DOENÇA DE CHAGAS
Definição
A Doença de Chagas é uma doença infecciosa, parasitária, crônica e generalizada, transmitida ao homem por um protozoário, que é encontrado nas fezes do barbeiro. Esses insetos vivem geralmente no interior de casas pobres, que tem paredes e tetos com buracos, frestas ou rachaduras, por onde os barbeiros podem esconder-se de dia e sair à noite para picar o homem de preferência no rosto.
Quando a doença afeta a criança na primeira infância o prognóstico é mais reservado, porque a criança pode sofrer um ataque agudo do coração, como também pode acarretar alterações no sistema nervoso. Nos adultos infectados que não tiveram tratamento, raramente conseguem sobreviver além dos 50 anos. A doença é uma das principais causas de patologias cardíacas, e principalmente Insuficiência cardíaca, nas zonas rurais do Brasil. A esperança atualmente para os chagásicos que desenvolveram a forma crônica da doença caracterizada pela dilatação do músculo cardíaco, é o transplante de células-tronco.
Sinonímia
É uma doença também conhecida pelo nome de Cardiopatia chagásica.
Histórico
Foi diagnosticada pela primeira vez pelo médico Carlos Chagas em 1907, que descobriu o protozoário nas fezes do barbeiro, insetos hematófagos, que invadiam as casas de choupana em Minas Gerais, local onde ele estava desenvolvendo uma campanha contra a malária.
Incidência
· A Doença de Chagas é quase exclusiva do continente americano.
· Quanto mais ocorre precariedade das habitações maior a incidência de adquirir a doença.
· 28% dos infectados desenvolvem a forma aguda da doença, quando não há nenhuma forma de tratamento.
· 8% dos infectados desenvolvem a dilatação no esôfago e no intestino, que são curáveis por meio de cirurgias.
· 64% dos infectados convivem com a doença de forma assintomática.
· É uma doença mais disseminada na população de baixo nível sócio-econômico.
· É uma doença que apresenta um índice de mortalidade muito alto cerca de 30% dos infectados que desenvolvem a fase crônica da doença.
Agente etiológico
Protozoário Trypanosoma cruzi; da ordem dos Kinetoplastida; família dos Trypanossomatídeo; do gênero Trypanosoma; classe Mastigophora. Seu ciclo de vida ocorre no hospedeiro intermediário, os triatomíneos, e no hospedeiro definitivo que inclui o homem e animais domésticos e silvestres.
Vetor
Inseto chamado de barbeiro, mas popularmente é chamado também de: chupança, procotó, e bicho-de-parede. Infecta o homem quando pica e logo após evacua, as fezes do barbeiro contaminadas pelos protozoários, atravessam a pele, e causam a doença.
Fisiopatologia
Quando os parasitas penetram no organismo humano invadem as células teciduais e se transformam em amastigotas, esses rompem as células parasitadas e a maioria se transforma em tripomastigotas, conseguindo entrar na corrente sanguínea e linfática, daí seguindo para outros órgãos, penetrando nas células e transformando-se em amastigotas, e fazendo de novo todo o ciclo de multiplicação. Os parasitas conseguem destruir as células do sistema nervoso autônomo e central, células ganglionares, células do tecido cardíaco, células hepáticas e de vários outros órgãos, medula óssea, sangue e músculos.
Fonte de infecção
O homem e outros animais como cão, gato, rato doméstico, morcego e outros.
Suscetibilidade e Resistência
Todas as idades são suscetíveis, mas afirma-se que nas pessoas mais jovens a doença é mais grave.
Período de incubação
Em média de 3 a 14 dias após a picada do inseto vetor; 30 a 40 dias no caso de infecção resultante de transfusão de sangue de doador contaminado.
Período de transmissibilidade
O parasita encontra-se regularmente no sangue durante o período febril agudo e pode persistir em pequeno número durante toda a vida nos casos sintomáticos e assintomáticos. O vetor torna-se infectante de 10 a 30 dias após haver picado o hospedeiro infectante, e pode assim permanecer toda a vida (2 anos).
Transmissão
· Pelas fezes do barbeiro. Depois que pica e suga o sangue humano, o barbeiro contamina o local da picada com suas dejeções, as fezes contaminadas pelos protozoários penetram no organismo pelo local da picada, principalmente quando o indivíduo coça o local por causa da irritação, ocasionando uma porta de entrada para o protozoário. A porta de entrada pode ser a pele ou os parasitas podem penetrar pela conjuntiva do olho caso a pessoa coce o olho com os dedos contaminados pelas fezes do barbeiro.
· Transfusão sanguínea caso o banco de sangue não faça os testes exigidos por lei.
· Transmissão congênita, via transplacentária, caso a mãe esteja infectada, dependendo do período da gravidez pode ser transmitida ao feto.
· Pode ser transmitida também pelo leite materno.
Sinais e sintomas
A Doença de Chagas é uma doença que geralmente só apresenta a sintomatologia característica da doença, após anos depois da picada do barbeiro Na maioria das vezes, a infecção acontece quando o indivíduo tem entre 10 e 15 anos. A doença atinge a fase crônica, quando este indivíduo chega a idade entre 40 a 50 anos.
fase inicial:
- febre; mal-estar geral;
- cefaléia; prostração;
- prurido no local da picada;
- anorexia;
- caso a picada tenha sido no rosto, na maioria dos casos aparece o edema palpebral ou facial;
- hepatomegalia;
- chagomas primários ( furúnculos dolorosos à pressão, saliente, permanecem durante 2 a 3 semanas desaparecendo gradativamente);
- meningoencefalites que evoluem rapidamente e em poucos dias em sua maioria levam à morte, afetam mais as crianças.
Depois de algumas semanas todos os sintomas dessa fase desaparecem gradativamente, na maioria dos casos.
fase indeterminada: São os assintomáticos com testes positivos como: isolamento do tripanosoma por xenodiagnóstico ou hemocultura e reações sorológicas para a Doença de Chagas, mais que não apresentam sintomas, a maioria pode viver toda a vida sem nunca apresentar sintomas da doença.
fase crônica: são sintomas que aparecem depois de vários anos ou décadas, sendo que em alguns casos pode chegar entre 20 e 30 anos após a infecção primária.
- alterações cardíacas: arritmia extra-sistólica, taquicardia,cardiomegalia acentuada, hipotensão, insuficiência cardíaca, miocardiopatia inflamatória, insuficiência ventricular direita.
- alterações digestivas: dificuldade de deglutição, regurgitação, dor epigástrica, tosse, disfagia, obstipação intestinal grave, hepatomegalia, megaesôfago, megacólon, megaduodeno, emagrecimento acentuado.;
- alterações de Sistema Nervoso: meningoencefalite.
- dispnéia e soluços.
Diagnóstico
· Anamnese.
· Exame físico.
- Exame clínico.
- Exames laboratoriais.
- Testes sorológicos (pesquisa de anticorpos específicos contra o vírus).
- Reação de Machado-Guerreiro.
- Punção lombar.
- Sinal Romaña positivo (edema bipalpebral, unilateral, com adenite satélite pré-auricular, coloração róseo-violácea).
- Chagoma cutâneo (lesão focal, máculo-nodular, arroxeada ou eritematosa, consistente, descamativa).
Obs: O Sinal de Romaña (olho) e Chagoma cutâneo (pele) indicam a porta de entrada do parasita no corpo.
Na fase crônica da doença, os parasitas tornam-se raros no sangue e o diagnóstico baseia-se em método indireto: verifica-se se o organismo está produzindo anticorpos contra Trypanosoma cruzi.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Doença de Chagas não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças que podem ser confundidas com a Doença de Chagas são as seguintes:
Em relação a porta de entrada da infecção:
· Conjuntivite de outras etiologias.
· Traumatismo ocular.
· Edema de Quincke.
· Clulite orbitária.
· Picada de artrópodes.
· Miíase.
Fase inicial :
· Brucelose.
· Esquistossomose mansônica.
· Febre Tifóide.
· Glomerulonefrite.
· Impaludismo.
· Leishmaniose Visceral.
· Mononucleose infecciosa.
· Toxoplasmose.
Alterações cardíacas:
· Miocardite e Pericardite de outras etiologias.
· Derrame pericárdico.
· Fibrose endomiocárdica.
Formas congênitas:
· Sífilis congênita.
· Toxoplasmose congênita.
Tratamento
Específico: tratamento medicamentoso indicado pelo médico para a fase aguda; para a fase crônica a maioria dos medicamentos mostrou-se ineficaz, ocorrendo recidivas espontâneas das alterações clínicas.
Sintomático: conforme os sintomas e intercorrências apresentadas para a fase crônica.
Insuficiência cardíaca: No tratamento da insuficiência cardíaca assinalam-se, como particularidades, a resposta menos satisfatória aos preparados digitálicos e o grande benefício proporcionado pelo uso de diuréticos; uma vez interrompida a administração destes, prontamente reaparecem as manifestações de congestão passiva, mesmo na observância dos demais cuidados.
Arritmias cardíacas: Nas arritmias o tratamento de eleição é feito através do implante de marcapasso cardíaco artificial. Decidindo-se pelo implante de marcapasso cardíaco artificial. Decidindo-se pelo implante endocavitário, devendo-se evitar a ponta do ventrículo direito no posicionamento do eletrodo, tendo em conta a possibilidade de o paciente apresentar a lesão apical comprometendo a referida câmara; nesse caso elege-se a posição subtricuspídea.
Prognóstico: Na fase aguda o prognóstico depende principalmente da idade do paciente e do tipo e grau das manifestações. A infecção é mais grave nas crianças, sendo proporcionalmente maior o índice de mortalidade na primeira infância.
Na fase crônica, estabelecidas as alterações cardíacas, o prognóstico se torna mais reservado, ressaltando-se que existem alterações de prognóstico imediato mais favorável e outras de mau prognóstico; quando há insuficiência cardíaca, grande aumento do coração, arritmias como extra-sistolia ventricular polimórfica ou em salvas, taquicardia paroxística ventricular, fibrilação e flutter atriais, BAV total, ou se registra padrão de necrose, o prognóstico usualmente é mau.
A morte na cardiopatia chagásica crônica, sobrevém subitamente ou por insuficiência cardíaca, sendo relativamente comum a ocorrência de embolia, na dependência da trombose parietal cardíaca; o desenlace súbito, pode ocorrer por ocasião de esforços ou com o paciente em repouso.
Comportam mau prognóstico os casos em que ocorre o aparecimento de insuficiência cardíaca ou manifestações de meningoencefalite, sendo essas as causas mais freqüentes de evolução fatal.
A forma congênita também é de prognóstico grave, principalmente, quando a sintomatologia, se faz presente por ocasião do nascimento.
Complicações
- Miocardite crônica, evolutiva e fibrosante.
- Cardiomegalia grave (aumento do coração).
- Acidente Vascular Encefálico (AVE).
- Megacólon.
- Megaesôfago.
- Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC).
- Meningoencefalite (recém-nascidos e crianças pequenas).
Profilaxia
Pelo fato de ainda não existir cura para a Doença de Chagas, a sua profilaxia adquire importância fundamental. Através de algumas medidas, pode-se prevenir o aparecimento dos barbeiros, e conseqüentemente, diminuir os casos de Doença de Chagas, no Brasil.
medidas sanitárias:
- Notificação Obrigatória às Autoridades Sanitárias.
- Investigação dos contatos e da fonte de infecção.
- Profilaxia da transmissão por transfusão de sangue é feita pela rejeição de candidatos a doadores com sorologia positiva para a Doença de Chagas.
- Campanhas de prevenção à população em locais endêmicos.
- Instalação de Postos de Saúde em zonas endêmicas, com profissionais de saúde capacitados e treinados para cuidar de pacientes com a doença.
- Educação sanitária da população de zonas endêmicas sobre o modo de propagação, sintomas e os métodos de prevenção da doença.
- Combate ao vetor nos domicílios através de inseticidas com a ajuda de uma bomba aspersora.
- Borrificação das casas com inseticidas em áreas endêmicas.
- Eliminando os animais domésticos infectados e dos hospedeiros silvestres, nas zonas reconhecidamente endêmicas.
- Melhora das moradias das populações de áreas endêmicas.
medidas gerais:
- Uso de telas em janelas e portas.
- Uso de mosquiteiro.
- Substituir casas de “pau-a-pique” por casas de alvenaria e rebocar as paredes.
- Melhoria das condições higiênicas.
Atualidades
Tratamento: As células-tronco estão sendo testadas como uma nova opção no tratamento de pessoas com problemas de coração, que pode levar à Insuficiência cardíaca. O transplante de células-tronco é uma alternativa promissora, contra a Insuficiência cardíaca crônica, provocada por hipertensão, obstrução das artérias coronarianas e a Doença de Chagas.
Dúvidas de termos técnicos expressões, consulte o Glossário geral.