ENDOMETRIOSE
Introdução
A Endometriose pode ser definida como uma porção do endométrio (camada de tecido mucoso que forra internamente o útero) com crescimento excessivo e que, devido a estímulos hormonais acima do normal, adquire a capacidade de se desenvolver fora de seu habitat. E a causa desencadeante é sempre uma hiperfunção dos ovários, que produzem uma quantidade excessiva de hormônios.
A Endometriose se caracteriza pela migração de fragmentos de endométrio, o tecido que reveste a parede interna do útero, para outros órgãos, como as trompas, os ovários, o intestino, a bexiga e o fígado. Por ordem de freqüência, a endometriose pélvica envolve o ovário, ligamentos uterossacrais, fundo-de-saco, septo retovaginal, peritônio uterovesical, colo, superfície externa do útero, umbigo, tecido cicatricial de laparotomia, sacos herniários e apêndice.
A Endometriose é dolorosa, porque sofre a influência das oscilações hormonais., isto é, os focos de endometriose sangram todo mês durante o período menstrual, mas o sangue não tem para onde ir.
Sintomas mais freqüentes e que devem deixar a mulher alerta são dor cíclica dentro do período menstrual, e que não melhora com tratamento de rotina, e na relação sexual. A Endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina. Quanto mais tarde o diagnóstico, mais difícil é o tratamento e maiores os riscos de seqüelas.
Incidência
- Maior incidência entre pacientes que geram filhos tardiamente e entre aquelas que tiveram menos filhos.
- Mais comum em mulheres cujas parentas próximas foram afetadas pela doença.
- Baixa incidência em mulheres da raça negra.
- Maior freqüência em mulheres entre 30 e 45 anos.
- Cerca de 40% das portadoras ficam inférteis, principalmente por obstrução das trompas e comprometimento dos ovários.
- Estima-se que 1% dos casos pode evoluir para câncer.
Causas
As origens da Endometriose ainda não foram totalmente definidas. Uma delas tem por base a atividade menstrual.
Restos de tecidos embrionários podem recobrir o peritônio pélvico e os ovários e se diferenciar em conseqüência do estímulo hormonal.
Fisiopatologia
Endométrio é a camada interna do útero que é renovada mensalmente pela menstruação. Estimulado mensalmente pelo estrógeno produzido nos ovários, o endométrio ganha uma camada mais grossa com o objetivo de preparar o útero para abrigar um embrião. Normalmente, quando não ocorre a fecundação, essa camada extra se desfaz e é eliminada pela menstruação. Nas mulheres com Endometriose, mesmo fora do útero, os fragmentos de endométrio continuam respondendo aos estímulos hormonais durante o período menstrual.
Num esforço para eliminar esses focos de tecido, o sistema imunológico causa processos inflamatórios. O resultado são nódulos, dores fortes, sangramento e até a destruição de algumas porções dos órgãos afetados, o que não rara leva à infertilidade. Isso porque as trompas podem se ligar aos ovários ou ao intestino, por exemplo, impedindo tanto a liberação quanto a passagem dos óvulos.
Fatores de risco
- Ciclo menstrual mais curto, menor que 27 dias.
- Fluxo menstrual maior que 7 dias.
- Idade mais jovem na menarca (primeira menstruação).
- Obstrução do efluxo.
Classificação
A Endometriose é classificada como leve, mínima, moderada e severa, conforme a extensão e o tamanho das lesões. Nem sempre o grau da doença é proporcional à intensidade das dores. Em alguns casos uma mulher com Endometriose severa, por exemplo, não sente, necessariamente mais desconforto que a portadora da forma leve. Às vezes, nem há dor. E especificamente nestes casos, a doença só é descoberta durante as investigações sobre a esterilidade.
Localização
Os locais mais comuns da Endometriose são:
- Ovários.
- Trompas.
- Bexiga.
- Peritônio.
- Fundo de Saco de Douglas (atrás do útero).
- Septo reto-vaginal (tecido entre a vagina e o reto).
- Superfície do reto.
- Ligamentos do útero.
- Parede da pélvis.
Locais mais distantes:
- Intestino.
- Pulmão.
- Diafragma.
- Apêndice.
- Cicatriz cirúrgica.
Sinais e sintomas
A sintomatologia varia conforme a localização do tecido endometrial.
- Dismenorréia (dor menstrual).
- Dor em localização profunda na parte inferior do abdome, vagina, parte posterior da pelve e costas, que ocorre 1 ou 2 dias antes do ciclo menstrual e dura 2 ou 3 dias.
- Dor retal.
- Sangramento uterino anormal.
- Menstruação excessivamente dolorosa (endometriose nas paredes musculares do útero, formando nódulos, denominados de adenomiomas)
- Dores que aumentam nos dias que antecedem e acompanham a menstruação (endometriose localizada nas trompas ou nos ovários).
- Dor ao urinar e sinais de cistite (endometriose localizada na bexiga).
- Diarréia (endometriose localizada no intestino).
- Dispareunia (relação sexual dolorosa).
- Náuseas e diarréia: devido ao excesso de prostaglandina liberada das células que estão semeadas.
Obs: A dor da endometriose começa, com freqüência, antes do início da menstruação, tornando-se progressivamente maior até o início do sangramento, diminuindo, gradativamente após. A dor crônica pode levar a mulher a ter distúrbios do sono, alterações do humor, depressão, tensão pré-menstrual e dores nas costas.
Diagnóstico
· Anamnese.
· Exame físico.
· Exame clínico.
· Exame ginecológico.
· Exame pélvico.
· Exames laboratoriais.
· Dosagem do CA125, um marcador tumoral, que nos casos de endometriose está aumentado.
· Pesquisa de anticorpo anti-endométrio.
· Ultra-sonografia pélvica.
· Tomografia computadorizada.
· Ressonância magnética.
· Videolaparoscopia pélvica diagnóstica: procedimento cirúrgico que serve para avaliar a cavidade pélvica e abdominal, examinar a a parte externa do útero, verificar a extensão da doença e planejar o tratamento.
Eco-colonoscopia: exame de ultrassom associado à endoscopia retal.
Tratamento
Objetivo: Reverter ou limitar a progressão da doença.
O tratamento depende dos sintomas da paciente e do desejo de engravidar, bem como da extensão da doença.
Os medicamentos para o tratamento da Endometriose têm por objetivo interromper a produção do hormônio estrógeno pelos ovários ou inibir sua ação sobre a parede do útero, o endométrio e diminuir a dor. As principais formas de terapia são:
Tratamento farmacológico: Administração de medicamentos analgésicos e inibidores de prostaglandina, para diminuir a dor.
Tratamento hormonal: A terapia hormonal é efetiva na supressão da Endometriose e no alívio da dismenorréia (dor menstrual). Esse tratamento consiste em neutralizar a ação do hormônio estrógeno.
DIU de progesterona: O Dispositivo intra-uterino de progesterona é uma opção no tratamento da doença. A liberação constante de progesterona bloqueia a ovulação e impede o crescimento do endométrio. Como o método requer pequenas doses de hormônio, seus efeitos colaterais tendem a ser menores do que os provocados pelo métodos tradicionais. Cada implante dura cinco anos.
Análogos de GnRH: Sob a forma de injeções mensais, esses remédios inibem a produção de GnRH (gonadotrofina), substância que dispara o comando cerebral para a produção de estrógeno. Se usados, no entanto, por mais de nove meses, podem levar à menopausa química, com quadros severos de osteoporose, ondas de calor, ressecamento vaginal, entre outros sintomas.
Á base de goserelina: O hormônio goserelina leva a um bloqueio da hipófise e a um bloqueio ovariano, fazendo com que o ovário não produza o estradiol. É como se houvesse uma menopausa medicamentosa ou artificial. No caso da Endometriose a goserelina auxilia o tratamento inicial. A conduta posterior depende dos sintomas que a paciente venha a ter ou a vontade de engravidar. O tratamento leva em média seis meses. O tratamento deve ser bem avaliado pelo ginecologista devido aos efeitos colaterais e risco de osteoporose.
Anticoncepcionais orais ou injetáveis: O uso de pílulas ou injeções á base de estrógeno e progesterona ou apenas de progesterona é indicado sobretudo para mulheres jovens. Esses medicamentos interrompem ou regularizam a menstruação, preservando a parede uterina da ação do estrógeno.
Contra-indicação para a terapia hormonal:
- História de sangramento vaginal anormal.
- Doença hepática.
- Doença renal.
- Doença cardíaca.
Efeitos colaterais da terapia hormonal:
Dependendo do medicamento hormonal utilizado, pode ocorrer os seguintes efeitos colaterais:
- Fadiga.
- Depressão.
- Ganho de peso.
- Pele oleosa.
- Diminuição do tamanho da mama.
- Acne branda.
- Ondas calor (fogacho).
- Atrofia vaginal.
- Amenorréia.
- Ressecamento vaginal.
- Insônia.
- Nervosismo.
Obs: Muitas mulheres continuam o tratamento hormonal, apesar dos efeitos colaterais, e os sintomas diminuem em 80% a 90% das mulheres com Endometriose branda a moderada.
Em casos graves de Endometriose a gravidez só será possível através de técnicas de fertilização assistida e inseminação artificial.
A gestação alivia os sintomas porque nem a ovulação nem a menstruação acontecem.
Tratamento cirúrgico: Quando o tratamento medicamentoso e hormonal não surtem os efeitos desejados, a cirurgia pode ser necessária para aliviar a dor e aumentar possibilidade de gestação.
Laparoscopia. Através da cirurgia laparoscópica os implantes endometriais são cortados e cauterizados através de uma corrente de alta freqüência e também serve para liberar as aderências. O laser também pode seu usado via laparoscópica vaporizando ou coagulando os implantes endometriais, destruindo o tecido.
Laparotomia. procedimento cirúrgico para verificar a cavidade abdominal e identificar os implantes endometriais.
Histerectomia abdominal: procedimento cirúrgico para retirada do útero.
Ooforectomia: procedimento cirúrgico que consiste na retirada de um ovário.
Salpingectomia: procedimento cirúrgico para a retirada da tuba de Falópio.
Salpingo-ooforectomia bilateral e omentectomia: procedimento cirúrgico para retirada das tubas de Falópio, ovários e do omento.
Nas pacientes com desejo de engravidar a cirurgia conservadora tem papel fundamental na tentativa de restituir uma normalidade da anatomia pélvica, aumentando as chances de gravidez.
O tratamento definitivo da Endometriose é a retirada cirúrgica do útero (histerectomia total), ovários e trompas, ou a instalação da menopausa. Quando a afecção localiza-se em órgãos como reto, intestino, bexiga e outros, a solução cirúrgica é mais complicada porque exige mutilação tão grande que aumenta o risco operatório e diminui as possibilidades de sobrevida. Nesses casos pode ser necessária a castração cirúrgica, com a retirada dos ovários. A medida provoca uma menopausa artificial, que cessará a ação hormonal e dará fim à Endometriose justamente pela falta de estimulação do tecido anômalo.
Seqüelas
A Endometriose não tratada pode causar algumas seqüelas na mulher:
- Infertilidade.
- Osteoporose.
- Complicações na gravidez.
Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o Glossário geral.