Definição
É uma doença infecciosa, febril, parasitária aguda, transmitida pela fêmea do mosquito. Tem a febre como característica principal, sendo que os acessos febris têm intervalos de 24 a 72 horas. A malária humana mais grave é a do tipo Plasmodium falciparum, que pode evoluir até a morte, se não for diagnosticada a tempo. Nem toda a pessoa picada pelo mosquito transmissor contrai a doença, o organismo humano possui uma resistência natural para destruir os parasitas, essa defesa espontânea é chamada de “estado de premunição”.
A principal causa de óbitos dos que contraem a malária ainda é relacionada entre o início dos sintomas e o diagnóstico, e à conseqüente instituição de tratamento específico. Não existe vacina para essa doença. Os custos necessários à erradicação da Malária no mundo são elevados. Como os países mais afetados são os mais pobres, a Malária continua, ainda hoje, fazendo centenas de milhares de vítimas a cada ano.
Sinonímia
É uma doença também conhecida pelos seguintes nomes:
- Maleita.
- Febre dos pântanos.
- Febre das selvas.
- Impaludismo.
Protozoários do gênero Plasmodium:
- Plasmodium malariae: febre quartã.
- Plasmodium falciparum: terçã maligna.
- Plasmodium vivax: terçã benigna.
- Plasmodium ovale: malarie ovale.
Obs: No Brasil existem apenas os três primeiros plasmodium, sendo o Plasmodium vivax o mais comum.
Vetor
Mosquito da família dos Anópheles gambiae (popularmente chamado de mosquito-prego), que injeta os esporozoítos do gênero Plasmodium pela saliva, ao picar o homem. É um mosquito noturno que geralmente pica no interior das habitações entre o crepúsculo ao amanhecer. No Brasil esse tipo de mosquito é mais encontrado na região Amazônica, onde as condições climáticas ajudam à proliferação.
Fisiopatologia
Quando uma pessoa é infectada pelos plasmódios, os esporozoítos (formas infectantes do parasita) penetram na circulação sanguínea, invadem e destroem as hemácias, que lhes serviram de suporte e alimento. Dentro da circulação sanguínea os esporozoítos alcançam as células do fígado (hepatócitos) e a partir desse momento começa o processo evolutivo do parasita.
Ciclo evolutivo
· Uma fêmea do mosquito anófeles pica uma pessoa e injeta nela os plasmódios.
· Os plasmódios seguem para o fígado, onde atacam as células vermelhas do sangue, que transportam oxigênio, e se multiplicam.
· As células infectadas se rompem, liberando esporos (merozoítas), que reinfectam a corrente sanguínea.
· Outro mosquito alimenta-se do sangue de uma pessoa doente e suga os plasmódios; estes se reproduzem no estômago do inseto, migram para a saliva, onde estão prontos para infectar outro hospedeiro humano.
O homem infectado.
Depende do agente etiológico:
· Plasmodium vivax e Plasmodium ovale: média de 14 dias.
· Plasmodium falciparum: média de 12 dias.
- Plasmodium malarie: média de 30 dias.
O homem pode ser transmissor até três anos. O mosquito transmite durante toda a vida.
Transmissão
- Direta: através da picada da fêmea do mosquito infectado.
- Indireta: através de objetos contaminados pelo sangue, ou por transfusão de sangue de um doador contaminado.
- Utilização compartilhada de seringas por usuários de drogas por via endovenosa.
- Lesões por agulhas contaminadas.
Obs: No Brasil a transmissão da Malária está restrita mais à Região Norte, ao estado do Maranhão e Mato Grosso.
Sinais e sintomas gerais
O quadro clínico da malária é caracterizado por paroxismos recorrentes de febre alta e calafrios, associados a outros sintomas sistêmicos. Nem todos os pacientes demonstram os ciclos clássicos de febre e calafrios da doença.
Período prodrômico:
- febre alta média 40ºC -41°C (os estados febris duram entre 2 a 6 horas, logo após apresenta uma sudorese profusa);
- calafrios intensos e violentos;
- mal-estar geral;
- mialgias (dores musculares);
- tremores;
- sudorese (suor excessivo);
- anorexia (falta de apetite);
- icterícia;
- cefaléia;
- vômitos;
- anemia.
Fase aguda:
·
febre difícil de controlar mesmo com medicamentos;
·
calafrios incontroláveis;
·
anorexia;
·
prostração intensa;
·
hematêmese (vômito com sangue);
·
hipoglicemia (diminuição da glicose no sangue);
·
esplenomegalia (aumento do volume do baço);
·
hepatomegalia (aumento do volume do fígado);
·
hipotensão ortostática.
Casos gravíssimos:
·
anemia hemolítica aguda;
·
acidose;
·
infecção renal;
·
insuficiência renal aguda.
·
crises convulsivas generalizadas;
·
hiperparasitemia;
·
sangramentos espontâneos;
·
fraqueza extrema;
·
hipertemia prolongada;
·
choque;
·
coma.
Comprometimento do sistema nervoso: Embora possa estar relacionado com várias síndromes neurológicas, o comprometimento do sistema nervoso central pelo Plasmodium falciparum manifesta-se na maioria dos casos sob a forma cerebral (coma delirante acompanhado ou não de sinais meníngeos). A instalação do coma pode ser súbita (prognóstico mais grave) ou insidiosa; nesta eventualidade, o coma é precedido por cefaléia intensa, confusão mental, delírios, crise de agressividade, agitação ou sonolência; progressivamente o coma se aprofunda, até ocorrer perda total da consciência e dos movimentos. O liquor é hipertenso, com pleocitose linfomonocitãria e hiperproteinorraquia; em casos raros é hemorrágico.
Comprometimento renal: Na Malária causada pelo Plasmodium falciparum pode instalar-se uma Insuficiência Renal Aguda (IRA) como conseqüência de anemia hemolítica abrupta, associada com hemoglobinemia e hemoglobinúria (febre hemoglobinúrica). Essa mesma espécie de plasmódio também se relaciona eventualmente com o aparecimento de Insuficiência renal, estando ausente hemólise intensa. A Insuficiência renal pode ser causada pela oclusão parcial de vasos renais por hemácias parasitadas e à hipovolemia determinada pela desidratação (febre, vômitos e diarréia).
Obs: Durante o ataque agudo da Malária o hematócrito diminui em um a dois dias, e pode continuar a cair até uma semana após o inicio da terapia. A anemia pode ser resultante tanto pela destruição eritrocitária, como por uma resposta inadequada da medula óssea.
Diagnóstico
· Anamnese (quando o paciente relata que reside, ou fez uma viagem para uma área endêmica, esse relato pode ser uma pista diagnóstica positiva para a doença importante).
· Exame físico.
- Exame clínico.
- Exames laboratoriais.
- Pesquisa de Plasmodium spp.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial deve se feito para que a Malária não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças que podem ser confundidas com a Malária são as seguintes:
- Gripe (na fase inicial da malária).
- Dengue.
- Febre amarela.
Tratamento
Objetivo: Destruir os trofozoitos do Plasmodium no sangue que determinam os sinais e sintomas e os efeitos patológicos que caracterizam a doença.
- Específico: existe tratamento medicamentoso para essa patologia, dependendo da espécie de plasmodium que infecta o paciente.
- Sintomático: conforme os sintomas apresentados e suas intercorrências.
Assistência de enfermagem:
- Monitorização rigorosa dos sinais vitais do paciente.
- Repouso rigoroso no leito.
- Hidratação venosa.
- Administrar medicações e cuidados específicos no caso de sinais de desidratação.
- Precauções com o sangue durante toda a hospitalização.
- Ficar atento a exsudação de sangue nos locais de punção venosa.
- Às vezes é necessária a hemodiálise ou diálise peritoneal.
- Verificar a presença de sangue nas fezes.
Os doentes com Malária são divididos em dois grupos: semi-imunes (adultos com história de múltiplas infecções), e os não imunes (adultos que nunca tiveram Malária). É através dessa divisão que o tratamento e a terapêutica a ser utilizada no paciente se torna mais eficiente.
Obs: O emprego de drogas antimaláricas depende do estágio do ciclo de vida do parasita afetado, os parasitas da Malária podem desenvolver forma droga-resistente.
Complicações
- Insuficiência renal aguda (IRA).
- Síndrome nefrótica.
- Anemia profunda.
- Ruptura esplênica espontânea (ruptura do baço).
- Síndrome de angústia respiratória do adulto (SARA).
- Edema pulmonar.
- Hemorragias digestivas.
- Alterações hepáticas.
- Trombose: quando ocorre nos capilares do cérebro, pode ocorrer a malária cerebral, que nos estados mais graves provocam intensas dores de cabeça, delírio, convulsões, coma e óbito.
- Peritonite.
- Coagulação intravascular disseminada (CID).
- Septicemia.
Complicações na gravidez
Em áreas endêmicas, as mulheres grávidas são, com relativa freqüência, acometidas pela malária, esta doença acarreta, nesta condição, uma série de complicações não só para a mãe como também para o feto. Na mulher grávida a doença pode causar febre alta e calafrios, e dependendo da época da gravidez em que houve a infecção materna pode ocorrer:
- Aborto.
- Comprometimentos da placenta.
- Morte neonatal.
- Parto prematuro.
Nas formas clínicas causadas pelo Plasmodium falciparum, não é incomum a evolução fatal, não apenas da mãe, mas também de seu concepto, ambos vítimas das complicações severas que ocorrem no decurso desta parasitose (edema pulmonar, hipoglicemia etc.). Portanto, é imprescindível que a mulher no período da gravidez não entre em contato de maneira nenhuma com pacientes ou portadores de doença contagiosa, mesmo que o paciente esteja no final do tratamento ou que esteja em período de convalescença. Algumas doenças contagiosas ainda são transmissíveis por algum tempo, mesmo depois de terminado o tratamento, principalmente pelas vias aéreas superiores.
Seqüelas
- Ataques repetidos da doença.
- Anemia crônica resultante dos ataque repetidos da doença.
O combate a Malária deve ser coordenado pelas Autoridades Sanitárias e pela Saúde Pública.
medidas sanitárias:
· Notificação Compulsória às Autoridades Sanitárias.
- Controle eficaz dos doadores de sangue.
- Identificar e tratar os portadores da doença.
- Educação sanitária às comunidades em região endêmicas.
- Campanhas de prevenção através dos meios de comunicação.
- Profilaxia antimalárica às pessoas residindo temporariamente ou viajando por regiões endêmicas (quimioprofilaxia)
- Viajantes que seguem para regiões em que ocorra a malária, devem se informar nos postos de saúde, aeroportos, rodoviárias, portos, sobre as medidas de proteção contra a doença.
medidas gerais:
- Combater os vetores utilizando inseticidas.
- Deve-se evitar picadas de mosquito.
- Usar mosquiteiros impregnados com permetrina.
- Telas nas janelas e portas em regiões endêmicas.
- Utilizar se possível calça comprida, bota, meia, e camisa de manga comprida.
- Tentar se hospedar, se possível,em locais com ar-condicionado nas regiões endêmicas.
- Usar inseticida em aerossol nos locais onde for dormir.
- Uso de repelentes contra mosquitos à base de DDET.
- Uso de medicamentos (quimioprofilaxia), principalmente para pessoas que não vão ter acesso aos Serviços de Saúde, esses medicamentos devem ser utilizados pelo menos uma semana antes de ir para a região endêmica.
- Quimioprofilaxia deve ser feita geralmente uma semana antes da entrada em área de risco para a malária, e deve ser mantida por quatro semanas após o retorno, mas mesmo assim a pessoa pode adquirir a malária; pessoa que foi para área endêmica e que ao retornar apresente febre alta, deve procurar imediatamente o Postos de Saúde para uma averiguação diagnóstica.
- Quando viajar entrar em contato com o Centro de Informações em Saúde para Viajantes (CIVES).
Dúvidas de expressões e termos técnicos, consulte o Glossário geral.