SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ
Descrição
A Síndrome de Guillain-Barré (SGB), é uma síndrome radiculoneurítica aguda pós-infecciosa, de causa desconhecida que envolve os nervos periféricos e cranianos, caracterizada por déficit motor progressivo geralmente ascendente, de instalação aguda acompanhada de arreflexia. Pode ocorrer depois de uma infecção respiratória, infecção gastrointestinal, infecção viral, vacinação ou uma cirurgia. É caracterizada por déficit motor progressivo geralmente ascendente, de instalação aguda acompanhada de arreflexia. É considerada uma emergência médica, principalmente pela capacidade de se instalar rapidamente e desenvolver em curto tempo um quadro de insuficiência respiratória aguda, com risco de vida do paciente. Com a erradicação da poliomielite aguda nos países em que ocorre a vacinação obrigatória, a SGB tornou-se a causa mais comum de paralisia generalizada aguda.
Histórico
Em 1916, Guillain-Barré e Strohl, descreveram uma síndrome radiculoneurítica aguda que evoluía com paralisia rapidamente ascendente, a um grave comprometimento respiratório de um modo semelhante ao descrito por Landry, em 1859.
Sinonímia
É uma doença também conhecida pelos seguintes nomes:
· Neuronite infecciosa.
· Polineurite com diplegia facial.
· Polineurite idiopática aguda.
· Polineurite infecciosa.
· Polirradiculoneurite aguda.
· Polirradiculoneurite primária.
· Polirradiculoneurite inflamatória.
· Síndrome de Guillain-Barré-Strohl.
· Síndrome de Landry-Guillain-Barré.
Incidência
· Incidência anual de 1 a 2 casos por 100.000 pessoas.
· Ocorre em todos os grupos etários, sendo mais freqüente nas faixas de 16 a 25 anos e de 45 a 65 anos.
· Ligeira predominância por indivíduos do sexo masculino (3:2).
Patologia
A principal característica histológica da Síndrome de Guillain-Barré é um processo inflamatório não infeccioso multifocal, acometendo o Sistema Nervoso Periférico (SNP). A forma predominante de lesão da fibra nervosa é a desmielinização segmentar, que ocorre em áreas com infiltrado inflamatório composto de linfócitos e macrófagos. Nas lesões em que a destruição é intensa, células polimorfonucleares podem ser vistas com presença de degeneração axonal.
Patogênese
A presença de células inflamatórias nas lesões sugere que a reação imunológica seja medida por células, sendo que a mielina periférica é agredida por linfócitos sensibilizados e possivelmente por macrófagos. Também tem sido identificada a presença de anticorpos antineurais no soro de pacientes com Síndrome de Guillain-Barré. Até o momento não se conhece qual é o antígeno alvo de agressão.
Fatores precipitantes
Pelo menos metades dos casos são antecedidos de:
· Infecções virais, bacterianas e por micoplasma.
· Cirurgia.
· Doenças malignas (linfomas).
· Imunização com antígeno nervoso.
Obs: Esses eventos podem preceder a doença em até um mês, e seu papel é provavelmente não específico, resultando de algum tipo de agressão da mielina dos nervos periféricos. Na maioria dos casos, a Síndrome de Guillain-Barré inicia-se de 5 dias a 3 semanas após a infecção, cirurgia ou vacinação.
Com o evento da Covid-19, alguns pacientes desenvolveram a Síndrome de Guillan-Barré.
Formas clínicas
A SGB pode se apresentar sob diversas formas clínicas:
· formas paraplégicas e tetraplégicas;
· formas com comprometimento múltiplo de nervos cranianos;
· formas com edema de papila;
· formas pseudomiopáticas;
· formas atáxicas;
· formas com paralisia ascendente (tipo Landry-Guillain-Barré);
· formas hiperálgicas;
· formas com ataxia-arreflexia-oftalmoplegia (tipo Miller Fisher);
· formas disautonômicas;
· formas com hiponatremia;
· formas recidivantes (tipo Natrass);
· formas de evolução prolongada (crônicas).
Sinais e sintomas
A SGB costuma se instalar de forma insidiosa com o paciente se queixando de hipertemia, sintomas de infecção gastrointestinais e respiratórios, astenia leve. Numa fase subseqüente (48 a 72 horas após), as manifestações neurológicas se instalam, sendo os distúrbios motores os mais evidentes.
A Síndrome de Guillain-Barré geralmente começa com fraqueza flácida ascendente relativamente simétrica.
fase inicial:
· parestesias nos membros inferiores progressiva para os membros superiores, tronco e músculos faciais;
· astenia moderada nos membros inferiores, que se espalha rapidamente para todo o corpo;
· algia severa e persistente no dorso e nas panturrilhas;
· paralisia dos músculos oculares;
· paralisia facial periférica unilateral ou bilateral;
· mialgias (dores musculares);
· artralgias (dores nas articulações);
· Dormência e formigamentos nas mãos e nos pés.
fase aguda:
· paralisia dos músculos orofaríngeos;
· quando ocorre comprometimento dos nervos bulbares o paciente se queixa de: disfagia;
· disartria;
· disfonia;
· distúrbios da freqüência e do ritmo cardíaco (casos graves);
· insuficiência respiratória necessitando de ventilação mecânica;
· alteração da pressão sanguínea oscilando entre a hipertensão e a hipotensão;
· hiperidrose;
· alterações vasomotoras;
· distermias (hipotermia e hipertemia).
Diagnóstico
· Anamnese.
· Exame clínico.
· Exame físico.
· Exames neurológicos.
· Exames laboratoriais.
· Exame do LCR obtido por punção lombar apresentando uma hiperproteinorraquia.
· Eletromiografia.
· EEG - Eletroencefalograma.
· ECG - Eletrocardiograma.
· TC (Tomografia Computadorizada).
· REM (Ressonância Magnética).
· RX.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Síndrome de Guillain-Barré não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças que podem ser confundidas com a Síndrome de Guillain-Barré são as seguintes:
· Poliomielite anterior aguda.
· Porfiria aguda intermitente.
· Mielite transversa.
· Miastenia grave.
· Carcinomatose meníngea.
· Polimiosite.
· Neuropatia paraneoplásica.
· Neuropatias metabólicas.
· Botulismo.
· Paralisia hipocalêmica.
· Compressão medular.
Obs: É fundamental para o diagnóstico diferencial a pesquisa do pigmento porfirínico na urina.
Tratamento
Objetivo: O objetivo do tratamento é o suporte das funções corporais e a prevenção de complicações.
Não há terapêutica específica para SGB. O tratamento é sintomático, conforme os sintomas apresentados e suas intercorrências.
A Síndrome de Guillain-Barré é considerada uma emergência médica. O tratamento é de suporte intensivo.
Devido a paralisia dos músculos intercostais e do diafragma, debilidade dos músculos de deglutição, causando dificuldade em tossir e deglutir todos esses fatores podem causam uma deteriorização da função respiratória, fazendo com que ocorra um decréscimo na capacidade vital do paciente, por isso a necessidade de hospitalização imediata em uma UTI, para que seja monitorado os sinais vitais constantemente do paciente. Nesse caso a ventilação mecânica é necessária e em algumas situações por períodos prolongados.
Nos casos mais graves deve evitar complicações secundárias à falência respiratória iniciando-se a respiração assistida ao primeiro sinal de dispnéia ou se a saturação de oxigênio no sangue começa a cair.
O emprego de plasmaférese, os estudos recentes mostram que , quando é empregada precocemente, diminui o tempo de evolução da doença. Por ser um procedimento invasivo, geralmente é indicada nos pacientes com déficit motor muito importante e/ ou insuficiência respiratória grave, que necessita de ventilação mecânica.
Analgésicos e opióide podem ser indicados para aliviar a dor: gabapentina, paracetamol e fentanila.
Corticoterapia: Não é indicada a administração de corticoides porque podem agravar o quadro do paciente.
A equipe de enfermagem tem um papel fundamental na assistência de um paciente com SGB em todo o processo de evolução da doença. Com um tratamento adequado e uma equipe de enfermagem especializada, competente e atenta principalmente quando o paciente está em ventilação mecânica, a SGB evolui para uma recuperação completa na maior parte dos casos, seqüelas podem ocorrer num número reduzido de casos.
Fisioterapia: o tratamento fisioterápico deve ser iniciado o mais cedo possível
Prognóstico: O prognóstico é reservado para as formas bulbares e as formas que evoluem com paralisia ascendente de instalação rápida, por causa das severas desordens cardiorrespiratórias características da doença, nestes casos o paciente deve ser assistido em uma UTI durante algum tempo ou em Unidades especializadas.
Alguns pacientes adultos e crianças apresentam algum grau de fraqueza residual após 3 anos. Pacientes que apresentam deficiências residuais podem necessitar de retreinamento, aparelhos ortopédicos ou cirurgia.
Em alguns casos, após a melhora inicial cerca de 2 a 5% dos pacientes desenvolvem a polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica (PDIC).
Complicações
· Insuficiência respiratória.
· Embolia pulmonar.
· Trombose das veias profundas.
· Atrofia muscular.
· Úlceras de pressão (escaras).
· Distúrbios neurológicos.
Sequelas
Em cerca de 15% dos casos, os pacientes podem ter alguma sequela persistente.
· Paralisia facial.
· Tetraplegia.
· Ventilação mecânica permanente.
· Fraqueza muscular.
Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o glossário específico de Doenças Neurológicas.