MIÍASE


 

Definição

A Miíase é uma zoodermatose é caracterizada pela invasão de larvas de várias espécies de moscas, em lesões da pele, mucosas ou orifícios e cavidades naturais do organismo.

 

Agente etiológico

Entre as principais moscas cujas larvas produzem Miíase, estão as dos gêneros:  Dermatobia, Cordylobia, Calitroga, Lucilia, Sarcophaga, Chrysomya, Phormya, Gasterophilus, Wohlfahrtia e Cochliomya. A mosca doméstica comum (musca domestica),  pode ser causadora facultativa de Miíase. Na América do Sul, as responsáveis pela Miíase são as moscas Dermatobia hominis, Calitroga ameicana  Calitroga macelaria e espécies do gênero Lucilia.

 

Características da larva: As larvas apresentam-se em forma de vermes segmentados cilíndricos, sem cabeça, de cor branca ou cinza-claro, de 2 a 30mm de comprimento. A extremidade anterior pode ser pontiaguda e  respiram por dois espiráculos que podem ser confundidos com olhos. A morfologia das larvas varia de espécie para espécie e na mesma  espécie de acordo com a fase evolutiva.

 

Patogenia

Na Miíase primária, a mosca deposita os ovos na pele normal junto às lesões tegumentares, como arranhões, picadas de insetos, escoriações, abrasões, lesões ulcerosas, feridas de pé diabético. O ovo adere à superfície da pele e, com a eclosão dos ovos, a larva penetra ativamente pela lesão, digerindo o tecido da pele, e se entoca na derme ou tecido subcutâneo, aí permanecendo para desenvolver-se. Forma-se então a lesão furunculóide: um nódulo de pouco aspecto inflamatório, com um orifício central, por onde a larva penetrou e por onde respira, através do qual a mesma  se protunde. Nesse tipo de Miíase há um vetor intermediário, que em nosso meio, habitualmente, é a mosca Neivamya lutzi, a qual porta os ovos da Dermatobia hominis e os deposita na pele.

 

Na Miíase secundária, os ovos são depositados em ulcerações expostas de pele e orifícios ou cavidades naturais, previamente infectados. Nelas as larvas desenvolvem-se alimentando-se de tecido morto. A mosca é atraída pelo odor que exala da lesão e nela deposita seus ovos. Dentro de três semanas estes eclodem liberando as larvas que passam a digerir o tecido necrosado.  

 

Classificação

As Miíases são classificadas em primárias e secundárias.

·         Miíase primária:  Também chamada de forma furunculóide (berne), é causada pela larva da mosca Dermatobia  hominis, ou raramente, pela Calitroga americana, parasitas obrigatórias (específicas) que invadem  o tecido vivo.

·         Miíase secundária:  Chamada popularmente de bicheira, é causada pela larva da mosca Calitroga macelaria (mosca varejeira) e espécies do gênero Lucilia, parasitas facultativos (semi-específico), que invadem tecidos necrosados de ulcerações da pele e mucosa, destes alimentando-se para o seu desenvolvimento.

·         Miíase acidental (intestinal-urinária) ocorre a ingestão de alimentos contaminados com ovos de moscas produtoras obrigatórias de Miíase, podendo as larvas localizar-se no intestino ou no trato urinário. Geralmente os ovos ingeridos não resistem à passagem pelo trato gastrintestinal, sendo nessa passagem  destruídos, o que torna rara a ocorrência desta forma de |Miíase.

 

Sinais e sintomas

Essas manifestações clínicas variam conforme a espécie e a localização das larvas.  A larva pode parasitar a pele, o couro cabeludo, cavidades ou orifícios naturais do corpo (vagina, fossas nasais, seios paranasais, olhos, canal auditivo, trato urinário e intestino), determinando quadros localizados, ou ainda, ser disseminada para órgãos internos.

 

·         presença de larvas na ferida;

·         o paciente se queixa de dor no local da lesão, devido aos movimentos das larvas.

·         sensação de queimação no local da lesão.

·         irritabilidade e nervosismo.

 

Formas clínicas

Miíase primária:

·         Forma furunculóide (Berne):  Caracterizada por uma lesão nodular, medindo em média 1 a 3 cm de tamanho, é  revestida por pele eritematosa,  apresentando  um orifício central de onde flui secreção serosa. Algumas vezes, vê-se a larva protundindo-se por este orifício.  A lesão é dolorosa, o paciente se queixa de  uma sensação de ferroada, devido aos movimentos  da larva em seu interior. É semelhante ao furúnculo, podendo haver uma só ou várias lesões. A larva permanece na lesão  em torno de 50 dias e após atingir a maturidade, cai ao solo para completar sua  evolução a inseto adulto.

·         Forma migratória:  forma clínica primária na qual a larva percorre caminhos na pele em vez de ficar localizada, como na forma furunculóide.

 

  Miíase secundária:

·         Forma cutânea:  ocorre em tecidos necrosados de ulcerações expostas de pele; várias larvas podem ser vistas movimentando-se na superfície da ulceração, em meio a secreções seropurulentas e tecidos mortos.

·         Forma cavitária:  decorre da presença de larvas de moscas facultativas em orifícios e cavidades naturais infectados. Estas podem permanecer localizadas ou ser disseminadas a vários órgãos internos, inclusive o cérebro, incapacitando e ameaçando a vida. Nessa forma clínica de apresentação da miíase pode ocorrer também a oftalmomiíase (miíase nos olhos), miíase nasal (miíase no nariz) esta pode ocorrer também em pacientes com Hanseníase e Leishmaniose tegumentar causando extensa lesão tecidual.

 

 Miíase acidental:

·         Forma acidental:  os ovos são ingeridos com alimentos contaminados, podendo localizar-se no tecido intestinal ou nas vias urinárias. A forma acidental intestinal, também chamada de pseudomiíase, manifesta um quadro de enterocolite aguda com dor abdominal, diarréia e sangramento anal. O acometimento do trato urinário determina o surgimento de proteinúria, disúria, hematúria e piúria, pode também determinar o priapismo.

 

Diagnóstico

·         Anamnese.

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

·         Exames laboratoriais.

·         Exame dermatológico.

·         Exame oftalmológico (oftalmomiíase).

 

ObsO diagnóstico mais preciso é feito pela visualização das larvas, através do orifício, na miíase furunculóide (berne), e na superfície das lesões ulceradas, nas formas secundárias. Pode haver alguma dificuldade na visualização da larva no início do berne, onde ela se entoca sob a pele. Em algumas formas graves, disseminadas ou acidentais, nas quais as larvas não são visíveis, tornam-se necessários procedimentos especiais, de acordo com cada caso, para o diagnóstico.

 

Diagnóstico diferencial  

O diagnóstico diferencial deve se feito para que a Miíase não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico e laboratoriais  o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças  que podem ser confundidas com a Miíase são as seguintes:

·         Furúnculos.

·         Abscessos de glândulas sudoríparas.

·         Otite.

·         Rinite.

·         Impetigo.

·         Corpo estranho.

·         Inflamações de cavidades e orifícios naturais.

 

Tratamento

·         Assepsia do local da lesão

·         Retirada das larvas com uma pinça, depois indica-se o uso de anti-séptico no local da lesão.

·         Tratamento cirúrgico através do debridamento, excisão e alargamento do orifício para a retirada da larva, pode ser necessário em alguns casos mais graves.

·         Antibioticoterapia deve ser administrada quando ocorre infecção.

·         Limpeza diária da lesão com o cuidado de tentar visualizar se existem mais larvas.

 

Complicações

Quando a larva sai e deixa o orifício ou a lesão aberta, esta pode ser uma porta de entrada para outros microorganismos oportunistas, que podem causar as seguintes doenças:

·         Infecção secundária bacteriana.

·         Erisipela.

·         Linfagite.

·         Tétano.

·         Abscessos.

·         No caso de Oftalmomiíase pode ocorrer: conjuntivite, lacrimejamento, hiperemia da conjuntiva, conjuntivite catarral.

·         Herpes zoster oftálmico pode ter associação com a Oftalmomiíase.

 

Prevenção

·         Combate às moscas.

·         Cobrir adequadamente feridas abertas, ulceradas com tecidos necrosados, eczemas infectados, associando boa higiene individual e ambiental.

·         As moscas geralmente  são atraídas pelo odor que exala da lesão e aí deposita seus ovos.

 


Dúvidas de termos técnicos  consulte o Glossário geral.