CÓLERA


Definição

A cólera é uma doença  infecciosa intestinal aguda de alta contagiosidade, causada por uma bactéria que é  capaz de produzir uma enterotoxina que causa  um processo de perda rápida de líquido isotônico do intestino com  um teor baixo  de proteínas, concentração  média de bicarbonatos de aproximadamente o dobro do plasma e concentração de potássio de quatro vezes a do plasma normal, se o doente não for tratado logo que aparecem os primeiros sintomas, pode morrer por desidratação, porque a diarréia costuma ser brusca e intensa. 

A diarréia é aquosa abundante e incontrolável, distúrbios hidreletrolíticos e vômitos, pode levar o indivíduo a uma desidratação grave e à acidose metabólica.  Todos os sinais clínicos e alterações metabólicas resultam da perda desse líquido gastrintestinal, algumas vezes em quantidades que excedem 1 litro por hora.   Além da diarréia, um doente com cólera pode apresentar uma acentuada perda de peso, forte abatimento e cansaço, a pele e as mucosas ficam bastante secas, fortes cãibras musculares e diminuição no volume da urina. 

A disseminação da doença é favorecida pelos deslocamentos  das pessoas através dos meios de transportes, podendo alcançar outras regiões mais distantes principalmente pelo avião, que contribui para uma propagação mais rápida da doença.

Sinonímia

É uma doença também conhecida pelos seguintes nomes:

·         Cólera morbo.

·         Cólera asiática.

·         Cólera índica.

·         Cólera epidêmica.

·         Doença das mãos sujas (nome popular).

Histórico

Robert Koch descobriu o Vibrio cholerae, em 1884, no Egito.

Agente etiológico

No Brasil, o agente etiológico  que prevalece é a bactéria Vibrio cholerae;  gênero Vibrio; família Vibrionaceae;  bastonetes Gram-negativos; aeróbios ou anaeróbios facultativos; pleomórficos; retos ou curvos; móveis por meio de flagelo polar único; não-esporulados ou microcistos. São encontrados principalmente  em ambiente aquático, na água do mar ou água doce e em associação com animais aquáticos.

Fonte de infecção

São os doentes desde o período de incubação até a fase de convalescença e os portadores assintomáticos.

Reservatório

O homem é o único reservatório do V. cholerae.

Tipos de epidemia

·         Epidemia explosiva: ocorrem muitos casos em um curto período de tempo em  menos de uma semana, ocasionadas por uma fonte de veículo comum (água, molusco, frutos do mar etc).

·         Epidemia de curso lento: ocorre pequeno número de casos diários ou semanais. 

Período de incubação

De 6 horas a 6 dias após o contágio, a média fica entre 2 a 3 dias.

Período de transmissibilidade

Enquanto os vibriões estiverem presentes nas fezes há perigo de transmissão da doença, uma margem segura é de 20 dias após a cura.

Transmissão

A transmissão é passiva.

Resistência do vibrião colérico

O vibrião colérico resiste mais em baixa temperatura. Na água salgada o vibrião vive mais tempo que na água doce e se reproduz mais rapidamente.

água doce:

    temperatura        tempo de vida: 

·         10°C                 10 a 19 dias.

·         25°C                    7 dias.

·         35°C                    4 dias.    

água  do mar:        

·         10°C                 até 26 dias.

·         25°C                    9 dias.

·         35°C                    3 dias.    

esgoto:    

·         10°C                   12 dias.

·         25°C                   12 dias.

·         35°C                    2 dias. 

Fatores predisponentes

·         Fatores sócio-econômicos: a doença tem uma maior incidência em comunidades desfavorecidas; de um nível sócio-econômico baixo; em regiões economicamente desfavoráveis.

·         Fatores higiene e saneamento: a higiene tanto individual como coletiva precárias e condições de saneamento com baixa infra-estrutura ajudam a proliferação da cólera.

·         Fatores climáticos: aumentam as possibilidades de transmissão da doença.

Formas clínicas

·         Cólera siderante ou cólera seca: forma grave da doença que evolui rapidamente  á morte. o doente morre com sintomas de choque mas sem apresentar a diarréia, porque não houve tempo de se manifestar. Na autópsia o intestino está muito distendido por um líquido com aspecto de "água de arroz" contendo vibriões. Esta distensão resulta de uma paralisia intestinal.

·         Diarréias benignas: os portadores não apresenta nenhum sinal clínico da doença, mas transmitem a doença pelas fezes.

·         Cólera clássica: apresenta o quadro clínico característico da doença.

Sinais e sintomas

A maioria dos casos de cólera apresenta-se na forma branda, como uma diarréia leve ou moderada, apresentando vômitos,  mas em alguns casos pode evoluir para uma forma mais grave com os seguintes sintomas:

cólera clássica:

forma gravíssima:  (nesta fase todos os sintomas acima continuam, acrescidos dos seguintes)

·         desequilíbrio hidroeletrolítico;

·         desequilíbrio ácido-básico;

·         cãimbras musculares localizadas principalmente nos MMII (membros inferiores) e no abdômen;

·         respiração tipo abdominal profunda;

Obs:  Se não houver assistência médica imediata e eficiente pode  ocorrer o óbito.

Diagnóstico

·         Anamnese.

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Cólera não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças  que podem ser confundidas com a Cólera são as seguintes:

·         Enterites  e enterocolites bacterianas.

·         Intoxicações químicas e medicamentosas: arsênico, antibióticos, tártaro emético.

·         Febre tifóide.

·         Retocolite ulcerativa grave.

·         Disenterias amebiana.

Tratamento

Médico especialista: Gastroenterologista.

Objetivo do tratamento inicial  é a reposição de líquidos e eletrólitos através de soro perdidos durante os episódios de diárréia e vômitos.

Obs: Não se deve  utilizar drogas antieméticas, pois podem provocar distensão abdominal e manifestações extrapiramidais com depressão do Sistema Nervoso. Deve haver desinfecção concorrente e terminal em ambientes hospitalares. 

Os antiespasmódicos no caso da cólera inibem o peristaltismo intestinal, aumentando a proliferação de germes, prolongando o quadro clínico e dando a falsa impressão de melhora.

Deve-se evitar o uso de analgésicos e antipiréticos que possam produzir depressão de sistema nervoso central.

Complicações

Profilaxia

Na prevenção da cólera deve ser dada prioridade aos princípios básicos de higiene.

medidas sanitárias:

·         Notificação Obrigatória e Imediata às Autoridades Sanitárias.

·         Isolamento hospitalar ou domiciliar dos doentes.

·         Campanhas de educação sanitária para a população.

·         Desinfecção concorrente e terminal em ambiente hospitalar.

·         Quimioprofilaxia dos contatantes.

·         Em períodos epidêmicos a população deve ser instruída para tratar dejetos humanos com produtos químicos (hipóclorito, creolina, fenol), tanto em fossas sépticas como em vasos sanitários.

·         Educar a população para só consumir água potável.

·         Doentes devem ser isolados e seus dejetos tratados adequadamente com produtos químicos.

·         Medidas e técnicas devem ser adotadas diante de cadáveres coléricos, porque estes permanecem contagiosos,  principalmente em ambiente frio (necrotérios ou morgues).

 

medidas gerais:

 

·         Consumir água tratada, filtrada e fervida.

·         Combate as moscas.

·         Uso de inseticidas.

·         Evitar durante a epidemia o uso de mariscos como alimento.

·         Não consumir legumes crus, tomates e frutas com casca.

·         Preparo adequado dos alimentos.

·         Lavar bem os alimentos ingeridos cru.

·         Evitar consumir alimentos de vendedores ambulantes.

·         Evitar comer frutas e legumes crus em locais onde existam casos de cólera; se forem comidos crus, devem ser bem lavados em água clorada ou previamente fervida.

·         Não evacuar perto dos rios, lagos e poços.

·         Condições eficientes de saneamento básico e do ambiente, é  muito importante para a profilaxia da doença.

·         Fervura e pasteurização do leite.

·         Proteger os alimentos e utensílios da cozinha, das moscas.

medidas internacionais:

·         Notificação imediata e obrigatória aos países vizinhos e a OMS, no caso de epidemias.

·         Vigilância dos contatantes.

·         Quarentena  imediata dos suspeitos.

·         Fiscalização dos meios de transporte.


Dúvidas de termos técnicos e expressões,  consulte o Glossário geral.