LEPTOSPIROSE


Definição

Doença infecciosa aguda generalizada, febril, causada por uma bactéria que na maioria dos casos tem uma evolução benigna, mas se ocorrer a forma grave pode até levar o paciente à morte. É uma zoonose (doença de animais) que ocorre em quase todos os países, sendo que nos países desenvolvidos é tratada mais comumente como uma doença profissional, excentuando-se os casos de falta de saneamento básico, enchentes e inundações em que as pessoas ficam expostas às águas contaminadas, o que pode gerar uma endemia e/ou epidemia.   

No Brasil ocorre endemias devido a enchentes, inundações, áreas com deficiência de saneamento básico, lugares com predominância de ratos como feiras livre, quintais com entulho e lixo, esgoto a céu aberto. 

A Lepstopirose era uma doença do campo, mas que emergiu para as cidades com o surgimento de novos aglomerados urbanos, principalmente as favelas, sem  a devida condição de saneamento básico. Esgotos  e a falta de uma coleta de lixo eficiente, aliados à falta de informação  da população, que joga restos de alimentos nas ruas ou próximos à residência, criaram condições ideais para os ratos se proliferassem.  Todos esses fatores juntos contribuíram para que a  doença, que era quase exclusiva do campo, se tornasse uma doença urbana.

O grande desafio  é identificar a doença na fase inicial, para que a pessoa possa receber o tratamento com antibióticos, o mais rápido possível. Quanto mais tempo demorar para iniciar o tratamento, maior a chance de desenvolver complicações graves, com alta taxa de mortalidade e a um custo econômico muito alto.

Sinonímia

É uma doença também conhecida pelos seguintes nomes:

Incidência

Agente etiológico

Bactérias Leptospira interrogans; pertencentes à ordem Spirochaetales; família Leptospiraceae; gênero Leptospira.

As leptospiras são microorganismos aeróbios obrigatórios, helicoidais, flexíveis e móveis; elas têm curta sobrevivência em água  salgada, ao passo  que podem  resistir a períodos longos em água doce, principalmente quando esta permanece armazenada por algum tempo. No solo úmido, a sobrevivência das leptospiras é longa, enquanto é curta em solo seco.

Fisiopatologia

Quando  penetram através da pele e mucosas, as leptospiras invadem a corrente sanguínea e dissemina-se pelo organismo, também invadindo o tecido conectivo, alcançando os fluidos corporais como o liquor e o humor aquoso, sem desencadear reação inflamatória. A disseminação das bactérias no corpo resulta em capilarite e no aumento da permeabilidade capilar. Por causa da leptospiremia o organismo começa a fabricar anticorpos que combatem as bactérias Leptospira interrogans que não aparecem mais no sangue e em outros líquidos corporais exceto na urina. A lesão nos órgãos depende da quantidade de produção de toxina a nível subcelular da leptospira lisada, os órgãos particularmente mais atacados são o fígado, rins, coração e músculo esquelético.

Fonte de infecção

Na área urbana o rato de esgoto  (Rattus novergicus) é o principal responsável pela infecção humana.

Reservatório

Período de incubação

O período de incubação é variável, geralmente de três a 13 dias, com extremos de de um a 24 dias, mas a média é de 10 dias.

Transmissão

Direta: através do contato direto  com urina de rato, ingestão de água e alimentos contaminados, contato com águas de enchentes e inundações contaminadas com urina de rato, mordidas de rato. Pode ocorrer transmissão transplacentária.

 Risco ocupacional

 Sinais e sintomas

As manifestações clínicas das leptospiroses são variáveis de acordo com a região geográfica e com o sorotipo predominante. Muito embora qualquer sorotipo possa determinar quadro clínico característico, há predominância de formas clínicas mais graves para determinados sorotipos. Os sintomas podem ser de pequena intensidade ou inespecíficos, semelhante à gripe,  ou muito intensos, com comprometimento de múltiplos órgãos.

A leptospirose segue geralmente uma evolução bifásica, sendo o primeiro período o de leptospirosemia, com duração de quatro a sete dias. Segue-se um período de defervescência em lise, que dura de um a dois dias, seguido de período de recrudescência da febre e dos sintomas, que pode durar de quatro a 30 dias, correspondendo ao chamado segundo período ou fase imune da leptospirose.

Fase inicial:

Forma Anictérica - Fase de leptospirosemia os sintomas de iniciam abruptamente após o período de incubação:

Fase imune:

Seguindo-se à defervescência da febre e dos sintomas, inicia-se, após um a dois dias, a fase imune, que se caracteriza por recrudescimento da febre, porém com menos intensidade, e aparecimentos de sinais e sintomas de localização em diversos órgãos. É nesta fase que os anticorpos específicos começam a ser detestados no soro do paciente. Nesta fase os seguintes sintomas geralmente aparecem:

Forma Ictérica - fase aguda:

O paciente melhora em quatro a sete dias na maioria dos casos, mas quando no 3º dia aparece a icterícia, é uma indicação que a doença está evoluindo para uma forma mais grave. Nos pacientes ictéricos além dos sintoma mencionados acima, ainda podem surgir os seguintes sintomas:

Os sinais e sintomas começam a decair a partir da terceira ou quarta semana de doença, havendo normalização gradativa, que pode durar 30 dias ou mais. Na Lepstopirose é quase constante, em variável intensidade, a ocorrência de comprometimento renal. Em alguns casos passa clinicamente despercebido, mas o aumento do nível sérico de uréia e de creatinina denunciam sua presença. É comum observar-se proteinúria, leucocitúria, hematúria e cilindrúria. Insuficiência renal grave, com oligúria ou anúria, aumento acentuado da concentração de uréia e  creatinina no soro e distúrbios eletrolíticos, pode fazer parte do quadro da forma íctero-hemorrágica da leptospirose; as conseqüência da necrose tubular aguda são geralmente responsáveis pela morte do paciente.

 Obs: Quando a doença evolui com icterícia grave, alterações hemodinâmicas, acidose metabólica,  hiperpotassemia, manifestações hemorrágicas severas, colapso cardiocirculatório, insuficiência cardíaca, insuficiência respiratória e insuficiência renal aguda é denominada de Síndrome de Weil.

 Diagnóstico

Obs: Na anamnese,  a história de exposição ao risco (enchentes, e inundações recentes) contada pelo paciente, é uma informação importante para identificar a doença, visto que a leptospirose pode ser confundida com outras doenças com sintomas parecidos.

As leptospiras podem ser cultivadas do sangue ou do liquor, geralmente na primeira e início da segunda semana da doença.

Não  existe ainda uma forma precisa e rápida de diagnóstico na fase inicial da doença. A técnica atual só pode  ser usada após um período entre uma semana e dez dias após o contato do paciente com a bactéria.  Novas técnicas estão sendo desenvolvidas.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Leptospirose não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças  que podem ser confundidas com a Leptospirose  são as seguintes: 

Forma anictérica:

Forma ictérica:

Tratamento

Por ser uma doença com várias manifestações clínicas a Leptospirose pode ser facilmente confundida com outras doenças com sintomas semelhantes, por isso a necessidade do diagnóstico diferencial. Muitos pacientes com Leptospirose recebem tratamento errado pelo profissional médico que o atendeu por não saber diferenciar os sintomas da Leptospirose de outras doenças que podem causar os mesmos sintomas. Devido ao erro de diagnóstico o paciente, muitas vezes pode ir para a UTI, ou morrer.

Obs: Os pacientes que tem a forma anictérica (sem icterícia) têm uma recuperação rápida e sem seqüelas, respondendo rapidamente ao tratamento. Os pacientes que desenvolveram  a forma ictérica evoluindo para a insuficiência renal se recuperam gradativamente em média de três a quatro semanas com recuperação total e sem seqüelas.

A hemodiálise  somente deve ser indicada  para os casos que não respondem ou que não possam ser dialisados por via peritoneal.

Quando a leptospirose evolui para a Síndrome de Weil (Insuficiência Renal Aguda, alterações hemodinâmicas, alterações cardíacas graves, alterações da consciência e manifestações hemorrágicas maciças) a forma terapêutica tem que ser mais agressiva, e o prognóstico nesse caso é reservado.

 Complicações

Seqüelas:

A Uveíte  geralmente cura completamente, embora haja casos  raros de cegueira e formação de catarata.

As alterações neurológicas decorrentes  de Mielites, Neuropatias periféricas, usualmente curam completamente, porém podem, raramente, deixar alguma seqüela. A meningite se resolve em todos os casos.

As complicações pulmonares, renais e hepáticas desaparecem com a cura da doença. As alterações funcionais retornam aos valores normais e excepcionalmente, pode haver casos que persistem com pequenas alterações permanentes de função renal. Estas alterações podem levar meses para uma resolução completa.

Prevenção

medidas sanitárias:

medidas gerais:

No caso de enchentes:

Cuidados gerais de proteção

Atualidades

Novo exame diagnóstico: Uma técnica nova desenvolvida por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, pode identificar o DNA da bactéria causadora da leptospirose em um tempo quase 20 vezes inferior ao exigido pelos métodos atuais. O teste além da rapidez detecta a doença em sua fase inicial, impedindo que a infecção seja confundida com outras enfermidades, algo muito comum, diante  da presença  de sintomas clássicos , como  febre e dores musculares.


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