipercolesterolemia, aumento sérico dos ácidos graxos e triglicérides.

·         Estudos bioquímicos quantitativos são necessários para confirmar o diagnóstico.

·         Biópsia hepática mostra um acúmulo de glicogênio e uma baixa atividade da glicose-6-fosfatase.

Tratamento

O tratamento é feito com dieta associada a hiperglicemiantes, a fim de manter a glicemia em níveis normais.

·         Muitos tratamentos clínicos e cirúrgicos têm sido tentados, mas parece que a alimentação periódica, a pequenos intervalos,  (incluindo o período noturno) através de sonda  enteral, com elevado teor de hidratos de carbono, corrige a hipoglicemia, melhora o crescimento e aumenta a massa muscular. A alimentação através de sonda é necessário só no início da doença, quando a criança está hospitalizada.

·         A derivação portocava (shunt porto-cava) para desviar o sangue rico em glicose do fígado para a periferia tem sido empregada com sucesso.

·         O tratamento desse distúrbio é feito principalmente através da dieta.  O bicarbonato de sódio, dado oralmente, é usado para o tratamento da acidose láctica.

·         Deve-se ficar atento aos sintomas de hipoglicemia, quando ocorrerem os pais deve procurar assistência médica imediata.

·         Fisioterapia, em alguns casos pode ser necessária.

Tratamento dietoterápico: Os objetivos da dietoterapia são os de manter a homeostase da glicose, para prevenir as reações hipoglicêmicas e fornecer proteínas e calorias suficientes para um balanço positivo de nitrogênio e para o crescimento normal.

·         A dieta consiste em pequenas porções de glicose como fonte de hidratos de carbono, quantidades normais de proteínas e reduzido teor de gorduras.

·         Os triglicérides de cadeia média podem substituir as gorduras, para reduzir a formação de xantomas.

·         O leite é eliminado da dieta, por conter lactose.

·         A sacarose e os alimentos que contêm sacarose são terminantemente proibidos.

·         Fórmulas que contêm sacarose são proibidas.

·         Pequenas refeições freqüentes, à base de proteína, são usadas, para prevenir a hipoglicemia.

·         Excesso calórico é proibido, a fim de que se reduza o acúmulo de gordura e de glicogênio no fígado.

·         Para prevenir a hipoglicemia noturna, pode ser dada glicose a 25%, por sonda nasogástrica.

Prognóstico:  Caso não seja diagnosticada e tratada a tempo, a Glicogenose tipo I, pode trazer seqüelas graves e irreversíveis, comprometendo a qualidade de vida da criança. A morte precoce da criança pode ocorrer devido às infecções intercorrentes.

Seqüelas

Quando não tratada a doença pode trazer algumas seqüelas irreversíveis.

·         Nanismo.

·         Déficits neurológicos podem ocorrer.

·         Hipoglicemia com todas as suas complicações e intercorrências.

·         Deficiência no crescimento.

·         Hipotonia muscular.

·         Crises convulsivas frequentes.


Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o Glossário geral.