NEUROCISTICERCOSE
Descrição
A Neurocisticercose é uma infecção causada pela infestação do Sistema Nervoso Central pelo embrião da Taenia solium (cisticerco). É uma doença com uma elevada taxa de morbidade e mortalidade, sendo que no Brasil a doença não tem sido muito diagnosticada. A ocorrência da doença está no hábito de se comer carne de porco mal cozida contaminada pelos cisticercos.
Em condições naturais, o ciclo da doença compreende o homem como hospedeiro definitivo da Taenia solium, (teníase) e os suínos como hospedeiros intermediários infectados pela forma larvária da tênia (cisticercose). A ingestão pelo homem de carne suína com cisticercos viáveis provoca a teníase. A cisticercose humana ocorre quando, acidentalmente, o ser humano ingere ovos da T. solium, ocupando assim a posição de hospedeiro intermediário da doença reservada aos suínos no ciclo natural.
Muitos distúrbios psiquiátricos, neurológicos e epilepsia em crianças e adultos jovens em alguns casos podem ser conseqüência da Neurocisticercose.
Sinonímia
É uma doença também conhecida popularmente pelo nome de Canjinquinha.
Agente etiológico
O embrião da Taenia solium: a forma lavária se completa em quatro meses; o cisticerco pode ser encontrado no parênquima cerebral, ao nível das cavidades ventriculares, nos espaços subaracnóides ou cisternas basais ou nas meninges, raramente localizam-se na medula espinhal; no parênquima cerebral é encontrado sob forma de Cysticecus cellulosae e nas cisternas sob a forma de Cysticercus racemosus.
Incidência
A incidência da Neurocisticercose no Brasil aumenta à medida que são aperfeiçoados os recursos técnicos para o diagnóstico (estudos radiológicos e exame do LCR). Infelizmente muitos casos têm sido diagnosticados por ocasião de intervenções neurocirúrgicas ou apenas mediante necropsia.
Os estados brasileiros com maior índice de Neurocisticercose são: São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso.
É uma doença que ocorre com mais freqüência em crianças e adultos jovens e afeta ambos os sexos.
É mais comum em regiões subdesenvolvidas onde as condições higiênicas e sanitárias são inexistentes ou ineficazes.
A doença é rara em países desenvolvidos.
Em grupos religiosos que proíbem o uso de carne de porco a doença é rara.
Fisiopatologia
Dois ou três dias após a ingestão dos ovos, as larvas abandonam o envoltório externo, invadem a mucosa e chegam aos vasos da parede intestinal, penetrando na corrente sanguínea, posteriormente arrastadas pela circulação são levadas para diferentes pontos do organismo, mas de preferência no homem, o cisticerco localiza-se no globo ocular e no sistema nervoso. Uma vez instalado no sistema nervoso, forma-se em torno do cisticerco um processo inflamatório que pode comprometer as células nervosas vizinhas causando lesões. O cisticerco se encontra inteiramente formado após três meses, caso encontre condições favoráveis no organismo humano, tornando uma vesícula arredondada ou ovóide, clara, semi-transparente, contendo no interior um líquido cristalino, quando essa membrana que envolve a vesícula se rompe, há liberação de substâncias tóxicas que produzem uma reação imunoalérgica, causando um processo inflamatório.
Fenômenos inflamatórios repetidos e exposição prolongada a antígenos parasitários, podem ocasionar quebra de tolerância imunológica a antígenos do próprio sistema nervoso do hospedeiro. Deste fato resulta agressão secundária a estruturas nervosas, com diversos tipos de manifestações clínicas.
Diferença entre Neurocisticercose e Teníase
Não deve-se confundir Neurocisticercose com Teníase. A diferença básica é que a Neurocisticercose ocorre quando o homem ingere os ovos da tênia, enquanto a Teníase ocorre quando o homem engole as larvas da tênia. São doenças bem diferentes, causadas por dois estágios do mesmo parasita. Para se instalar no cérebro, é preciso ingerir os ovos da tênia. Ela só chega ao intestino e causa teníase (a verme cresce no intestino) quando a vítima engole a larva que estava na carne do porco malpassada. Essa larva vai parar no músculo do porco quando o animal come os ovinhos que estão no ambiente. No intestino humano, o parasita se desenvolve e vira um verme muito comprido e único.
Transmissão
O homem adquire a cisticercose por dois meios:
Auto-infestação: ocorre em portadores de teníase quando ao seu estômago chegam anéis maduros da tênia, quer pelo refluxo do conteúdo intestinal (auto-infestação interna), quer pela ingestão de proglotes eliminadas em suas fezes (auto-infestação externa).
Hetero-infestação: decorre da ingestão de água ou de alimentos, contaminados por ovos do parasita.
Sinais e sintomas
A sintomatologia da neurocisticercose depende da localização, número de parasitas, pelo tipo, tamanho dos cisticercos, pela viabilidade biológica e pelas características da resposta inflamatória de cada paciente. No sistema nervoso pode se apresentar sob as mais variadas manifestações clínicas sendo que a epilepsia é a manifestação clínica mais freqüente da doença. A evolução e o modo de aparecimento dos sintomas poderão ser agudos ou crônicos. A evolução da doença é do tipo recorrente com períodos de manifestações clínicas acentuadas, intercaladas por períodos de relativa calma. Conforme a região cerebral atingida, os sintomas variam de cefaléias a hipertensão intracraniana, crises convulsivas e até distúrbios mentais e psíquicos. As síndromes neurológicas mais comuns encontradas em pacientes com Neurocisticercose são as seguintes:
Síndrome de hipertensão craniana (SHIC): apresentando cefaléia constante, vômitos, rigidez da nuca, hemiplegia, monoplegia, comprometimento do nervo óptico e convulsões que em geral assumem tipo focal, manifestando-se apenas em um dos hemicorpos ou em parte dele (convulsões jacksonianas).
Síndrome psiquiátrica: acompanhadas de distúrbios orgânico cerebral, confusão mental, desorientação auto- e alopsíquica, idéias delirantes de grandeza ou de perseguição, euforia, diminuição da afetividade, amnésia, agitação psicomotora, alucinações visuais, esquizofrenia.
Síndromes encefálicas.
Síndrome epiléptica: é a mais comum das manifestações entre os pacientes com Neurocisticercose com pacientes apresentando formas convulsivas generalizadas e as crises parciais. Encontrada em cerca de 43,5% dos doentes.
Associação das síndromes hipertensivas e epilépticas, ocorre em 15,4% dos pacientes.
Diagnóstico
Anamnese.
Exame físico.
Exame clínico.
Exames laboratoriais.
Parasitológico de fezes (suspeita de teníase intestinal).
Exame neurológico.
Exame psiquiátrico.
Testes neuropsicológicos
Exame do LCR (líquido Cefalorraquidiano); na neurocisticercose o liquor apresenta-se com moderada hipercitose linfomonicitária, eosinofilorraquia discreta, diminuição no teor de glicose e aumento na taxa de proteínas.
Reação de Weinberg no LCR (exame capaz de detectar a presença de anticorpos aproximadamente em 70% dos pacientes com neurocisticercose).
Reação imunoenzimática (ELIZA) para cisticercose, pertence a uma nova geração de métodos de diagnóstico laboratorial, com sensibilidade mais elevada (acima de 90%) e especificidade que se aproxima de 100%.
Tomografia Axial Computadorizada.
Ressonância Magnética do crânio (à exceção da fase granular calcificada).
Angiografia cerebral.
RX simples do crânio.
Obs: O Diagnóstico da Neurocisticercose baseia-se geralmente em três critérios fundamentais: o quadro clínico, os dados da neuroimagem do crânio e os dados do exame do líquido cefalorraquidiano. O exame do LCR é o exame clássico para o diagnóstico da Neurocisticercose. A reação inflamatória do hospedeiro em relação ao parasita transparece adequadamente no LCR.
Diagnostico diferencial
O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Neurocisticercose não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, neurológico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças que podem ser confundidas com a Neurocisticercose são as seguintes:
Meningite.
Edema cerebral.
AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Hidrocefalia.
Distúrbios psiquiátricos.
Epilepsia.
Neoplasias cerebrais.
Abscesso cerebral.
Coenurose.
Cisto hidático.
Tumor cerebral.
Tratamento
Médico especializado: Neurologista e Clínico geral. Outros médicos especialistas podem ser necessários, dependendo da sintomatologia apresentada pelo paciente.
Objetivo: O tratamento da Neurocisticercose apresenta dois objetivos principais: o controle do processo inflamatório através do uso de medicação antiinflamatória durante os surtos da doença, e a agressão ao parasita com a finalidade de impedir a repetição de episódios inflamatórios.
Não existe tratamento específico para a doença. O tratamento é sintomático, conforme os sintomas apresentados e suas intercorrências.
O tratamento para a Neurocisticercose varia de acordo com o estágio da doença, sendo mais específico e eficaz se o cisticerco ainda estiver na forma ativa, ou seja, vivo. A partir do momento em que ele começa a degenerar e morre, inicia-se um processo de deposição progressiva de sais de cálcio (fase de calcificação) e as lesões cerebrais e seqüelas, tornam-se permanentes. Nestes casos, a intervenção tem como objetivo apenas amenizar os sinais clínicos do paciente.
Antialérgicos podem ser indicados , sempre em regime de internação hospitalar e, de preferência, associados ao uso de corticosteróides para impedir a ocorrência de hipertensão intracraniana durante o tratamento.
Em alguns casos específicos há necessidade de tratamento cirúrgico que é considerado um procedimento excepcional e deve obedecer a indicação médica precisa, restringindo-se aos casos em que haja efeito de massa com manifestações clínicas, ou a situações em que haja comprometimento de estruturas do tronco cerebral.
Nas formas que se caracterizam por hipertensão intracraniana, o tratamento indicado é a neurocirurgia, especialmente nos casos em que ocorre bloqueio à drenagem do LCR, com vistas à possibilidade de estabelecimento de derivações ventriculares (ventrículo-jugular, ventrículo-peritoneal).
Raras são as indicações cirúrgicas visando retirar cirurgicamente o cisticerco, especialmente, em virtude da precariedade dos resultados alcançados com tais intervenções.
Algumas tentativas terapêuticas medicamentosas que são utilizadas para tentar dificultar a reação tecidual produzida pela presença do parasita, pode causar no SNC, conseqüências mais sérias que a própria presença do cisticerco.
Obs: Os resultados do tratamento, sempre penoso e dispendioso, nem sempre são satisfatórios. Em avaliações a longo prazo, cerca de 10% dos pacientes vão a óbito em conseqüência da doença e aproximadamente 20% dos restantes não se beneficiam com o tratamento. Estes dados, aliados ao fato de que a doença freqüentemente apresenta caráter invalidante, tornam imperativa a consideração de medidas profiláticas.
Prognóstico
A evolução da Neurocisticercose é variável; algumas vezes há remissão espontânea do quadro sintomatológico com o passar do tempo, em outros casos os sintomas vão se agravando cada vez mais. É difícil estabelecer um prognóstico, mas na presença de hipertensão intracraniana ou sinais de comprometimento progressivo e generalizado do SNC , o prognóstico é reservado.
Seqüelas
Hidrocefalia.
Paralisia.
Comprometimento neurológico.
Demência.
Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o glossário específico de Doenças Neurológicas.
Maiores informações sobre a Teníase, consulte o menu de Doenças Parasitárias.