SÍNDROME DE
STEVENS-JOHNSON
Introdução
A Síndrome de
Stevens-Johnson (SSJ) é uma reação alérgica grave, geralmente de origem
medicamentosa, que pode acometer a pele, as mucosas oral, genital, anal e
ocular. Pode afetar também o trato
gastrintestinal e respiratório. Estudos indicam que a doença pode ser provocada
por fatores imunológicos, mas ainda não se sabe exatamente o mecanismo que causa
a síndrome.
A doença é caracterizada
pela necrose de queratinócitos e separação da
epiderme da derme.
A síndrome é
caracterizada por inúmeras erosões na pele, que geralmente começam com pequenas
bolhas disseminadas que surgem a partir de áreas eritematosas ou mácula purpurácea. A doença também pode causar processos de
necrose, podendo ser fatal. O início da reação alérgica é geralmente abrupto
causando no indivíduo febre, mal-estar geral, fortes dores musculares e
articulares, com o aparecimento de erupções cutâneas extensas no corpo. A
doença também pode causar lesões da iris
que pode evoluir para a cegueira. É considerada uma doença grave que pode
evoluir para um quadro toxêmico afetando vários
órgãos ao mesmo tempo. A síndrome Stevens-Johnson é considerada uma emergência
médica que tem um alto risco de morte, quando não é identificada imediatamente
pela equipe médica ou quando o paciente dá entrada no hospital com um quadro da
doença em um estágio muito grave.
Incidência
·
A
síndrome é mais frequente em crianças e em adultos jovens.
·
Estudos
indicam que a mortalidade da síndrome está em torno de 5% a 10%.
·
Incidência
está estimada entre 1 a 6 casos por milhão de habitantes.
·
Em
crianças e jovens a doença apresenta quadro clínico com maior severidade.
·
Em
pacientes com HIV a incidência da síndrome é de 1/1000 indivíduos por ano.
·
Pacientes
com o vírus da herpes têm uma incidência maior de
apresentar a Síndrome de Stevens-Johnson.
·
Cerca
de 90% dos indivíduos apresentam envolvimento da membrana das mucosas
(orofaringe, genitália, ânus, conjuntiva, esôfago, intestino e árvore
traqueobrônquica).
·
Cerca de 35% a 60% dos
casos têm envolvimento ocular.
·
Cerca
de 70% dos casos a causa é relacionada a medicamentos.
Fatores desencadeantes
A doença ocorre
devido a uma resposta anormal ao metabolismo de determinadas drogas usadas pelo
paciente. A Síndrome de Stevens-Johnson pode ser desencadeada pelas seguintes
situações:
·
Drogas:
sulfonamidas, dipirona, antidiabéticos, barbitúricos,
penicilina, ampicilina, antiinflamatórios
não-hormonais, acetaminofenos, cefalosporinas, alopurinol, analgésicos, anticonvulsivantes (carbamazepina, fenobarbital, fenitoína),
antirretrovirais.
·
Infecções
virais ou bacterianas causadas por adenovirus, vírus Calmette-Guérin, fungos, vírus herpes simples (HSV), vírus Epstein-Barr, M. pneumoniae, enteroviroses.
·
Fúngicos: Dermatofitoses,
histoplasmose e paracocidiodomicose.
·
Protozoários:
malária e tricomonas.
·
Tumores:
Carcinomas e linfomas.
·
Transplante
de órgãos.
·
Histórico
familiar de Síndrome de Stevens-Johnson.
Obs: O uso de medicamentos
é a causa mais comum que causam esse tipo de reação anormal do organismo.
Duração
A doença tem duração
aproximada de uma a quatro semanas após a exposição à droga agressora ou a
ocorrência de infecções virais ou bacterianas.
Sinais e sintomas
Os sinais e as
manifestações clínicas dependem do fator causador ou que desencadeou a reação
alérgica. A reação alérgica pode ser
consequência da história de uso de medicamentos. Alguns pacientes apresentam na
fase inicial da doença sintomas de uma gripe que depois vai evoluindo para o
aparecimento de bolhas e descamação cutânea no rosto, tórax e membranas
mucosas. Geralmente podem ocorrer os seguintes sintomas em que a causa da
intensa reação alérgica foi devida a remédios:
Período prodrômico:
·
Febre
(>39ºC).
·
Dor
muscular (mialgia).
·
Mal
estar geral.
·
Dor
de garganta.
·
Dores
nas articulações (artralgias).
·
Prostração.
·
Vômitos.
·
Astenia.
·
Tosse
persistente (pode ser decorrente de lesão na garganta).
·
Coriza
nasal.
·
Dor
de cabeça (cefaléia).
·
Ferida
na boca.
·
Queratoconjunvite (inflamação da
córnea e conjuntiva).
Obs: Geralmente, após
esses sintomas que duram cerca de uma a duas semanas, é que aparecem os outros
sintomas da síndrome (a duração desses sintomas pode variar de paciente para
paciente).
Após o período
prodrômico ou inicial da síndrome, aparecem as erupções
com o desenvolvimento de bolhas, às vezes com sangue e/ou pus na região da
boca, olhos, região da mucosa anal e genital, pele que se rompem, formando
erosões que vão se juntando e alcançando grandes extensões as quais ficam
cobertas de crostas.
Na fase do
aparecimento das erosões a aparência do paciente pode ser comparada a um grande
queimado.
Pele: inicialmente as
primeiras máculas são simétricas em face e nas costas; após ocorre uma rápida
evolução das máculas para abdome, costas e extremidades proximais; essas lesões
evoluem para bolhas ou área desnuda avermelhada no centro de cada lesão. As
lesões na pele em muitos casos surgem de pápulas pruriginosas e eritematosas,
progredindo posteriormente para todo o corpo. Essas lesões são dolorosas e têm
uma evolução muito intensa. Lesões na pele que vão evoluindo rapidamente até
ficarem com o aspecto de queimaduras que podem envolver vários graus. As lesões
cutâneas causam perda de água e infecções bacterianas secundárias e sépsis. Sinal de Nikolsky
positivo (extensão do deslocamento da epiderme pela aplicação de pressão).
Olhos: o quadro
ocular apresenta hiperemia conjuntival; olhos
lacrimejando, ardendo ou embaçado; inchaço na região dos olhos; com o tempo
evolui para uma secreção purulenta bilateral, membranosa ou pseudomembranosa,
em que às vezes o paciente nem consegue abrir os olhos direito por causa das
aderências conjuntivais. Pode ocorrer também
fotofobia, dor ocular, olho seco e dificuldade para enxergar. Nos casos mais
graves pode ocorrer a queratinização patológica da córnea e mucosa conjuntival.
Outras manifestações
da doença na fase aguda:
·
Secreção
que sai da boca, algumas vezes pode ser purulenta ou com sangue.
·
Dor
abdominal difusa geralmente em abdome inferior; vômitos e náuseas.
·
Diarréia
profusa.
·
Sinais
de desidratação: decorrente da diarréia profusa; febre; diminuição da
quantidade de líquidos ingeridos.
·
Sinais
de estomatite.
·
Dificuldade
para ingestão de alimentos.
·
Membros:
pode ocorrer dor à extensão de membros inferiores; aparecimento de lesões
eritematosas em palma e planta dos pés.
·
Problemas
respiratórios: respiração superficial; dispnéia.
·
Descolamento
de pele após a formação de bolhas depois de alguns dias.
·
Lesões
da mucosa que causam erosões orais, faríngeas e urogenitais.
Diagnóstico
Anamnese rigorosa.
Exame físico.
Exame clínico: as
lesões que envolvem a pele são extensas e abrangem diversas áreas do corpo,
apresentando máculas eritematosas, bolhas sero-hemorrágicas e púrpura. As mucosas bucais e conjuntivas (olhos)
também apresentam lesões.
Exames laboratoriais.
Biópsia da pele.
Obs: O diagnóstico precoce
da síndrome pode evitar a mortalidade e morbidade nos casos de reação adversa a
drogas.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico
diferencial deve ser feito para que a Síndrome de Stevens-Johnson não seja
confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. As doenças que
são mais confundidas com a Síndrome de Stevens-Johnson são as seguintes
·
Acantose pênfigo paraneoplásica.
·
Doença enxerto versus
hospedeiro.
·
Dermatite do linfoma.
·
Dermatite esfoliativa.
·
Dermatose linear por IgA.
·
Doença de Lyme.
·
Eritema multiforme.
·
Eritrodermia.
·
Exantema pustuloso generalizado agudo.
·
Gengivoestomatite herpética.
·
Linfadenopatia angio-imunoblástica.
·
Necrólise Epidérmica Tóxica - NET.
·
Penfigoide bolhoso.
·
Pênfigo vulgar.
·
Psoríase.
·
Queimadura química.
·
Queimaduras térmicas.
·
Reações bolhosas fototóxicas.
·
Sífilis secundária.
·
Síndrome da pele
escaldada estafilocócica.
·
Síndrome do choque
tóxico.
·
Vasculite.
Tratamento
Médico
especialista:
Médico Clínico. Dependendo da
sintomatologia e a evolução da doença outros especialistas médicos devem ser
indicados para o tratamento: Oftalmologista, Dermatologista.
Objetivo: Interromper a fase
aguda da doença, descobrir a causa, cuidar das feridas na pele, controlar a dor
e minimizar as complicações que a síndrome pode causar no paciente.
Não existe tratamento
específico. O tratamento é de suporte e sintomático, conforme os sintomas apresentados
pelo paciente. A retirada da substância que está causando a doença é uma das
ações mais importante para que seja reduzida a morbidade. O tratamento é
internamento hospitalar imediato, porque a síndrome é considerada uma
emergência médica.Internamento em UTI ou em unidade de
queimados.
·
O
medicamento suspeito de causar a Síndrome de Stevens-Johnson deve ser
interrompido imediatamente.
·
A
hospitalização deve ser imediata e o paciente deve ser devidamente monitorado.
·
Aporte
nutricional.
·
Hidratação
constante.
·
Suspender
toda medicação não necessária.
·
Verificação
dos sinais vitais constante.
·
Medidas
de assepsias.
·
Evitar
material adesivo.
·
Troca
de cateteres em intervalos regulares.
·
Nutrição
enteral precoce e contínua.
·
Uso
de sonda vesical para monitorização.
·
Monitorização da função pulmonar.
·
Regular
temperatura ambiente, visando reduzir as perdas calóricas através da pele.
·
Proteger
a pele de todas as formas de pressão ou atrito, devido às lesões de pele.
·
Administrar
medicamento para controle da dor, quando prescrito e for necessário.
·
Administração
se prescrita de heparina subcutânea.
·
Exames
clínicos e laboratoriais constantes para verificar se o tratamento está
correto.
·
O
uso de corticóide no tratamento da Stevens-Johnson deve ser cauteloso, porque
estudos indicam que o corticóide pode elevar o índice de mortalidade nesses
pacientes.
Tratamento
cirúrgico:
em algumas situações específicas o tratamento clínico deve ser complementado
por abordagem cirúrgica. Em algumas situações, para a troca de curativos é
necessários anestesia.
Tratamento
fisioterápico:
Ainda no ambiente da UTI, o fisioterapeuta pode aplicar a FBM (fotobiomodulação) como terapia complementar para reparação
tecidual nas regiões sem secreção. Esse tipo de tratamento deve ser de consenso
entre a equipe multidisciplinar.
Atenção: O tratamento para o
portador da Síndrome de Stevens-Johnson deve ser feito na unidade de grandes
queimados ou na UTI, devido a gravidade do quadro e ao
alto risco do paciente adquirir infecções, devido as lesões erosivas na pele. O
paciente deve ter todos os cuidados que envolvem o isolamento.
Prognóstico: quando ocorre a
Síndrome de Stevens-Johnson o prognóstico pode ser grave, principalmente quando
acomete pessoas idosas e quando ocorre infecção secundária. A sobrevida do paciente depende do suporte
médico inicial e suspensão do agente agressor ou causador da reação alérgica.
Pacientes com AIDS
que desenvolvem eritema multiforme têm um pior prognóstico.
O óbito pode ocorrer
por atraso na terapia e na identificação do agente causador que levou a
síndrome. As complicações da doença também podem evoluir para a morte do
paciente.
Em alguns casos, a
doença pode evoluir para uma forma mais grave, Necrólise
Epidérmica Tóxica (NET). A NET é uma variante da Síndrome de Stevens-Johnson,
nessa forma mais grave, a camada superior da pele desprende-se em camadas o que
leva a piorar o quadro do paciente. Na NET o Sinal de Nikolsky
é positivo.
As principais causas
de morte em pacientes com SSJ/NET são decorrentes de sépsis e choque séptico.
Complicações
·
O
processo de necrose pode causar perda de funções orgânicas. Quando ocorre nos
brônquios, pode causar insuficiência respiratória.
·
Se
evoluir para um quadro de toxemia, pode resultar em
alterações graves no sistema nervoso central, nos rins, coração e sistema
gastrointestinal.
·
Tromboembolismo
(pode ser evitada com anticoagulação profilática com heparina).
·
Sangramentos
graves.
·
Choque
hipovolêmico.
·
Insuficiência
renal.
·
Desidratação
severa.
·
Pneumonia.
·
Perda
de proteínas.
·
Desequilíbrios
eletrolíticos.
·
Necrose
epitelial do trato gastrointestinal.
·
Perfuração
do cólon.
·
Diarreia
intensa.
·
Infecção
bacteriana.
Sequelas
·
Olhos:
Em alguns casos devido às complicações envolvendo os olhos, o quadro pode
evoluir para cegueira e perfuração do globo ocular. O paciente deve ter um
acompanhamento oftalmológico por longo tempo.
·
Cicatrizes
permanentes na pele devido as lesões.
Cuidados gerais
Depois do tratamento da
Síndrome de Stevens-Johnson o indivíduo deve tomar os seguintes cuidados:
·
A
exposição ao sol deve ser evitada durante vários meses.
·
Controle
da glicemia.
·
Deve-se evitar medicamentos que possam levar
a uma reação cruzada.
·
Deve-se evitar os medicamentos que causaram a
síndrome.
·
Tomar
só medicamentos prescritos pelo médico.
Dúvidas de termos técnicos e expressões consulte o Glossário geral.