ACROMEGALIA
Introdução
A
Acromegalia é um distúrbio caracterizado pelo excesso crônico de hormônio do
crescimento (GH) circulante. É considerada uma doença multissistêmica. A
Acromegalia surge quando a hipófise, glândula de secreção interna, produz
quantidades excessivas de hormônio do crescimento GH (growth
hormone).
A doença resulta de uma secreção de somatotrofina
(GH). Cerca de 95% dos casos a hipersecreção crônica de GH é produzida por
um adenoma somatotrófico benigno da hipófise. A
doença caracteriza-se por um crescimento do esqueleto e dos tecidos moles e por
alterações metabólicas. É considerada
uma doença insidiosa de difícil diagnóstico. A doença tem uma evolução lenta e
progressiva, o que dificulta o diagnóstico precoce. Na grande maioria dos casos
o diagnóstico é feito em média sete a dez anos após o início dos sintomas e
sinais.
Incidência
Mulheres
e homens são acometidos na mesma proporção.
Incidência
maior entre os 30 e os 50 anos de idade.
Idade
ao diagnóstico em média oscila entre 40 a 50 anos.
As complicações cardiovasculares respondem
por 60% das mortes nos pacientes com a doença.
A taxa de mortalidade é duas a três vezes maior que na população geral.
Causas
A
Acromegalia e o gigantismo são causados pela produção exagerada de GH (hormônio
do crescimento) e de IGF-1. A produção excessiva desses hormônios na grande
maioria dos casos está associada à presença de tumores benignos da hipófise, os
adenomas.
A
principal causa da hipersecreção de GH é a presença de adenoma benigno de
pituitária.
Casos
raríssimos podem ter como causa tumores malignos instalados na hipófise;
tumores que estimulam a hipófise a produzir GH ou de tumores produtores de GH
localizados no pâncreas, pulmões ou em outros tecidos.
Outros
casos da doença podem ser causados pelas formas familiares da doença.
Sinais e
sintomas
As
mudanças que ocorrem em relação a aparência física do
portador, podem ser confundidas com os do envelhecimento, já que a doenla costuma evoluir no decorrer de vários anos. A
produção excessiva do GH e IGF-1 afeta várias funções orgânicas causando
manifestações físicas e clínicas no portador da doença.
Alterações
físicas:
·
Mãos
e pés crescem; os portadores percebem porque os sapatos não servem mais
(numeração tem que ser maior) e os anéis não entram mais nos dedos.
·
Alargamento
da região
frontal e da testa.
·
Edema
de tecidos moles do rosto.
·
Aumento
das arcadas supraciliares.
·
Queixo
mais proeminente, dando ao rosto um aspecto característico da doença.
·
Espaçamento
entre os dentes e perda dentária.
·
Aumento
do volume do tórax.
·
Aumento
do nariz.
·
Aumento
dos pavilhões auriculares. e dos genitais.
·
Os
lábios ficam mais grossos.
Obs: Deve-se comparar o
aspecto do doente atual com fotografias de alguns anos antes.
Manifestações
dermatológicas:
·
Pele
mais espessa, oleosa; mais propensa a acne; aparecimento de pregas o que deixam
a pele deformada; sudorese exagerada.
·
Aparecimento
de rugas profundas na região do rosto.
Manifestações
cardiovasculares:
·
Cardiomegalia (aumento do volume
do coração).
·
Cardiomiopatia dilatada.
·
Hipertensão
arterial.
·
Insuficiência
cardíaca.
·
Insuficiência
Cardíaca Congestiva (ICC).
·
Arritmia
cardíaca.
·
Fibrose
intersticial.
Manifestações
gastrointestinais: o excesso do GH produz visceromegalia
generalizada.
·
Hepatomegalia (aumento do volume
do fígado).
·
Aumento
do pâncreas e outros órgãos.
·
Formação
de pólipos intestinais.
·
Litíase
renal.
Manifestações
metabólicas e endócrinas:
·
Aparecimento
de Diabetes Mellitus.
·
Intolerância
a carboidratos.
·
Resistência
à insulina.
·
Aumento
dos níveis de colesterol e dos triglicérides.
·
Aparecimento
de nódulos na tireóide.
·
Aumento
do volume tireoideano.
·
Hipertrofia das glândulas
salivares.
·
Diminuição
da libido.
·
Impotência.
·
Alterações
menstruais.
·
Alterações
sexuais.
·
Saída
de leite pelos mamilos da mulher.
Manifestações
músculo-esqueléticas:
·
Artralgias (dores nas
articulações).
·
Artrite
(inflamação nas articulações).
·
Artrose.
·
Artropatia (geralmente não
inflamatória) de grandes articulações periféricas: ombros, joelho e quadris.
·
Osteoartrite.
·
Formigamentos
pelo corpo.
·
Alterações
de sensibilidade da pele.
·
Síndrome
do túnel do carpo.
·
Osteopenia (diminuição da massa
óssea.
·
Osteoporose.
·
Aumento
de mãos e pés.
Obs: Sem tratamento, os traumas intra-articulares
repetidos e as reações reparadoras que o próprio organismo internamente faz,
levam ao aparecimento de cicatrizes, cistos e formação de osteófitos,
concorrendo para uma doença articular degenerativa.
Manifestações
neurológicas:
·
Dor
de cabeça persistente; em muitos casos a cefaléia é decorrente da pressão do
tumor da hipófise no sistema nervoso central.
·
Aparecimento
de parestesias.
Manifestações
oftálmicas:
·
Distúrbios
visuais e redução do campo visual.
Manifestações
respiratórias do trato superior:
·
Obstrução
de vias aéreas devido ao edema e aumento do palato mole; edema e colapso das
paredes faríngeas
e da macroglossia (aumento da língua).
·
Macroglossia: aumento das
dimensões da língua.
·
Dificuldade
de respiração durante
o sono.
·
Voz
mais grave devido ao espessamento das cordas vocais.
·
Aparecimento
da Síndrome de Apnéia do Sono.
·
Espessamento
do maxilar, mandíbula e hióide.
·
Protusão mandibular.
·
Rotação
dorso-caudal da mandíbula.
·
Presença
de bócio.
Manifestações
respiratórias do trato inferior e da caixa torácica:
·
Estreitamento
das pequenas vias aéreas.
·
Desarranjo
dos músculos respiratórios.
·
Aumento
dos corpos vertebrais.
·
Espessamento
dos discos intervertebrais cervicais.
·
Cifoescoliose torácica.
·
Alongamento
e divergência das costelas.
·
Aumento
do volume pulmonar.
·
Aparecimento
de enfisema bronquiectasia.
Manifestações
decorrentes da expansão do tumor hipofisário:
Expansão
supra-selar:
·
Cefaléia.
·
Hemianopsia bitemporal.
·
Hipertensão
intracraniana.
Expansão para-selar:
·
Oftalmoplegia.
·
Dor
facial.
Expansão
infra-selar:
·
Rinorréia liquórica.
Diagnóstico
A Acromegalia por ser uma doença de
apresentação clínica insidiosa, o diagnóstico geralmente é feito após 4 a 10
anos desde o início da doença. Uma das características
clínicas mais marcantes na Acromegalia é a desfiguração cosmética; entre as
principais manifestações sistêmicas, as manifestações articulares, a neuropatia
e a cardiopatia são as mais comuns.
·
Anamnese
rigorosa.
·
Exame
físico completo.
·
Exame
clínico.
·
Exames
laboratoriais.
·
Dosagens
de GH (valores superiores a 1ng/mL em todos os tempos).
·
Dosagem
da IGF-1 (somatomedina C): os valores aparecem
aumentados em relação ao valor normal para a idade e sexo na acromegalia. A dosagem normal de
IGF-1 descarta o diagnóstico.
·
Prova
de intolerância à glucose (75g)
Quando
o diagnóstico é confirmado para Acromegalia, outra bateria de exames deve ser
feita para verificar e detectar a presença de tumores na hipófise ou em
localizações mais raras.
·
TC
- Tomografia Computadorizada.
·
RNM
– Ressonância Nuclear Magnética.
·
Ultrassonografia.
Tratamento
Médico especialista: Endocrinologista.
Objetivos: O objetivo do
tratamento é reverter ou melhorar os
sinais e os sintomas da doença;
reduzir as concentrações de GH e de IGF-1 para os níveis normais; preservar as funções hipofisárias e aliviar a pressão que os tumores situados na hipófise possam
exercer sobre o nervo óptico e áreas cerebrais vizinhas.
O
Ministério da Saúde tem dentro das suas Secretárias de Assistência a Saúde, Protocolo Clínico e
Diretrizes Terapêuticas para o tratamento da Acromegalia, fornecendo os
medicamentos preconizados para o tratamento da doença.
Tratamento clínico: três tipos de
medicamentos são empregados no tratamento clínico da doença:
Agonista dopaminérgicos: têm pouca eficácia; são
usados preferencialmente quando os níveis de prolactina
estão aumentados.
·
Bromocriptina (Parlodel ®).
·
Cabergolina (Dostinex ®).
Análogos da somatostatina: constituem o tratamento clínico de primeira linha;
este grupo de medicamentos são dotados da propriedade
de regular a produção de GH e o crescimento celular.
·
Octreotida (Sandostatin® S.C
e Sandostatin LAR®).
·
Lanreotide (Somatuline® SR e
Autogel ®)
Obs: O Sandostatin LAR
é medicamento (ocreotida) de liberação prolongada.
Antagonista
do receptor de GH: são medicamentos úteis quando existe resistência aos
análogos da somatostina, embora normalizem os níveis
de IGF-1 em cerca de 95% dos casos, seu efeito sobre o
crescimento dos tumores hipofisários é questionável.
·
Pegvisomant (Somavert®).
Obs: Nos
últimos 10 anos, a aplicação de octreotida por via
intramuscular tornou-se a forma de tratamento clínico da Acromegalia mais
prescrito e indicado pelos especialistas. A administração de octreotida, além de reduzir os níveis de GH e de IGF-1,
reduz o volume tumoral, diminui os índices de mortalidade, as complicações
cardíacas, as complicações respiratórias em cerca de 70% dos pacientes, além de
ser bem tolerado. A administração da
preparação de depósito, deve ser realizada por um enfermeiro ou médico bem treinado
devido ao difícil processo de reconstituição da droga. As doses devem ser
ajustadas para a função renal.
Tratamento radioterápico: é um tipo de tratamento que não deve ser usado como
primeira opção terapêutica, exceto quando os tumores não possam ser removidos
na cirurgia, quando a doença persista depois da operação, quando o tratamento
com medicamentos falhe ou quando os pacientes recusarem outras opções. Na medida em que pacientes com a doença ativa após cirurgia
não têm perspectiva de cura com o tratamento farmacológico, em pacientes não
curados pela cirurgia pode ser indicada radioterapia sobre a hipófise
conjuntamente com o tratamento farmacológico, embora hipopituitarismo
e neoplasias possam advir.
Geralmente, a radioterapia está reservada para os casos em que não se atinge o
controle da doença com as terapias cirúrgicas e medicamentosa.
Depois do tratamento radioterápico, a função hipofisária costuma diminuir gradativamente, decorridos 10
anos, cerca de 70% dos pacientes necessitam de reposição hormonal prolongada.
Tratamento cirúrgico: a cirurgia tem
índices de cura de 80% a 90% nos casos específicos em que os adenomas (tumores
benignos de aspecto glandular) medem menos de 1 cm.
Quando ultrapassam essa dimensão, os índices caem para menos de 50%. Quando a
cirurgia é realizada com sucesso, a aparência facial e o inchaço dos tecidos
começam a melhorar em poucos dias. A principal complicação cirúrgica é a lesão
do tecido hipofisário adjacente, que pode exigir reposição hormonal
para o resto da vida.
Prognóstico: Os portadores de
Acromegalia que não fazem qualquer tipo de tratamento apresentam índices de mortalidade muito elevado, aumento de dois a
quatro vezes comparado com a população em geral.
O
melhor fator de bom prognóstico é o nível de GH inferior a 2-2,5µg/L. Quanto mais alto os níveis de GH e de IGF-1, maior
será a probabilidade de surgirem complicações, conseqüentemente aumentando as
taxas de mortalidade.
A
redução da expectativa de vida gira em torno de 10 anos.
A
relação entre Acromegalia e risco de câncer ainda não estão bem avaliados.
As
causas de morte mais comuns nos portadores de Acromegalia estão relacionados a problemas
cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias.
Os
fatores que podem contribuir para o aumento da mortalidade:
·
tempo de duração dos sintomas antes do
diagnóstico;
·
aumento dos níveis de GH e suas complicações;
·
a duração da doença;
·
idade avançada quando do diagnóstico;
·
presença de câncer;
·
doenças respiratórias;
·
doenças associadas: cardiopatias, diabetes,
problemas cardiovasculares e de hipertensão.
Dados
estatísticos indicam que 60% dos doentes morrem por doença cardiovascular, 25% por doença
respiratória e 15% por doença neoplásica.
Pacientes
cardíacos com diagnóstico de Acromegalia, a taxa de mortalidade em 15 anos é de
100%.
Controle do paciente: O benefício esperado com o tratamento é a normalização dos
níveis de GH (níveis abaixo de 2,5ng/ml por radioimunoensaio ou abaixo de 1ng/mL por ensaios imunoradiométricos ou quimiluminescência) e de IGF-I em
relação a idade e sexo, com conseqüente melhora de
qualidade de vida, dos sinais e sintomas. Teste supressão do GH e dosagem IGF-I
devem ser realizado mensalmente; não havendo resposta ao tratamento após 3 meses de dose máxima, quando utilizado preparações de
depósito, ou em 1 mês, quando utilizado terapia subcutânea diária, este deve
ser suspenso. Havendo resposta, deve ser realizado acompanhamento a cada quatro
meses com avaliação clínica e laboratorial.
Seqüelas
A Acromegalia pode deixar no portador várias
seqüelas importantes:
·
Riscos
de deformidades.
·
Aumento
das extremidades.
·
Apnéia do sono.
·
Hipertensão
arterial crônica.
·
Diabetes.
·
Alterações
cardiovasculares graves.
·
Alterações
respiratórias importantes.
Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o glossário geral.