DEPRESSÃO 


Introdução

A Depressão é umas principais manifestações dos distúrbios do humor. A Depressão é um mal cada vez mais comum no mundo moderno. Caracteriza-se por um sentimento de tristeza, com causa óbvia ou não, que se estende por um tempo prolongado e tende à recorrência ou à cronificação em intensidade leve (distmia).  Pode-se manter unipolar, ou complicar-se com doença bipolar (psicose maníaco-depressiva). Menos  freqüentemente apresenta-se como um distúrbio auto-limitado e isolado na vida do indivíduo.

O cérebro é formado por células, os neurônios, que se comunicam por meio de substâncias chamadas neurotransmissores. Quando uma pessoa está em depressão, alguns neurotransmissores, por algum motivo, não circulam como deveriam.  Muitas vezes a doença começa devido a algum  problema externo, mas com o tempo vai se tornando física. Úlceras, infarto e gastrite, por exemplo, são desencadeados por estresse, que podem ter origem na Depressão.

Os clínicos geralmente sentem-se desconfortáveis em lidar com queixas e sintomas de natureza emocional, por não serem fenômenos tangíveis ou mensuráveis através de exames complementares. Mas no entanto, os médicos devem se lembrar que há distúrbios de natureza clínica que podem começar com sintomas depressivos. Sem tratamento a Depressão pode trazer graves conseqüências à saúde, e comprometer os relacionamentos sociais das pessoas.

Uma simples tristeza não pode ser definida como Depressão. Depressão não é tristeza. O indivíduo pode estar triste ou até muito triste, estar em estado depressivo, mas necessariamente isso não significa que esteja com depressão. Em algumas situações, esperar pelo pior, culpar-se pelos contratempos e cultivar sentimentos negativos podem levar à Depressão.

Incidência

Os cinco países com a maior porcentagem de deprimidos, segundo estudo da OMS e da Universidade Harvard:

Causas

Os fatores que podem causar Depressão podem ser variados, mas esses fatores ainda não são conclusivos: 

Outras doenças, também podem ser a causa, assim como o stress intenso em pessoas mais sensíveis e vulneráveis. Porém, não existem causas determinadas da Depressão. Estudos indicam que na Depressão  patológica, ocorre a deficiência de determinadas substâncias no cérebro (serotonina, noradrenalina e dopamina), embora não seja possível afirmar que, seja esta a causa da Depressão.

Como age a Depressão no organismo

Embora seja desencadeada por um desequilíbrio na atividade química do cérebro, a Depressão normalmente tem causas externas e pode afetar todo o organismo. As etapas do efeito depressivo no organismo são as seguintes:

1. Quando o cérebro detecta uma situação estressante ou angustiante, estruturas como a hipotálamo, a amídala e a glândula pituitária ficam em alerta. Elas trocam informações entre si e enviam sinalizadores químicos e impulsos nervosos que preparam o corpo para os momentos difíceis.

2.  As glândulas supra-renais reagem ao alerta liberando adrenalina, o que faz o coração bater mais rápido e os pulmões trabalharem mais para oxigenar o corpo. As células nervosas liberam noradrenalina, que tensiona os músculos e aguça os sentidos. A digestão fica prejudicada, o que pode provocar enjôos.

3.  Depois que a influência externa passa, os níveis hormonais caem, mas se as crises forem muito freqüentes tais substâncias podem danificar as artérias. Casos crônicos levam a um sistema imunológico enfraquecido, perda de massa óssea, supressão da capacidade reprodutiva e problemas de memória.

Fatores desencadeantes

Graus

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os graus de Depressão  dependendo da gravidade:

Leve:  O indivíduo se sente incomodado, triste e apresenta um cansaço inexplicável, mas continua mantendo suas atividades normalmente.  Geralmente, quem percebe a mudança são os amigos, colegas de trabalho  e familiares mais próximos.

Moderada: A Depressão nesses casos compromete o indivíduo mais nas relações sociais, familiares e profissionais.  Nessa fase, o indivíduo fica mais lento em determinadas situações e perturbado,  nervoso e impaciente em outras,   sendo que a concentração tanto no trabalho como nas suas atividades diárias, fica aparentemente prejudicada.

Grave:  O indivíduo começa a ficar impossibilitado de manter as atividades habituais, reduzindo-as ou interrompendo-as. Pode em alguns casos mais graves, oferecer risco de suicídio, períodos de alucinação e delírio que podem comprometer tanto a sua vida como a dos outros. Nestes casos específicos, existe a necessidade de tratamento  medicamentoso e cuidados especiais,  podendo resultar em internamento.

Depressão e a dor

Quando ocorre uma situação em que o indivíduo sente dor, mecanismos no organismo liberam substâncias para regular a intensidade da dor. O sistema nervoso central processa a informação da dor, e modula sua resposta por meio  de seu curso descendente. A serotonina e a noradrenalina são os neurotransmissores que regulam a intensidade dessa resposta, além de fazer parte do sistema analgésico do corpo. Um volume menor desses neurotransmissores na coluna vertebral,  leva a uma maior sensibilidade, fazendo a pessoa sentir mais dor.  Como a Depressão diminui a serotonina e a noradrenalina, o indivíduo com Depressão, logicamente irá sentir um nível de dor mais intenso.

Depressão e o idoso

Nos idosos, é comum a Depressão se associar a algum problema físico, doença ou incapacitação.  Muitas vezes, um problema físico termina escondendo a Depressão. Por apresentarem características singulares em relação a outras faixas etárias, os idosos necessitam ainda mais de atenção no diagnóstico e tratamento. A Depressão é o transtorno mental de maior impacto na qualidade de vida das pessoas idosas. Especialistas estimam que 8% das pessoas adultas sofram um quadro depressivo em algum período da vida, mas apontam a prevalência dos sintomas nos idosos. Cerca de 30% das pessoas idosas que procuram um médico apresentam formas brandas de depressão, mas que podem prejudicar a qualidade de vida dessas pessoas.

Aqueles idosos que apresentam a Depressão  em um estágio mais grave, estão mais aptos a apresentar quadro de demência, caracterizada por alterações cognitivas como perda de memória e de habilidades, além de mudanças comportamentais que comprometem o convívio social do paciente.

No Brasil, a Depressão é tratada como um problema de saúde pública. O Sistema Único de Saúde prevê assistência psiquiátrica hospitalar gratuita aos portadores.

Depressão pós-parto

A Depressão pós-parto é caracterizada por um conjunto de fatores que dificultam a relação entre a mãe e o bebê, impedindo-a de cuidar do filho como deveria. Estatísticas mundiais mostram que 10% a 15% das mulheres sofrem de depressão pós-parto. O somatório de fatores que levam à Depressão pós-parto envolve modificações corporais e hormonais ligados à gravidez, além de todas as questões simbólicas relacionadas à vinda de um novo ser ao mundo.

Os sintomas são parecidos com os de uma Depressão normal, como tristeza excessiva, vontade de morrer, irritabilidade, e cansaço constante, além do desinteresse pelo bebê. Para a mulher com Depressão pós-parto é de fundamental importância, a presença da família e do pai da criança, para que percebam o problema e relatem ao médico, possibilitando o tratamento o mais rápido possível.

O tratamento da Depressão pós-parto pode se dar à base de medicamentos e da abordagem psiquiatra e psicanalítica. O tratamento farmacoterápico são indicados para os casos mais graves, quando há risco iminente de morte ou ferimentos para a mãe ou para o bebê. Existem ainda situações, em que o quadro é agravado com psicose, delírios e ruptura com a realidade, sendo necessária a intervenção de remédios antipsicóticos e tratamento psiquiátrico.

Depressão e a criança

Entre as crianças, os sintomas da Depressão se manifestam de forma diferente. Na maioria das vezes, há mais queixas físicas do que psíquicas. Há diferenças entre meninos e meninas. Em geral, eles ficam mais agressivos, irritados e apresentam problemas de conduta na escola. As meninas ficam apáticas, introvertidas, angustiadas, têm um choro fácil e se isolam.

Muitos pais, confundem Depressão no seu filho, com uma doença orgânica ou com a turbulência emocional comum entre adolescentes. Os sintomas são muito parecidos: mudança repentina de humor, tristeza, irritabilidade, alterações do sono e de alimentação.  Muitos casos de Depressão em crianças e adolescentes têm como causa a desestruturação familiar decorrente de uma separação dos pais, excesso de álcool (geralmente relacionado ao pai), desemprego de quem sustenta a família ou o  uso de drogas por algum membro da família. Outro fator muito desencadeante de Depressão entre as crianças e adolescentes, é a perda de entes queridos.

Como as crianças têm dificuldades de expressar o que sentem, os sintomas psicossomáticos e psíquicos podem ajudar os pais a identificar a doença. A combinação de mais de um dos sintomas abaixo pode ser indício de um início de Depressão na criança. O especialista deve ser contatado.

 

Faixa etária 3 a 6 anos 7 a 10 anos 11 a 14 anos
Sintomas psíquicos Agitação, inibição psicomotora Irritabilidade, insegurança, sentimento de culpa, comportamento arredio, problemas na aprendizagem Sentimentos de inferioridade, abatimento, introspecção, impulsos suicidas
Sintomas psicossomáticos Choro sem razão aparente, alteração de sono, falta de apetite Terror noturno (pesadelos), insônia, manipulação genital, dores abdominais Cefaléia (dor de cabeça)
Tratamento Apenas Psicoterapia Apenas Psicoterapia Psiquiatria e/ou Psicoterapia e antidepressivos

 

Sinais de alerta da Depressão entre crianças e jovens

Os pais devem ficar atentos às mudanças na conduta habitual do filho:

Entre crianças:

Entre jovens:

Diferença entre Depressão,  tristeza e o estresse

A tristeza é um dos vários sintomas da Depressão, mas estar triste não é sinônimo de estar deprimido. Tristeza não é uma doença, mas um sentimento normal em situações de perda, luto, frustração e insucesso.  Outro equívoco comum, é confundir Depressão com estresse. Uma diferença fundamental importante é que o estresse pode ser eliminado com atividades relaxantes, enquanto na Depressão elas não são suficientes.

 

Depressão:

Tristeza:

Estresse:

Sinais e sintomas

Sintomas emocionais:

Sintomas físicos:

Fase aguda:

Nessa fase, em alguns casos, a pessoa além de apresentar vários sintomas físicos e emocionais, também apresenta períodos de auto-agressão, de auto-mutilação e em casos mais graves,  tentativa de suicídio.

Diagnóstico

Um sinal ou um sintoma isolado não basta para o diagnóstico de Depressão. A doença se caracteriza por um conjunto de sintomas.

Os exames clínico, físico e laboratoriais, geralmente são feitos para descartar outras doenças.

Tratamento

Médicos especialistas:  Psiquiatra e Psicanalista. Dependendo da evolução da Depressão, outros especialistas podem ser indicados para o tratamento.

 

Objetivo:  Identificar e tratar da causa da Depressão e combater o estado de tristeza e desânimo. No caso da depressão existem dois fatores  fundamentais no tratamento:  a relação de confiança entre médico e paciente e a vontade de ficar bom.

O tratamento pode ser feito de duas maneiras, isoladas ou combinadas. A primeira delas é a psicoterapia, que irá tratar das causas. A segunda são os antidepressivos, remédios que corrigem o metabolismo dos neurotransmissores, normalizando a atividade cerebral.  Ao contrário do que muitos leigos e alguns terapeutas ainda acham, se a depressão apresenta certo grau de intensidade, a medicação tem prioridade absoluta com relação à terapia.

Tratamento psiquiátrico e psicológico: Dependem basicamente dos fatores que desencadearam a Depressão e do grau  de gravidade que o portador apresenta.

Tratamento medicamentoso: Em relação ao tratamento medicamentoso, os mais utilizados atualmente são os antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina, chamados de medicamentos de dupla ação. Os desequilíbrios nas duas substâncias não são a causa da doença, mas são responsáveis por vários sintomas físicos e emocionais, no paciente deprimido. Esses antidepressivos bloqueiam  os receptores de serotonina e noradrenalina,impedindo sua recaptação, o que aumenta sua oferta na área de ligação dos neurônios.

Efeitos colaterais dos medicamentos antidepressivos. Esses efeitos geralmente aparecem em 15% dos pacientes medicados.

Aparelhos usados no tratamento da depressão:

A estimulação magnética transcraniana  (EMT) é uma técnica nova que consiste na aplicação de pulsações magnéticas repetitivas, produzidas por uma máquina, em uma região específica do cérebro relacionada á ocorrência da depressão. As pulsações geram uma corrente elétrica que ativa os circuitos neurais e restaura a atividade plena dessa região.  Essa técnica ainda é usada em caráter experimental no Brasil. Em São Paulo os médicos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas,  também usam de forma experimental.

Vagus Nerve Stimulation (VNS): É um aparelho parecido com um marcapasso que é implantado no tórax do paciente. Seus impulsos elétricos estimulam o nervo, que influencia a região cerebral responsável pelas emoções, e na qual ocorrem os processos depressivos. Empregado com sucesso contra a Epilepsia, recentemente, foi aprovado também para pacientes com Depressão severa que não respondem ao uso de antidepressivos. Ainda não disponível no Brasil, custa 20.000 dólares.

Eletroconvulsoterapia (ECT):  Estigmatizada no passado, devido à aplicação de choques elétricos nas têmporas dos pacientes, a técnica se modernizou, e é considerada eficaz em certos casos, como depressões graves e resistentes a medicamentos.

Tratamento psicoterápico:  Enquanto o tratamento medicamentoso atua sobre as conseqüências da Depressão, a Psicoterapia tenta elucidar suas causas. 

Psicoterapia cognitiva: Esta modalidade de terapia, se baseia  no princípio de que os problemas emocionais são causados por padrões de pensamento distorcidos, que o paciente tem a respeito de si mesmo, dos outros e da realidade à sua volta. Por meio de técnicas verbais ensinadas pelo terapeuta, ele aprende a identificar e modificar esses pensamentos.

Psicoterapia individual: Apenas uma pessoa é atendida nas sessões, cuja duração média é de 50 minutos. Na psicanálise, o paciente fica deitado num divã, sem ver o terapeuta, que, sentado atrás dele, mais ouve do que fala. Nas demais correntes teóricas, os dois ficam sentados e a conversa, cara a cara, tem uma participação maior do profissional. É um trabalho praticamente verbal, mas o especialista pode recorrer a outras formas de expressão, pedindo ao paciente, por exemplo, que faça desenhos ou represente situações usando objetos do consultório.

Obs:  Todo o paciente  que faz psicanálise está se submetendo a um processo psicoterapêutico, ou seja, Psicoterapia. Mas, não são todos os tipos de Psicoterapia, que têm como base teórica a psicanálise.

Terapias alternativas ou complementares: Essas terapias não devem funcionar como tratamento,  e sim como um complemento ao tratamento.

Obs:  Estudos mostram que, entre os pacientes que ficaram com sintomas residuais após o tratamento, 94% reclamavam de dores físicas, sendo que os que ficaram com esse tipo de problema têm 70% de chance de recaída.  Na maioria dos casos de recaída, a Depressão  e toda a sua sintomatologia física e emocional vem com mais intensidade.

Estudos também comprovam que uma Depressão prolongada,  provoca  danos ao cérebro, que vai ficando menor e perde sua plasticidade, ou seja, sua capacidade de se recuperar de lesões diminui.

Complicações

A Depressão quando não tratada adequadamente, pode levar a pessoa a um estado depressivo patológico grave, que pode desencadear outros distúrbios neurológicos e físicos graves.

Neurológicos:

Físicos:

Fatores que podem agravar a doença

Prevenção

Não existe prevenção para a Depressão, mas existe algumas maneiras de tentar evitar que ela se instale:


Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o glossário específico de Doenças Neurológicas.