FEBRE MACULOSA


 

Definição

A Febre Maculosa é uma zoonose (doença transmissível ao homem), transmitida pela picada do carrapato, infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii. É uma das mais graves doenças causadas por este parasita. É capaz de infestar as mais diferentes espécies de animais (répteis, anfíbios e mamíferos), principalmente cães, gatos  e o homem. Nos seres humanos, a doença provoca mais frequentemente febre, manchas na pele, dor de cabeça forte, dores no corpo em geral e uma  debilitação progressiva, podendo levar à morte. 

 

A Febre Maculosa é uma doença febril aguda, de gravidade variável, causada por bactéria e transmitida por carrapatos infectados. Esta enfermidade, até há pouco tempo desconhecida, vem sendo mais diagnosticada em áreas onde as pessoas têm contato frequente com animais e com o carrapato.

 

Sinonímia

A Febre Maculosa também é conhecida pelo seguinte nome:

·         Febre do carrapato.

 

Agente etiológico

Bactéria Rickettsia rickettsi; bactéria intracelular obrigatória; tem uma  sobrevida muito curta fora do hospedeiro.   A bactéria fica circulando na natureza pelo carrapato, que passa a infecção para outro carrapato, principalmente por meio de transmissão de "mãe para filhos" (um carrapato fêmea pode gerar mais ou menos seis mil novos carrapatos, todos infectados). Os animais (cão, cavalo, boi, ratos, animal silvestre), assim como o homem, quando picados fornecem condições para que o carrapato se desenvolva, e transmita a bactéria que fica na sua saliva.

 

Fisiopatologia

A bactéria quando é introduzida no organismo, cai na circulação sanguínea e causa vasculite, isto é, lesa sobretudo o endotélio (camada interna dos vasos sanguíneos) Nas fases mais graves e avançadas da doença, a bactéria pode provocar necrose dos vasos.

 

Vetores e reservatórios

Vetores: Os vetores são carrapatos da espécie Amblyomma cajennense. São conhecidos como "carrapato estrela", "carrapato de cavalo" ou "rodoleiro", as larvas por "carrapatinhos" ou "micuins, e as ninfas por "vermelhinhos". São hematófagos obrigatórios, necessitando de repastos em três hospedeiros para completar seu ciclo de vida. O homem é intensamente atacado nas fases de larvas e ninfas.

 

Reservatórios: A infecção se mantém pela passagem transovárica e transestadial nos carrapatos. Diversos roedores e outros animais ajudam a manter o ciclo da doença.

 

Hospedeiros

Os hospedeiros podem ser encontrados em todas as fases em:

·         Aves domésticas - galinhas, perus.

·         Aves silvestres - seriemas.

·         Mamíferos - cavalo, boi, carneiro, cabra, cão, porco, veado, capivara, cachorro do mato, coelho, cotia, coati, tatu, tamanduá.

·         Animais de sangue frio - ofídeos.

 

Obs: Os humanos são hospedeiros acidentais, não colaborando com a propagação do organismo.

 

Transmissão

A transmissão ocorre pela picada de carrapato infectado.

 

O principal transmissor da doença no Brasil é o carrapato Amblyomma cajennense, conhecido como carrapato-de-cavalo, carrapato-estrela,  carrapato redoleiro ou micuim, que está infectado pela bactéria Rickettsia rickettsi.  Esse carrapato  é encontrado com frequência em cavalos, bovinos e especialmente nos roedores. Em São Paulo, o reservatório mais importante do carrapato-estrela é a capivara, o maior dos roedores.

 

Para ocorrer a transmissão, o carrapato-estrela necessita  ficar pelo menos de 4 a 6 horas, fixado na pele da pessoa, para que as bactérias possam entrar dentro da pele do homem.

 

Pode ocorrer  a contaminação através de lesões, pelo esmagamento do carrapato.

 

Susceptibilidade e imunidade

A susceptibilidade é geral. A imunidade provavelmente é duradoura.

 

Período de incubação

Esse período pode oscilar entre dois a quatorze dias, depois da picada do carrapato. Mas, em média, dura em torno de uma semana, para que a pessoa infectada manifeste os primeiros sintomas da doença.

 

Sinais e sintomas

A doença pode também cursar assintomática (sem sintomas) ou com sintomas frustos, isto é, os sintomas podem ser parecidos com uma infecção leve e depois somem. Mas, alguns casos podem evoluir gravemente, caso não sejam diagnosticados precocemente e o tratamento não tenha sido eficaz.

 

Período prodrômico:

·         Febre moderada a alta: a febre pode durar geralmente de 2 a 3 semanas.

·         Dor no corpo em geral.

·         Cefaléia (dor de cabeça).

·         Caláfrios.

·         Congestão das conjuntivas (olhos vermelhos).

·         Inapetência (falta de apetite).

·         Mal-estar geral.

·         Apatia.

·         Fadiga (cansaço).

·         Tonteira.

·         Aparecimento de petéquia junto da picada do carrapato, logo após a picada.

·         Aparecimento ao terceiro ou quarto dia de exantema maculopapular róseo, nas extremidades, em torno do punho e tornozelo, de onde se irradia para o tronco, face, pescoço, palmas e solas dos pés.

 

Características das erupções: Erupção cutânea: essa erupção se caracteriza por exantema maculopapular-petequial generalizado, isto é, primeiro aparecem pequenas manchas avermelhadas - as máculas - que crescem e viram pápulas, quando se tornam salientes, constituindo as maculo-pápulas. Com a evolução da doença aparecem pequenas hemorragias subcutâneas no local das maculo-pápulas.  A erupção cutânea manifesta-se também na palma das mãos e na planta dos pés, o que em geral não acontece nas outras doenças exantemáticas.

 

Como a bactéria circula pelo sangue, o paciente pode ter também muitas outras queixas nessa fase aguda:

 

·         Respiratórias: tosse, dor no peito, pneumonia.

·         Urinárias: urina com sangue, dificuldade para urinar, com evolução para a insuficiência renal aguda.

·         Neurológicas: meningite, perda da consciência, confusão mental e convulsões.

·         Digestivas: náuseas, vômitos, dores abdominais.

 

Casos graves: 

Alguns casos evoluem gravemente, ocorrendo necrose nas áreas de sufusões hemorrágicas, em decorrência de vasculite generalizada. Torpor, agitação psicomotora, sinais meníngeos são freqüentes. A face é congesta e infiltrada, com edema peripalpebral e infecção conjuntival. Edema também está presente nas pernas, que se apresentam brilhantes. Tosse, hipotensão arterial e hipercitose liquórica são achados comuns. Hepatoesplenomegalia pouco acentuada é observada.

A letalidade é aproximadamente de 20% na ausência de uma terapia específica. A morte é pouco comum quando se aplica o tratamento precocemente.

 

Diagnóstico

·         Anamnese rigorosa: perguntar sempre sobre os hábitos, costumes e viagens recentes, inclusive sobre possíveis contatos com carrapatos.

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

·         Exame dermatológico rigoroso: verificar se a erupção cutânea também aparece na palma das mãos e na planta dos pés, o que em geral não acontece nas outras doenças exantemáticas. Esse é um detalhe importante para estabelecer o diagnóstico diferencial da febremaculosa com outras doenças exantemáticas. Geralmente, o exantema aparece no terceiro dia da doença.

·         Exames laboratoriais.

·         Provas sorológicas: para detectar a presença de anticorpos.

·         Culturas: para isolar o agente etiológico.

 

Obs:  No caso da Febre Maculosa, o diagnóstico precoce é muito importante, porque o tratamento tem de ser iniciado rapidamente, logo no segundo ou terceiro dia da doença, para que a doença depois de alguns dias, não evolua para a sua forma grave.

 

Quando os primeiros exantemas aparecem, a partir do terceiro dia a doença ainda não está na fase grave. Depois de sete a oito dias do aparecimento dos sintomas, caso a doença não seja diagnosticada, é quase impossível reverter as lesões vasculares e o quadro hemorrágico se instala rapidamente.

 

O diagnóstico da Febre Maculosa é quase sempre clínico, porque os resultados dos exames laboratoriais demoram para ficar prontos. Um exame clínico e uma anamnese rigorosa no caso específico da Febre Maculosa, podem ser o diferencial entre a vida e a morte do paciente.

 

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Febre Maculosa não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através da anamnese, dos exames clínico, físico e laboratorial,  o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças  que podem ser confundidas com a Febre Maculosa são as seguintes: 

 

Fase inicial:

·         Dengue hemorrágica.

·         Febre tifóide.

·         Lepstopirose.

·         Meningococcemia (meningite meningocócica).

·         Pneumonia.

·         Sarampo.

 

Tratamento

Apesar dos primeiros sintomas da Febre Maculosa serem parecidos aos de outras infecções, havendo suspeita da doença, o tratamento tem de ser implementado imediatamente para combater a bactéria e tentar evitar as complicações que em muitos casos podem ser fatais.

 

Quando a infecção é rapidamente diagnosticada e o tratamento tem início precoce, a cura é completa. Os medicamentos adequados são antibióticos de baixo custo que podem ser facilmente adquiridos

 

O tratamento para a forma grave da Febre Maculosa deve ser administrado em uma UTI, devido as complicações hemorrágicas graves, que podem evoluir para o coma.

 

Antibioticoterapia: O tratamento padrão para a Febre Maculosa é a base de antibióticos de tetraciclina ou clorafenicol, que deve ser mantido em média por dez a quatorze dias.

 

Controle de cura: A cura é total, sem complicações nem sequelas,  quando é feito o diagnóstico precoce da doença e o tratamento é implementado rapidamente à base de antibióticos.

 

Prognóstico:  Caso as complicações se instalem, infelizmente, o prognóstico para o paciente é reservado. Geralmente, os dois ou três primeiros casos de Febre Maculosa em uma determinada região evoluem para o óbito, no restante dos casos a doença já é conhecida e combatida através do tratamento a base de antibióticos administrado imediatamente e corretamente.

 

Complicações

As complicações da Febre Maculosa, caso não tenha sido feito um diagnóstico precoce e administrado o tratamento o mais rápido possível, são sérias e em muitos casos fatais:

 

·         Coagulação Intravascular Disseminada (CID): uma síndrome hemorrágica que pode causar hemorragias intensas e dificéis de ser contidas. Essa coagulação no sangue ocorre porque a bactéria riquétsia, interfere e consome os fatores de coagulação do sangue. (risco grave de vida)

·         Comprometimento do sistema nervoso central (risco de vida).

·         Convulsões graves (comprometimento neurológico).

·         Insuficiência renal grave (risco de vida).

·         Lesões hemorrágicas nas extremidades que podem necrosar (risco de vida).

 

 

Prevenção

É possível prevenir a Febre Maculosa evitando o contato com carrapatos.

 

·         Evitar entrar em áreas infestadas por carrapatos.

·         Evitar áreas consideradas endêmicas para a Febre Maculosa.

·         Evitar caminhar em áreas conhecidamente infestadas por carrapatos, no meio rural e silvestre.

·         Verificar se as roupas não estão com carrapatos.

·         Vistoriar o corpo em busca de carrapatos, em intervalos de 3 horas, quando for andar em área infestada por carrapatos.

·         Fazer um exame visual para verificar se houve alguma picada de carrapato, ou se o mesmo ainda se encontra na pele. Caso ocorra, deve-se retirar o carrapato com cuidado, colocar num vidro com álcool e se dirigir ao posto de saúde mais próximo, para atendimento. Levando o carrapato dentro do frasco, ajuda a identificar de que espécie é o carrapato.

·         Usar botas de cano longo com a calça comprida por dentro da bota. Se possível, usar fitas adesivas dupla face, para lacrar a parte superior da bota. Esse recurso serve para que o carrapato, não entre através da parte superior da bota. Se o carrapato subir pela bota vai ficar preso na cola da fita dupla face.

·         Usar camisa sempre  de mangas compridas.

·         Aparar o gramado o mais rente ao solo, facilitando a penetração dos raios solares. Carrapato não gosta dos raios solares, porque é quente.

 

Nos animais:

 

Procurar um médico veterinário ou o serviço de controle de zoonoses de cada cidade para orientar como cuidar dos animais se eles estiverem com carrapatos e para que se possa mantê-los livres de carrapatos sempre. Não se deve use nenhum medicamento, pó, sabonete ou líquido para dar banho em animais sem que um médico veterinário tenha orientado. Estes produtos são tóxicos e, se não forem corretamente preparados e utilizados, podem provocar problemas de saúde nos animais e também nos seres humanos. Além do mais, é preciso que os produtos estejam na concentração adequada para que possa fazer efeito, o que será informado pelo profissional competente.

 

 

Bibliografia

 

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-maculosa

 

 


Dúvidas de termos técnicos e expressões,  consulte o Glossário geral.