CAXUMBA
Definição
É uma doença infecciosa, contagiosa, benigna, auto-limitada que evolui sem intervenção medicamentosa e se cura espontaneamente. É causada por um vírus que causa um inchaço na parótida, sendo esta a forma mais evidente da doença, mas também pode acometer outras glândulas e o Sistema Nervoso Central. Acomete mais as crianças, mas quando ocorre nos adultos tem maior possibilidades de complicações, requerendo maiores cuidados no decurso da doença.
A doença é cosmopolita, endêmica nos grandes centros urbanos, com tendência a manifestar-se sob forma epidêmica em escolas e instituições militares e civis, onde se agrupam adultos jovens. A imunidade transplacentária parece prolongar-se até o sexto ou sétimo mês de vida. É uma doença que pode ser evitada através da vacinação.
Sinonímia
É uma doença também conhecida pelos seguintes nomes:
Parotidite epidêmica.
Parotidite infecciosa.
Papeira (nome popular).
Histórico
É uma doença conhecida há mais de dois milênios, e desde o final do século XVIII, Hamilton observou a ocorrência de orquite acompanhando a caxumba. Em 1934, Jahnson e Goodpasture comprovaram que o responsável pela caxumba era um vírus, e na década de 40, Enders conseguiu atenuar o vírus in vitro, o que culminou posteriormente, com o desenvolvimento da vacina de vírus vivo por Buynak e Hilleman em 1966.
Incidência
Tem uma incidência maior em crianças no período escolar e em adolescentes.
Maior incidência de casos no final do inverno e início da primavera.
A freqüência da infecção é a mesma em ambos os sexos até a puberdade, quando então passa a ser mais prevalente no sexo masculino.
As complicações da caxumba ocorrem quase sempre em adultos.
Não ocorre antes dos 6 meses de idade, devido à passagem de anticorpos maternos, e nem nos adultos depois dos 40 anos de idade.
Em 30% dos indivíduos sofrem a infecção sem inflamação das glândulas salivares, entretanto são contagiantes.
Agente etiológico
O agente etiológico da Caxumba é um RNA vírus; família Paramyxoveridae; gênero Paramyxovirus. É descrito somente um tipo antigênico do vírus da caxumba, que é grande, pleimórfico, medindo em média 200nm (90-300nm).
O vírus da caxumba é muito sensível devido ao seu envelope lipídico, perdendo a sua infectividade após 20 minutos sob temperatura de 55 a 60°C. Na temperatura ambiente, o vírus permanece infectante por um período de até 90 dias; a -20°C, por algumas semanas; e a -65°C, por muitos anos.
Fonte de infecção
O homem infectado.
Fisiopatologia
O vírus chega ao hospedeiro por meio de contato direto, por gotículas de saliva ou por fômites de um indivíduo infectado, e penetra no organismo pelas vias aéreas respiratórias, onde fica alojado permanecendo incubado e se proliferando. Após a viremia, se o vírus entra na corrente sanguínea e se distribui por todo o organismo, tendo uma preferência pelas parótidas causando um inchaço e dando início a todo o processo da doença. A imunidade conferida é permanente. Durante a fase aguda da doença, tem-se isolado o vírus da caxumba na saliva, no sangue, na urina e no líquor.
Reservatório
O homem.
Fonte de infecção
A saliva de pessoas infectadas.
Período de incubação
O período dura em média 3 semanas.
Período de duração
A doença dura de 14 a 27 dias, a média fica em 18 dias.
Via de entrada
Através das vias aéreas superiores (nariz e boca).
Período de transmissibilidade
A partir do primeiro dia antes do inchaço até o desaparecimento do inchaço. Os indivíduos susceptíveis podem contrair a doença através da exposição ao contágio com pessoas portadoras de infecção inaparente. A presença de vírus na saliva é maior exatamente antes e após o início da parotidite.
Transmissão
Direta: através dos perdigotos (gotículas expelidas pelo doente quando se fala, pela tosse ou espirros).
Indireta: através dos fômites (objetos) de um indivíduo infectado, quando estes são levados à boca.
Sinais e sintomas
A caxumba é uma doença infantil, mas quando acomete os adultos, as manifestações clínicas são bem mais evidentes e mais dolorosas. Nas crianças, em alguns casos, a doença pode passar despercebida, porque os sintomas são bem brandos e o inchaço da parótida é quase imperceptível.
período prodrômico: (duração de 2 dias)
cefaléia discreta;
inapetência;
febre em geral baixa;
mialgias;
calafrios discretos;
irritação na garganta;
mal-estar geral.
período clássico:
distensão sob o lóbulo da orelha (é o começo do inchaço da parótida);
após dois dias aparece atrás da mandíbula uma massa rígida com contornos mal definidos. A pele da região fica esticada e brilhante, o lóbulo da orelha é empurrado para cima e para fora, desaparece o sulco que contorna o ângulo da mandíbula; aproximadamente dois dias depois do aparecimento do edema, a outra parótida pode começar a doer e a aumentar de volume. O comprometimento da parótida é bilateral em 75% dos casos;
dificuldade para abrir a boca (causando uma dificuldade maior de se alimentar);
dor localizada na região do inchaço;
dor irradiada para os ouvidos;
dor quando o paciente se alimenta;
em alguns casos, discreto trismo;
sialorréia;
sensação de secura na boca.
Meningite:
O envolvimento do Sistema Nervoso Central - SNC, é a manifestação extra-salivar mais freqüente. O quadro clínico da meningite na Caxumba é relativamente raro, caracterizando-se por febre, cefaléia, náuseas, vômitos e rigidez de nuca (sinais de Kernig e Brudzinski podem estar ausentes). Inicia-se geralmente quatro dias após o aparecimento da parotidite, mas pode precedê-la em até uma semana ou surgir tardiamente, até duas semanas depois. A meningite também pode ser a única manifestação clínica da infecção pelo vírus da Caxumba, em alguns casos. Os sintomas da meningite desaparecem três a dez dias após o início do quadro, apresentando uma evolução benigna e sem seqüelas. O líquor tem padrão linfomonocitário e suas alterações podem persistir, em média por um período de até cinco semanas.
Encefalite:
A freqüência da encefalite pelo vírus da caxumba varia de 1/6.000 até 1/400 casos de Caxumba, sendo que esta freqüência mais alta (1/400) parece ser a mais correta. Existem dois tipos de encefalite causadas pelo vírus da Caxumba: a aguda e a pós-infecciosa. A encefalite aguda que acontece juntamente com a parotidite, resulta da lesão direta dos neurônios pelo vírus; a encefalite pós-infecciosa surge sete a 10 dias após o início da parotidite, e é conseqüente, ao processo de desmielinização, resultante da resposta imunológica do hospedeiro à infecção. O quadro clínico de ambos os tipos caracteriza-se por febre alta, (40-41°C), mudanças expressivas no nível de consciência, convulsões, paresias, afasia e movimentos involuntários. A freqüência das seqüelas tais como retardo psicomotor e convulsões, não é conhecida.
Orquiepididimite:
A manifestação extraglandular mais freqüente da infecção pelo vírus da caxumba, entre os homens, é a orquiepididimite, ocorrendo em 25% a 30% dos casos na faixa etária entre 15 e 29 anos de idade. É rara antes da puberdade. Em 2/3 dos casos acompanha a parotidite já na primeira semana e em 1/4 durante a segunda semana. Mais raramente a orquiepididimite pode preceder ou mesmo acontecer sem a presença de parotidite.
A orquite manifesta-se abruptamente, com febre alta (39 a 41°C), calafrios, cefaléia, náuseas, vômitos e dor abdominal baixa. Esses sintomas são proporcionais à intensidade do envolvimento da gônada, que rapidamente aumenta de tamanho (até quatro vezes o normal), com dor à palpação e eritema da bolsa escrotal. A epididimite está presente em 85% dos casos e com freqüência precede a orquite. O comprometimento bilateral das gônadas acontece em aproximadamente 20% dos casos. Com a diminuição da febre, a dor e o edema desaparecem, podendo persistir dor à palpação, por períodos maiores que duas semanas, em 20% dos casos. Como conseqüência da destruição celular resultante do edema intraparenquimatoso, observa-se atrofia testicular uni ou bilateral em 40% a 70% dos pacientes. A esterilidade, apesar de ser rara, é resultante de orquite bilateral. Tem sido descrita a malignização do testículo afetado pelo vírus da Caxumba.
Diagnóstico
Anamnese.
Exame clínico.
Exame físico.
Exames laboratoriais.
Aumento e vermelhidão do canal de Wharton e de Stensen.
Testes sorológicos.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Caxumba não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico e laboratoriais o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças que podem ser confundidas com a Caxumba são as seguintes:
Parotidites por outros vírus.
Parotidopatias tóxicas causadas por metais pesados.
Febre uveoparotídea (manifestação da Sarcoidose).
Paratidomegalias do megaesôfago.
Blastomicose ganglionares.
Linfogranulomatose de Hodgkin.
Adenite da região cervical anterior e pré-auricular.
Abscesso dentário.
Parotidite supurativa: a pele sobre a glândula é vermelha e quente e a parótida apresenta-se aumentada de volume e dolorosa à palpação, havendo a saída de pus pelo duto de Stensen, quando a parótida é comprimida e massageada.
Tumor da parótida.
Síndrome de Sjogren.
Síndrome de Parinaud.
Síndrome Mikulicz.
Tratamento
Objetivo principal do tratamento é o controle de infecção secundária, produzidas por bactérias.
Específico: não existe tratamento medicamentoso para essa patologia.
Sintomático: conforme os sintomas apresentados e suas intercorrências.
Isolamento domiciliar enquanto durar a inflamação das glândulas salivares, é indicado para evitar a propagação da doença.
Antitérmicos no caso de febre alta, sob prescrição médica.
Analgésicos para aliviar a dor, sob prescrição médica.
Antibiocoterapia não tem nenhum valor no tratamento da Caxumba, pois os vírus são resistente à ação dos antibióticos, os antibióticos só serão eficientes se manifestar alguma infecção secundária.
Dietoterapia leve, alimentos sem condimentos, devendo ser ingerido uma maior quantidade de líquidos, principalmente pela dificuldade de abrir a boca, os alimentos sólidos são mais difíceis de serem mastigados e deglutidos.
Bolsa de água quente pode aliviar a dor e o peso em alguns casos; mas outros doentes preferem a bolsa de água fria para o alívio da dor.
Higiene da boca é fundamental e eficaz no sentido de evitar a invasão de bactérias, que podem resultar em uma infecção secundária, facilitadas pelos distúrbios da secreção salivar..
Repouso no leito é fundamental, pelo menos enquanto houver inchaço da parótida, para evitar complicações.
Na fase inflamatória da Caxumba, enquanto o pescoço estiver inchado, deve ser proibido qualquer esporte, sobretudo bicicleta, futebol, natação e banhos de mar.
Pomadas analgésicas nas regiões tumefeitas.
No caso de crianças debilitadas, de adultos com complicações da Caxumba e gestantes que tem contato com doentes, é administrado a gamaglobulina, com elevada concentração de anticorpos. Essa medida permite atenuar a doença evitando as complicações, mas em contrapartida não oferece imunidade definitiva, esta só pode resultar dos anticorpos produzidos naturalmente pelo organismo ou pela aplicação de vacina específica.
Apoio psicológico principalmente aos homens, devido ao medo da esterilidade no caso de se apresentar a Orquite.
Complicações
Podem ocorrer quando os órgãos atingidos pelo vírus são afetados mais profundamente, mas os casos são raros e quando sucedem é geralmente em adultos.
Orquite (inflamação dos testículos).
Ooforite (inflamação dos ovários) pode ocorrer na mulher adulta.
Meningoencefalite: pode ocorrer quando a cefaléia surge nos primeiros dias indicando que o cérebro foi afetado, mas é raríssimo acontecer, e quando acontece pode ser totalmente curada, sem deixar seqüelas.
Pancreatite (casos raros).
Tireoidite (casos raros).
Hidrocele (casos raros).
Diabetes insípido.
Mastite, durante o período de lactação, pode apresentar-se muito intensa e extremamente dolorosa.
Torcicolo.
Parotidite crônica.
Edema de laringe, por propagação da inflamação glandular.
Pneumonias intersticiais.
Problemas digestivos: apendicite, ileíte, hepatite.
Distúrbios renais: albuminúria, hematúria, cilindrúria.
Distúrbios auriculares: otalgia, surdez transitória ou definitiva, por lesão do VIII par ou do ouvido interno.
Distúrbios oculares: conjuntivite, queratite, iridociclite, esclerite.
Distúrbios hematológicos: trombocitpenia e anemia hemolítica.
Obs: A Orquite e a Ooforite só se manifesta em adultos ou adolescentes depois da puberdade, nunca em crianças. Nos homens a virilidade e a potencia sexual não são prejudicadas pela Orquite, mesmo que cause esterilidade.
Complicações na gravidez
Na mulher grávida que adquiriu a Caxumba pode ocorrer Parotidite. No feto, dependendo do período da gravidez pode ocorrer:
aborto;
morte fetal, em casos raríssimos;
anomalias congênitas;
parto prematuro;
Portanto, é imprescindível que a mulher grávida, não entre em contato de maneira nenhuma com pacientes ou portadores de doenças contagiosas. Mesmo que o paciente esteja no final do tratamento, ou que esteja em período de convalescença, pois algumas doenças contagiosas ainda são transmissíveis, mesmo depois de terminado o tratamento, principalmente pelas vias aéreas superiores.
Seqüelas
Queixo duplo: não é uma patologia, mas um problema estético que ocorre devido a um grande inchaço da parótida, quando a doença regride a região fica um pouco edemaciada resultando em queixo duplo que principalmente nas mulheres causa muito desconforto, esse problema só pode ser resolvido via cirurgia plástica; mas é uma seqüela que pode ser evitada com cuidados específicos no decurso da doença.
Esterilidade masculina.
Surdez (casos raríssimos).
Prevenção
Através da vacinação:
A vacina não deve ser aplicada em mulheres grávidas, pacientes em terapia imunossupressora, pacientes com doença febril aguda e em crianças com imunodeficiência congênita ou adquirida.
Quanto à criança portadora assintomática do vírus HIV especificamente, recomenda-se o uso da vacina, MMR ou da caxumba isolada, da mesma maneira que para crianças sem o vírus da AIDS. Já diante da presença de sinais clínicos ou laboratoriais de imunodeficiência, a relação risco / benefício da administração de uma vacina de vírus vivo deve ser criteriosamente avaliada.
Cuidados Gerais
Deve ser reduzida a atividade física mesmo que o inchaço seja mínimo, pois o vírus pode atacar outros órgãos, principalmente, nos homens os testículos, podendo resultar em uma Orquite que pode deixar como seqüela a infertilidade.
Crianças que tenham dificuldade em engolir podem fazer uso de uma dieta líquida ou pastosa.
Mulheres grávidas devem evitar a visita a crianças ou adultos com caxumba, pois a doença é altamente contagiosa.
Existe uma maneira popular de aliviar a dor e o peso do inchaço da parótida: colocando-se um lenço grande por baixo do pescoço e dando um laço no alto da cabeça, fica parecendo um coelho, esse método ajuda muito a aliviar a dor. É uma alternativa popular, mas que funciona.
As crianças devem ficar em repouso moderado em casa, para não causar futuras complicações da doença.
Crianças só devem voltar à escola quando desaparecer completamente o inchaço das glândulas.
Se um dos testículos ficar maior que o outro, é necessário a consulta ao urologista para ser feita uma avaliação médica.
Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o Glossário geral.