TRANSFUSÃO DE SANGUE
Definição
Transfusão de sangue é a introdução de sangue na circulação. Uma unidade de sangue (retirada de um doador) consiste de aproximadamente 450 ml de sangue total e de 6-70 ml de solução ácido-citrato-dextrose (ACD), que é uma das soluções anticoagulantes para a preservação, ou de heparina. O sangue total é usado para a perda sanguínea aguda.
Finalidades
· Restaurar o volume sanguíneo circulante.
· Repor os fatores da coagulação.
· Melhorar a capacidade de transporte de oxigênio do sangue.
Componentes do sangue
O sangue humano é constituído por um líquido amarelado, o plasma, e por três tipos de elementos celulares, genericamente chamados de elementos figurados do sangue: hemácias (células vermelhas), leucócitos (células brancas) e plaquetas (fragmentos celulares também conhecidos como trombócitos). Cerca de 55% do volume do sangue é devido ao plasma, sendo o restante devido às células. No corpo de uma pessoas de aproximadamente 70 kg há cerca de 5,6 litros de sangue.
Componentes do sangue a serem transfudidos
Papa de Hemácias: são eritrócitos separados de uma unidade de sangue total por centrifugação ou sedimentação; retiram-se cerca de 80% de plasma, o que produz um hematócrito de 60-70%. O plasma é usado para o preparo das várias frações plasmáticas tipo albumina, crioprecipitado ou gamaglobulina. A papa de hemácias é indicada para:
· Pacientes que precisam apenas de hemácias.
· Pacientes com anemia intensa e com volume sanguíneo relativamente normal.
· Pacientes com risco de insuficiência cardíaca.
Transfusões de Plaquetas: feitas em pacientes com graus perigosos de trombocitopenia (diminuição de plaquetas no sangue circulante) para controlar ou prevenir sangramento. O uso de plaquetas equivalentes é mais vantajoso e reduz risco de formação de anticorpos. As transfusões de plaquetas são feitas no tratamento da leucemia, anemia aplástica e trombocitopenia induzida pela quimioterapia ou por medicamentos. Plaquetas viáveis podem ser fornecidas na forma de:
· Sangue fresco: substitui células vermelhas e plaquetas.
· Plasma rico em plaquetas (PRP): contém 80-90% das plaquetas originais.
· Concentrados de plaquetas (CP): retêm quase todas as plaquetas originais num estado viável, porém num volume reduzido.
Plasma Total: é a parte líquida do sangue na qual os corpúsculos ficam suspensos.
· Utilizado no tratamento dos defeitos de coagulação.
· Correção de hipovolemia devida à perda seletiva de plasma; principalmente em pacientes queimados.
· Correção de hipovolemia na perda aguda de sangue, quando não se dispõe no momento de sangue total.
· Como um expansor plasmático para a hipovolemia ou como uma fonte exógena de albumina plasmática para a hipoalbuminemia, o plasma total foi amplamente substituído por preparados puros de albumina sérica e de outras frações plasmáticas que estão incluídas na albumina.
· Plasma Fresco Congelado: plasma que foi separado imediatamente de sangue recém-doado e a seguir rapidamente congelado. O fator V (um dos aceleradores da conversão da protrombina) e o fator VIII (o fator anti-hemofílico) são retidos por esse processo.
· Concentrados do Fator VIII (existem numerosos fatores da coagulação identificados por números e nomes). Crioprecipitado: eficaz no tratamento da hemofília A (deficiência do fator VIII) e na deficiência de fibrinogênio.
· Albumina Sérica Humana e outros preparados de albumina: serve para combater a exsudação de plasma e prevenir a hemoconcentração em pacientes queimados; para expandir o volume sanguíneo em pacientes com choque hipovolêmico; para aumentar a albumina circulante em pacientes com hipoalbuminemia.
· Fibrinogênio Humano: usado para a hipofibrinogenemia congênita e adquirida, complicada por sangramento ativo.
Infusões de Granulócitos: feitas em pacientes com depressão intensa e temporária da medula óssea. É um processo caro.
Doadores e Receptores
Nas transfusões de sangue, é necessário que haja compatibilidade entre o antígeno (ou aglutinogênio) das hemácias do doador e o anticorpo (ou aglutinina) do plasma do receptor.
Se um indivíduo do grupo sanguíneo A, que possui antígeno A, doar sangue a um indivíduo do grupo B, ocorrerá aglutinação, pois neste indivíduo receptor já existe o anticorpo anti-A pronto no plasma. Esse anticorpo reage com o antígeno A das hemácias do doador, aglutinando-as. Essa aglutinação promove a formação de grumos no sangue, que obstruem os vasos sanguíneos, podendo levar o indivíduo à morte. Assim, um indivíduo do grupo A não pode doar sangue a um indivíduo do grupo B.
Os indivíduos do grupo sanguíneo O, podem doar sangue para indivíduos de todos os outros grupos, pois suas hemácias não contêm os aglutinogênios A e B. Por isso são denominados doadores universais.
Os indivíduos do grupo sanguíneo AB podem receber sangue de indivíduos de todos os outros grupos, pois seu plasma não contém as aglutininas anti-A e anti-B. Em razão disso, são denominados receptores universais. Embora isso seja possível, sempre há necessidade de cautela, pois o ideal é que as transfusões sejam feitas entre indivíduos do mesmo grupo sanguíneo.
Cuidados a serem tomados antes da transfusão
· Checar a classificação do sangue, a realização da prova cruzada e se o grupo ABO e o tipo Rh nos traços de sangue estão de acordo com as anotações da compatibilidade. A classificação é feita para estabelecer o grupo sanguíneo (A, B, AB ou O) e o fator Rh; a prova cruzada é feita para estabelecer a compatibilidade entre o sangue do paciente e o do doador.
· Conferir os rótulos de identificação do sangue do doador e do receptor (número e tipo) e confirmar a identidade do paciente que vai receber.
· Pendurar a unidade de sangue a cerca de 1 metro acima do nível do coração do paciente.
· Não se deve adicionar medicamentos ao sangue. Não dar solução de Dextrose a 5% com o sangue.
· Administrar o sangue dentro de 20 minutos após retirá-lo do banco de sangue. A estocagem do sangue deve ser mantida até pouco antes da administração. Pode ocorrer deterioração rápida das hemácias num sangue não congelado.
· Inspecionar o sangue à procura de bolhas gasosas e de qualquer coloração ou turvação anormal. As bolhas de gás podem indicar crescimento bacteriano; coloração ou turvação anormais podem sugerir hemólise.
Cuidado! A atenção meticulosa aos detalhes é essencial para evitar a administração de sangue errado para o paciente, caso ocorra, pode causar uma reação fatal. Mesmo que seja um profissional de uma empresa que forneça e instale o sangue no paciente, o pessoal de enfermagem tem por obrigação checar o sangue.
O acréscimo de medicamento ao sangue pode causar uma incompatibilidade farmacológica entre o sangue ou a solução anticoagulante existente no mesmo.
Complicações
· Sobrecarga Circulatória: Devido à administração de um volume excessivo ou numa velocidade superior a que o coração pode aceitar. Para prevenir a sobrecarga circulatória a infusão sanguínea deve ser lenta. Pesquisar a ocorrência de elevação da pressão venosa, distensão das veias do pescoço, dispnéia, tosse, estertores nas bases pulmonares. Interromper a transfusão imediatamente.
· Reação Pirogênicas (reação febril): causada por pirogênios bacterianos, sensibilidade aos leucócitos ou plaquetas, episódios hemolíticos ou fatores desconhecidos. O paciente apresentará hipertemia e calafrios súbitos, vermelhidão e taquicardia dentro de 30 minutos a seguir o choque, podendo levar à morte. A hemotransfusão é suspensa.
· Reação alérgica: O sangue de paciente alérgico pode conter anticorpos capazes de reagirem com alérgenos existentes no sangue do doador. caracterizada por urticária ou prurido generalizado, raramente sibilos e anafilaxia. O paciente apresenta ruborização, prurido e erupções cutâneas; urticária; sibilos asmáticos e edema laríngeo. Interrompe a transfusão e administra a medicação prescrita.
· Reação séptica: O paciente apresenta enquanto está sendo transfudido calafrios e hipertemia, vômitos e hipotensão acentuada. A transfusão é suspensa imediatamente, comunica-se ao médico e ao banco de sangue. Obter amostras para hemoculturas e administração imediata de medicação prescrita.
· Reação hemolítica ou Incompatibilidade: É o tipo mais perigosa e grave de reação e ocorre quando o sangue do doador é incompatível com o receptor. O paciente apresenta calafrios, febre, vermelhidão, lombalgias, cefaléia, tonturas, náuseas, opressão torácica, distensão das veias do pescoço, hipertemia, taquicardia, taquipnéia, hipotensão e colapso vascular. Interromper a transfusão imediatamente; as conseqüências são proporcionais à quantidade de sangue incompatível administrado.
· Reação hemolítica tardia: Ocorre de 2 a 14 dias na pós-transfusão e caracteriza-se por hipertemia, icterícia leve, redução gradativa do nível de hemoglobina e raramente hemoglobinúria.
· Hipercalemia: É causada pelo excesso de potássio, pode ocorrer náuseas, cólicas, diarréia, fraqueza muscular, parestesias das mãos, pés, língua e face, paralisia flácida, diminuição da freqüência do pulso e parada cardíaca.
· Hipocalemia: O déficit de cálcio pode ocorrer com a administração de um grande volume de sangue citratado. Pode ocorrer dormência nos dedos e na região perioral, cãibras musculares, reflexos hiperativos, convulsões, espasmos das mãos e espasmos laríngeos.
·
Embolia
Gasosa: Ocorre se o
sangue é transfundido sob pressão. Pode ocorrer dor
torácica, tosse e dispnéia. Pode-se impedir a
penetração de ar nos equipos, especialmente ao trocar
os conjuntos de infusão.
Doenças transmitidas pela transfusão sanguínea
São doenças que podem ser transmitidas do doador para o receptor, através de sangue infectado.
· AIDS.
· Citomegalovirose.
· Doenças bacterianas.
· Doença de Chagas.
· Hepatite.
· HTLV.
· Malária.
· Sífilis.
Dúvidas de termos técnicos e expressões consulte o Glossário geral.
Maiores informações sobre Doação de sangue, consulte o Menu de Assuntos diversos.