GLAUCOMA


Definição

O Glaucoma é uma doença provocada pelo aumento da pressão  no interior do olho devido a uma resistência aumentada nos canais de drenagem (malha trabecular).  O Glaucoma é uma doença crônica, não contagiosa, de característica hereditária e irreversível.  A doença provoca deformações e enrijecimento do globo ocular, deficiências visuais transitórias e, eventualmente, cegueira. A doença causa danos ao nervo óptico (nervo extenso localizado atrás dos olhos, responsável pelas imagens visuais transmitidas ao cérebro). Quando detectado no início, pode ser controlado sem maiores danos, mas se for ignorado, pode causar cegueira. O Glaucoma costuma atingir adultos acima de 40 anos e com histórico familiar da doença.

O Glaucoma é uma das causas mais comuns de cegueira no mundo. Não existe cura para o Glaucoma, mas existem medicamentos, que podem ajudar a prevenir a perda da visão. O principal para o controle da doença é o seu diagnóstico precoce, seguir o tratamento indicado pelo oftalmologista e o acompanhamento regular através de exames oftalmológicos.

Incidência

·         Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, o Glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo.

·         Pessoas que têm história de Glaucoma na família, as chances de adquirir a doença aumentam em 10%.

·         O Glaucoma é mais prevalente entre pessoas com mais de 40 anos de idade, e a incidência aumenta com a idade.

·         Estima-se que 2% dos adultos com mais de 40 anos sejam portadores da doença; aos 70 anos, o índice é de 16% e aos 80 sobe para 23%.

·         No Brasil, o Glaucoma atinge mais de 1,2 milhões de pessoas.

·         O Glaucoma atinge as pessoas de todas as raças, sexo e nacionalidade.

·         A doença atinge cerca de 65 milhões de pessoas anualmente em todo o mundo.

·         Maior incidência em indivíduos descendentes de africanos.

·         Aumento da incidência em pessoas com Diabetes.

·         A maior prevalência da doença  entre as mulheres é provocada pelo aumento da pressão intra-ocular, induzida pelos hormônios e pela menor profundidade da câmara anterior.

Portadores de miopia (dificuldade de enxergar longe) que costumam passar horas em frente à tela de um micro têm mais chance de desenvolver Glaucoma do que usuários eventuais. Os cientistas japoneses que fizeram a pesquisa entre os míopes e aficcionados em computadores,  acreditam que os olhos com miopia se tornam mais vulneráveis e por isso o problema seria desencadeado. A incidência aumenta quando os portadores de miopia têm  hipertensão e  são fumantes.

Causas

·         Diabetes.

·         Doenças oculares.

·         Fator genético.

·         Hereditariedade (pessoas com casos de Glaucoma na família).

·         Hipertensão arterial.

·         Indivíduos negros e asiáticos têm maiores chances de apresentar  a doença.

·         Lesão grave no olho por acidente.

·         Miopia.

·         Rubéola.

Fisiopatologia

Dentro do olho, circula o humor aquoso, um líquido responsável pela lubrificação e nutrição da sua estrutura. No olho saudável, a quantidade de líquido produzida é drenada, formando uma pressão intra-ocular normal. Quando a drenagem é insuficiente ou quando a produção do líquido é excessiva, ocorre o aumento da pressão interna do olho, que pode causar danos irreversíveis ao nervo óptico. Nesse processo, acontece a redução gradativa da visão, sem que a pessoa perceba. Quando a hipertensão se instala, depois de ocorrerem alterações anatômicas ou infecções oculares, caracteriza-se um Glaucoma secundário. Se ela ocorre espontaneamente, sem  causas aparentes que a justifiquem, trata-se de um Glaucoma primário, que constitui a maior parte dos casos dessa natureza.

Classificação

Glaucoma primário de ângulo aberto:  O aumento da pressão interna vai destruindo as células do nervo óptico, provocando o surgimento de "pontos cegos". O tratamento evitará o aumento desses pontos, mas eles não serão recuperados, porque as células já estarão mortas. Esse é o tipo mais comum e atinge 80% dos casos.

Glaucoma de ângulo fechado: É um dos tipos mais perigosos. A pressão ocular aumenta subitamente e em pouco tempo pode causar cegueira. Assim como nos outros tipos de Glaucoma, essa cegueira é irreversível. Visão embaçada, dor ocular intensa, percepção de halos coloridos em volta das luzes, náusea e vômitos são sintomas freqüentes, que indicam a necessidade imediata de um exame oftalmológico.

Glaucoma de pressão normal:  O nervo óptico é lesado em pessoas com pressão intra-ocular normal. Esse tipo de Glaucoma  também não apresenta fortes sintomas. Na maioria dos casos, a doença progride dos campos laterais para o centro, e o paciente não percebe.

Glaucoma congênito:  Desde o nascimento, a drenagem ocular já é deficiente. Nesse caso, a córnea costuma ser opaca e maior que o normal.  A criança costuma ficar com a visão embaçada, sensível à luz e chora em excesso.  Esse Glaucoma é um tipo raro e pode ser diagnosticado pelo pediatra nos primeiros dias após o parto.

Fatores de risco

Os fatores de risco aumentam a probabilidade de se desenvolver a doença, mas não garante que ela venha a ocorrer. Os fatores de risco para desenvolver o Glaucoma são os seguintes:

·         História familiar de glaucoma de qualquer tipo.

·         Pressão intra-ocular (PIO) elevada.

·         Pessoas de descendência afro-americanas.

·         Idade maior que 40 anos.

·         Descendentes de africanos, escandinavos, asiáticos, celtas ou russos.

·         Diabetes.

·         Hipertensão arterial.

·         Doença cardiovascular.

·         Síndromes tipo enxaqueca.

·         Grau alto de miopia.

·         Trauma ocular prévio.

·         Uso regular ou prolongado de corticosteróides tópicos ou sistêmicos.

·         Uso regular ou prolongado de esteróides.

·         Idade avançada.

ObsPessoas que possuem qualquer um destes fatores de risco é importante que se submetam periodicamente a exames oftalmológicos. A detecção e o tratamento precoce do Glaucoma podem retardar o progresso da doença e prevenir a cegueira.

Estágios

A despeito da causa da lesão, as alterações glaucomatosas evoluem tipicamente através de estágios claramente perceptíveis. Os estágios do Glaucoma são os seguintes:

1.      Eventos iniciais: os fatores precipitantes, que incluem doença, estresse emocional, ângulos estreitos congênitos, uso de corticosteróides por longo prazo e midriáticos (medicamentos que provocam a dilatação da pupila). Esses eventos levam ao segundo estágio.

2.      Alterações estruturais no sistema a de fluxo do humor aquoso: alterações teciduais e distúrbios, como as alterações celulares causadas pelos fatores que afetam a dinâmica do humor aquoso. Essas alterações estruturais levam ao terceiro estágio.

3.      Alterações funcionais: distúrbios, como a PIO aumentada ou fluxo sanguíneo comprometido. As alterações funcionais levam ao quarto estágio.

1.      Lesão do nervo óptico: atrofia do nervo óptico caracterizada pela perda de fibras nervosas e do suprimento sanguíneo. o quarto estágio progride inevitavelmente para o quinto estágio.

2.      Perda da visão: a perda progressiva da visão caracterizada por defeitos no campo visual.

Glaucoma e a PIO

O olho é preenchido por líquidos que ajudam a manter certa pressão interna. Esta se chama pressão intra-ocular (PIO). Os médicos podem medir   facilmente a PIO e usar estes dados como um índice importante no diagnóstico e no tratamento do glaucoma. A PIO normal está entre 12 e 22 mmHg (milímetros de mercúrio).  A parte anterior do olho é preenchida por um líquido chamado humor aquoso. Este é produzido pelo olho, com a finalidade de lavar e alimentar as suas diferentes partes. Normalmente, flui para fora do olho através de vários caminhos e câmaras. Quando estes caminhos estão obstruídos, há um aumento da pressão intra-ocular.

Um exame importante para medir a PIO é a tonometria. Este é um procedimento onde o médico usa um aparelho chamado tonômetro para medir a PIO. É uma prova importante, pois a PIO elevada é o fator de risco mais importante para o Glaucoma. O controle da PIO é o objetivo mais importante da terapia do Glaucoma. Quando a PIO está controlada, o nervo óptico está menos exposto ao risco de ser lesionado, protegendo a visão.

Doenças que podem atingir o olho

·         Toxoplasmose, Rubéola, Aids, Tuberculose, Herpes simples, Sífilis e outras doenças infecciosas atacam mais a retina e a coróide.

·         Reumatismo, Esclerose múltipla e outras doenças auto-imunes prejudicam a íris.

·         Diabetes, Hipertensão e anemia atingem os vasos da retina.

Sinais e sintomas

O Glaucoma se desenvolve lentamente, isto explica porque muitos pacientes vivem muitos anos antes de notar algum sintoma. A doença não causa dor e raramente nota-se a perda progressiva da visão, pois ela se dá da periferia para o centro. Mas, geralmente os pacientes procuram o oftalmologista devido as seguintes queixas:

·         Aparecimento de "halos"em torno dos pontos luminosos.

·         Desconforto em torno dos olhos.

·         Cefaléia (dor de cabeça).

·         Problemas de focalização.

·         Dificuldade em ajustar os olhos perante a iluminação deficiente.

·         Perda da visão periférica.

·         Crises de vômitos.

·         Náuseas.

Diagnóstico

·         Anamnese.

·         Exame oftalmológico: existem diferentes exames que podem auxiliar na identificação do Glaucoma:

o    Tonometria: mede a pressão intra-ocular através de um jato de ar ou de um prisma plástico.

o    Oftalmoscopia: permite a observação e análise do nervo óptico.

o    Gonioscopia: permite a observação e análise do ângulo  da câmara anterior do olho.

o    Campimetria: exame computadorizada que analisa os danos causados ao nervo óptico responsável pelo campo visual.

o    GDX (analisador de fibras nervosas a laser): exame computadorizado que permite a avaliação da camada de fibras nervosas, primeira estrutura lesada do glaucoma.

o    OCT (tomógrafo de coerência óptica): exame computadorizado que permite avaliar as diversas camadas da retina, detectando alterações precoces no glaucoma.

o    Paquimetria:  avalia a espessura corneana, um dado importante no controle da Pressão Intra Ocular (PIO).

Obs: Após o diagnóstico de Glaucoma, o oftalmologista tem como finalidade estabelecer a categoria diagnóstica, avaliar a lesão do nervo óptico e formular um plano de tratamento.

Atenção:  Qualquer doença ocular só deve ser diagnosticada por um profissional especializado.  Aos primeiros sinais de qualquer problema visual, procure o oftalmologista. Quanto mais cedo for tratado, maior a chance de cura.

Tratamento

Objetivo: Manter a pressão interna do olho  (PIO) dentro de parâmetros que seja improvável de provocar a lesão adicional do nervo óptico.

O tratamento correto será indicado pelo oftalmologista, que é o médico especializado  para tratar dos distúrbios e doenças do olho.

O Glaucoma é uma doença irreversível.  O tratamento visa proporcionar o controle da pressão interna do olho, evitando maiores danos ao nervo óptico e o avanço da doença.  Existem vários métodos de controle da pressão interna do olho:

Tratamento medicamentoso: O efeito principal da  maioria dos medicamentos é a diminuição da PIO.

Colírios: Em 80% dos tipos de glaucoma respondem bem aos colírios.

Análogos das prostaglandinas: Os análogos das prostaglandinas foram introduzidos no Brasil em 1997. Todos atuam aumentando a drenagem do humor aquoso, diminuindo desta forma a PIO. O colírio é pingado uma vez por dia e o controle da PIO é efetivo por muitos anos. Efeitos colaterais: hiperemia (o olho fica um pouco vermelho).

Betabloqueadores: Estas drogas tem sido usadas para tratar o glaucoma durante décadas. A mais comumente usada é o maleato de timolol. As doses variam de uma a duas instilações diárias Os betabloqueadores atuam diminuindo a produção do humor aquoso, resultando na diminuição da PIO. Efeitos colaterais: diminuição da pressão arterial e da freqüência cardíaca, que podem provocar uma certa fadiga (cansaço).

Alfa-agonistas:  O Alfa-agonista mais comum é a brimonidina. Deve ser utilizadas duas a três vezes por dia. Os alfa-agonistas aumentam a drenagem do humor aquoso e diminuem sua formação, reduzindo a PIO. Efeitos colaterais: a brimonidina pode causar reações  alérgicas oculares e sonolência.

Inibidores da anidrase carbônica: Os inibidores da anidrase carbônica como a brinzolamida e dorzolamida são apresentados em forma oral (comprimidos) e colírios. As doses para estes colírios são 2 a 3 vezes por dia. Diminuem a PIO por reduzir a produção do humor aquoso. Efeitos colaterais:

·         Colírios: leve ardor ou sensação de queimação nos olhos.

·         Comprimidos: náuseas e diarréia.

Miótico:  O miótico mais comum é a pilocarpina. Foi uma das primeiras drogas a ser usada no tratamento do Glaucoma e é receitada, geralmente, com doses de três à quatro vezes por dia. Diminui a PIO por aumentar a drenagem do humor aquoso. Efeitos colaterais: visão borrada, cefaléia e diminuição do tamanho da pupila.

Obs: Muitos medicamentos oculares antiglaucoma afetam a acomodação do cristalino e limitam a entrada de luz através de uma pupila contraída. A focalização e a acuidade visual podem ser afetadas. Os fatores a considerar na seleção de medicamentos para Glaucoma são a eficácia,  os efeitos colaterais sistêmicos e oculares, a tolerabilidade, a conveniência e o custo.

Tratamento cirúrgico: Cirurgias a laser: O laser é usado para abrir novos canais de drenagem para fora do olho, diminuindo a pressão interna do olho. As cirurgias a laser  mais comuns para o glaucoma são a trabeculoplastia a laser e a Iridotomia a laser.

·         Trabeculoplastia a laser: Cerca de 80 a 100 queimaduras a laser igualmente espaçadas são aplicadas na superfície interna da rede trabecular, resultando na formação cicatricial e enrugamento do tecido colágenoso. Os espaços intratrabeculares se abrem, alargando o canal  de  Schlemm, o que resulta no melhor efluxo do humor aquoso. O efluxo aumentado resulta em níveis diminuídos de PIO. Complicações: Elevação transitória da PIO.

·         Iridotomia a laser:  Consiste na criação de uma abertura na íris com o feixe de laser como uma técnica de  incisão com laser, visando eliminar o bloqueio pupilar. Complicações: queimaduras da córnea, cristalino ou retina; PIO elevada transitória; fechamento da irodotomia; uveíte e turvação.

Cirurgia filtrante: O procedimento cirúrgico mais comum para o Glaucoma crônico é o procedimento de filtração:

·         Trabeculectomia:  É a técnica padronizada para procedimentos de filtração que envolvem a retirada de uma parte da rede trabecular. Complicações graves: hemorragia, PIO extremamente baixa (hipotonia) ou elevada, uveíte, catarata, falência da bolha, extravasamento da bolha e endoftalmite.

·         Implantes de drenagem: Os implantes de drenagem são aparelhos que mantêm a potência da fístula de drenagem ao drenarem para um reservatório externo. Esses implantes consistem em um tubo aberto implantado na câmara anterior que desvia o humor aquoso para uma placa presa no espaço conjuntival.

Prognóstico: A terapia para o resto da vida é quase sempre necessária, porque o Glaucoma não pode ser curado. Caso o tratamento não seja seguido à risca, o portador de Glaucoma ficará cego.

Prevenção

Não há prevenção nem cura, mas o Glaucoma pode ser controlado com o uso contínuo de colírios, que reduzem a produção do humor aquoso e normalizam a pressão intra-ocular.

Cuidados para usar o colírio

·         Leia a bula que acompanha o medicamento, e siga corretamente as instruções nela contidas.

·         Lave as mãos.

·         Tenha o cuidado de não tocar o olho ou os cílios, com a ponta do aplicador.

·         Se for aplicar diferentes tipos de colírio no mesmo olho, espere pelo menos dez minutos entre a aplicação dos colírios, para que a segunda gota não elimine a primeira.

·         Você perceberá que a medicação atingiu o seu olho adequadamente. Caso isso não aconteça, coloque uma gota.

·         Mantenha os olhos fechados durante 1 a 2 minutos, para permitir que a medicação seja absorvida.

·         Use um lenço de papel para retirar o excesso de colírio.

·         Você pode sentir pequena ardência nos olhos, mas a sensação passará em segundos. Não deixe de usar seu colírio por esse motivo

Como utilizar o colírio:

·         Puxe a pálpebra inferior para formar uma bolsa.

·         Instile a gota de colírio dentro da bolsa formada pela pálpebra.

·         Pressione levemente o canto interno do olho, durante 3 minutos para ocluir o ducto lacrimal.

Recomendações

Pessoas acima de 40 anos, com antecedente familiar da doença, devem fazer check-up para o Glaucoma. Depois dos 60 anos, o teste deve ser feito a cada ano. A prevenção e o tratamento precoce preservam a visão e garantem uma vida normal e saudável. Somente o exame oftalmológico completo pode indicar, corretamente, o diagnóstico do Glaucoma.

Pessoas que têm Glaucoma  devem fazer os exames periódicos de acompanhamento, porque esses são essenciais para monitorizar a PIO, o aspecto do disco óptico, os campos visuais e os efeitos colaterais dos medicamentos.

Sempre deve informar ao seu oftalmologista se está usando outros medicamentos, especialmente aqueles comprados sem receita. E, se consultar outro médico, não deixe de informá-lo de que está sendo tratado do Glaucoma.


Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o Glossário geral.