SEPSE
Definição
Sepse
por definição corresponde a uma resposta inflamatória desordenada do organismo
em reação a um determinado microrganismo.
A Sepse ou Septicemia é um conjunto de manifestações patológicas graves
em todo o organismo produzidas por uma infecção, devida a invasão por via
sanguínea no organismo, por germes patogênicos provenientes de um foco
infeccioso. A infecção pode estar apenas
em um órgão, mas a resposta exacerbada do organismo para combater a infecção,
pode vir a comprometer o funcionamento de vários órgãos vitais do corpo, o qual
em alguns casos pode causar choque circulatório, alterações na coagulação e
falência múltipla de órgãos.
A
gravidade do quadro do
paciente com Sepse depende de inúmeros
fatores, dentre os quais a virulência do organismo agressor e fatores
relacionados ao hospedeiro, tais como idade, genética, sítio da infecção e
presença de comorbidades.
Numa
fase avançada, o paciente apresenta um estado de incompetência imunológica, com
predomínio de um estado de imunossupressão muitas vezes irreversível.
Quando mais grave for a Sepse, maior será o risco de
morte. Diagnóstico e tratamento precoce constituem as principais armas para a
redução da mortalidade devido a Sepse.
Sinonímia
A
Sepse também é conhecida como:
·
Infecção
Generalizada.
·
Sepsis.
·
Septicemia.
Incidência
·
No Brasil, a Sepse é considerada uma das
principais causas de morte em UTI.
·
A Sepse é a principal causa de morbidade e
mortalidade em UTI’s não coronarianas em todo mundo,
especialmente em decorrência de disfunção de múltiplos órgãos.
·
A Sepse é uma das principais causas de
mortalidade hospitalar tardia, superando o infarto do miocárdio e o câncer.
·
Pessoas em que o sistema imune está suprimido
por tratamento ou doença apresentam maior risco para desenvolver Sepse.
·
A taxa de mortalidade por Sepse no país chega
a 65% dos casos, quando a média mundial gira em torno de 30% a 40%.
·
A incidência de Sepse grave no país é em
torno de 27% em pacientes com mais de 24 horas de internação em UTI.
·
No sistema público, o paciente com Sepse
demora em média 24 horas na emergência dos hospitais públicos antes de ir para
a UTI. No sistema particular ou na rede particular de saúde a média é de seis
horas.
·
O Brasil e a Malásia são os primeiros do
ranking de 37 países em número absoluto de mortes por Sepse.
Causas
A
causa da Sepse é a infecção por um microorganismo. Dependendo da reação do
organismo em combater essa infecção, a resposta é uma inflamação que pode vir a
comprometer o funcionamento de vários órgãos importantes. Estudos indicam que o aumento na ocorrência
de Sepse pode estar sendo causado por organismos resistentes à maioria dos
antibióticos.
Patogenia
A patogenia
está associada à modificações hemodinâmicas,
distúrbios da microcirculação
e alterações celulares que levam a um desequilíbrio entre o fluxo sanguíneo e
os requerimentos metabólicos tissulares acarretando a disfunção de múltiplos
órgãos, responsável pela forma agressiva e geralmente fatal da Sepse.
Grupo de risco
São
aqueles indivíduos que têm mais chance de desenvolver a doença:
·
Bebês prematuros.
·
Crianças abaixo de dois anos.
·
Pessoas idosas acima de 65 anos.
·
Pacientes hospitalizados que utilizam
antibióticos, cateteres ou sondas.
·
Portadores de imunodeficiência: câncer,
quimioterapia, em uso de corticóide, doenças crônicas e AIDS.
·
Usuários de álcool.
·
Usuários de drogas lícitas e ilícitas.
·
Vítimas de traumatismo, queimaduras,
acidentes automobilísticos, ferimentos à bala.
·
Mulheres que sofreram aborto.
Fatores de risco
São
fatores, procedimentos ou situações que podem aumentar ou contribuir para o
surgimento da doença.
·
Aborto provocado ou espontâneo.
·
Cirurgia de grande porte recente.
·
Colocação de cateter urinário.
·
Desnutrição energético-proteíca.
·
Diabetes mellitus.
·
Endoscopia recente.
·
Febre persistente
·
Infecção de feridas cirúrgicas..
·
Infecção do trato urinário não-responsiva a
antibióticos.
·
Malária.
·
Meningite.
·
Nutrição parenteral total em UTI
·
Osteomielite.
·
Pancreatite aguda grave.
·
Peritonite bacteriana.
·
Pneumonia bacteriana recente.
·
Procedimento cardiovascular recente.
·
Terapia recente com antibióticos.
·
Uso de imunossupressores.
·
Uso de cateter venoso central.
Tipos
A
Sepse pode evoluir progressivamente para os seguintes quadros:
1. Síndrome da Resposta Inflamatória
Sistêmica (SIRS): resposta inflamatória
inespecífica do organismo a vários tipos de agressão (pancreatite, trauma,
infarto agudo do miocárdio, entre outras), manifestada por duas ou mais das
seguintes condições:
·
Temperatura
> 38,3°C ou < 36°C
·
Freqüência
cardíaca > 90 bpm
·
Freqüência
respiratória > 20/irpm ou PaCO2 < 32 mm Hg
·
Leucócitos
> 12.000/mm³ ou < 4.000/mm³
ou > 10% de formas jovens.
·
Estado
mental alterado.
·
Hiperglicemia
(>150mg/dl) em não diabéticos.
Obs: A SIRS
desencadeada por infecção caracteriza a Sepse.
2. Sepse não-complicada: SIRS acompanhada de foco infeccioso já diagnosticada ou fortemente
presumida.
3. Sepse grave: é a Sepse associada com
disfunção orgânica, sinais de hipoperfusão (acidose, oligúria, alteração aguda do estado mental, entre outros)
ou hipotensão (PA sistólica < 90 mmHg
ou redução de > 40 mmHg da linha de base, na
ausência de outras causas) , aumento significativo de bilirrubinas, diminuição
da função cardíaca, relação PaO2/FiO2 < 300, contagem de plaquetas <100.000/mm3 ou rebaixamento do nível de consciência.
4. Choque séptico: Sepse grave com
hipotensão refratária a despeito de adequada ressuscitação
hídrica, associada à presença de anormalidades de perfusão e disfunção de
órgãos.
5. Síndrome
de disfunção de múltiplos órgãos: Refere-se a alterações orgânicas em
doente grave que tem choque séptico. Fase avançada de um processo evolutivo que
pode culminar na Insuficiência de Múltiplos Órgãos, irreversível e responsável
pelo óbito do paciente.
Sinais e sintomas
As
manifestações clínicas são variadas e dependentes do sítio de infecção e do
estado geral do paciente.
Sinais
de alerta: são sinais que o indivíduo pode apresentar na fase bem precoce da doença:
·
Tosse.
·
Febre que vai aumentando com o passar das
horas.
·
Mal-estar
geral.
·
Apatia.
·
Fraqueza.
·
Sonolência.
·
Diminuição da urina.
·
Suor excessivo (sudorese).
·
Mãos demasiadamente quentes ou frias.
·
Batimentos cardíacos acelerados.
·
Respiração acelerada.
·
Pressão arterial mais baixa que o normal.
Sepse
não-complicada: SIRS acompanhada de foco infeccioso
·
Temperatura: (acima de 38ºC ou abaixo de
36ºC).
·
Taquicárdia:
aumento dos batimentos cardíacos (acima de 90/bpm).
·
Frequência
respiratória: aumento da respiração (acima de 20/irpm ou PaCO2 < 32 mm Hg).
·
Falta de ar.
·
Calafrios.
·
Letargia (fraqueza).
·
Anorexia.
·
Mialgias (dores musculares).
·
Oligúria
(diminuição da quantidade de urina).
Sepse
grave: todos os sintomas acima mencionados, mais:
·
Disfunção orgânica: cardiovascular,
respiratória, hematológica, renal, metabólica, hepática e neurológica.
·
Hipoperfusão
tecidual.
Choque
séptico: é a piora do quadro da Sepse grave acrescidos de:
·
Hipotensão refratária à reposição de volume.
·
Rebaixamento do nível de consciência.
Diagnóstico
·
Anamnese.
·
Exame físico.
·
Exame clínico.
·
Exames laboratoriais: hemograma, hemocultura,
dosagem de lactato, gasometria, urocultura.
·
Ultrassonografia
abdominal.
·
Exame do LCR (liquor).
·
RX do tórax.
·
Tomografia Computadorizada.
É
obrigatória a coleta de hemocultura quando houver suspeita de bacteremia.
A
acidose metabólica da Sepse caracteriza-se por pH
inferior a 7,35 e excesso de base elevado, com redução do teor do bicarbonato.
Diagnóstico
tardio da Sepse aumenta a morbidade e mortalidade dos pacientes.
Após
o diagnóstico de Sepse o paciente deve ir para UTI imediatamente.
Tratamento
Todo o paciente com infecção deverá ser
avaliado se está ou não em Sepse ou Sepse Grave. O tratamento da Sepse deve ter
uma adequada abordagem terapêutica. A evolução de uma Sepse grave para o choque
séptico tem sido a causa mais freqüente de óbito nas UTI’s. O paciente
deve ser encaminhado para UTI, para que as medidas de suporte de vida sejam
imediatamente implementadas.
·
Antibioticoterapia de
amplo espectro: tratamento com antibióticos que visam combater a infecção.
·
Exames laboratoriais: hemograma, gasometria,
hemocultura, eletrólitos, função renal, bilirrubinas, coagulograma.
·
Reposição de corticosteróides.
·
Reposição de líquidos e eletrólitos.
·
Ressuscitação
volêmica imediata para pacientes hipotensos.
·
Restauração e manutenção da pressão arterial
para níveis normais.
·
Oxigenoterapia.
·
Uso de proteína C ativada (drotrecogina-alfa).
·
Suporte nutricional.
·
Suporte renal.
·
Terapia dialítica: quando for necessário.
·
Transfusão de hemoderivados:
quando for necessário.
·
Passagem de cateter venoso central: se for
necessário.
·
Ventilação mecânica: se for necessário.
·
Drenagem de abscessos, se
for necessário.
·
Desbridamento de
tecido necrótico.
·
Intervenção cirúrgica se for necessário. É
recomendado que a intervenção seja a menos invasiva possível.
·
Ficar atento aos sinais da síndrome do
desconforto respiratório agudo.
·
Monitorização
contínua.
·
Monitorização
rigorosa do controle glicêmico.
·
Sedação e analgesia quando necessário.
Prognóstico: A
detecção o mais rápido possível do foco infeccioso é imprescindível, com a administração
ainda na primeira hora de antibioticoterapia adequada
e de largo espectro, está relacionada a redução da mortalidade e consequentemente a
evolução do prognóstico do paciente.
Uso
de proteína C recombinante ativada (drotrecogina-alfa)
no tratamento da Sepse, ajuda na redução da mortalidade e oferece uma
possibilidade de melhor prognóstico.
A redução do
nível sérico da atividade da proteína C é implicada como fator de risco para maior
mortalidade, influindo negativamente no prognóstico.
A neutropenia e a plaquetopenia
estão associadas a mau prognóstico.
A
Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) está associada a um prognóstico mais
reservado.
A
persistência de hiperlactatemia, é
sinal de mau prognóstico.
Disfunção
progressiva de órgãos é sinal de prognóstico extremamente reservado, que na sua
grande maioria evolui para óbito do paciente.
Fatores
que podem piorar ainda mais o prognóstico da doença são a idade avançada,
presença prévia de outras doenças associadas e deficiência imunológica.
Pacientes
oncológicos que estão em tratamento de câncer ativo e
que se submeteram a cirurgias de grande porte, são particularmente vulneráveis
a complicações infecciosas com evolução para uma Sepse grave.
Pacientes
com AIDS e com infecção oportunista ativa têm maiores chances de desenvolver
uma Sepse e, esta evoluir para a Sepse grave.
Complicações
·
Amputação de membros: em determinadas
situações para combater a infecção o organismo privilegia órgãos vitais, como
coração e pulmão, na passagem de sangue, deixando as extremidades mais
vulneráveis.
·
Choque séptico.
·
Endocardite bacteriana.
·
Evolução do quadro para choque séptico.
·
Falência de órgãos.
·
Formação de abscessos.
·
Hemorragias.
·
Hiperglicemia.
·
Infecção renal aguda não reversível.
·
Insuficiência Respiratória Aguda.
·
Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD).
·
Síndrome da Angústia Respiratória Aguda
(SARA).
·
Trombose Venosa Profunda (TVP).
Obs: Muitas dessas
complicações podem agravar o quadro do paciente ou evoluir para o óbito.
Prevenção
Deve-se
prevenir as infecções, principalmente aquelas de aquisição hospitalar, que são
consideradas mais difíceis de combater, porque os microorganismos são mais
resistentes aos antibióticos.
Implementação
de protocolos e/ou programa de tratamento para a Sepse nos hospitais com o objetivo de
reduzir a mortalidade.
Iniciar
antibioticoterapia de amplo espectro, imediatamente
quando se suspeita de Sepse.
Antibioticoterapia
profilática antes de determinados procedimentos invasivos.
Dúvidas de termos técnicos e
expressões, consulte o Glossário Geral.
Maiores informações sobre Septicemia
Hospitalar, consulte o Menu de Infecção Hospitalar.