AUTISMO


Definição

O Autismo é uma síndrome definida por alterações presentes desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três anos de   idade, e que se caracteriza sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. Como em qualquer síndrome, o grau de comprometimento pode variar do  mais severo ao mais brando. No Autismo, as dificuldades variam em grau e intensidade e o comprometimento pode ser muito grave e estar associado à deficiência intelectual, ou tão leve que o portador do transtorno consegue levar uma vida próxima do normal.

O Autismo pertence a uma classe de distúrbios conhecida como  transtornos globais do desenvolvimento, que inclui também a Síndrome de Asperger, um problema que costuma ser confundido com o Autismo, por apresentar sintomas muito parecidos. A diferença é que os portadores de Asperger não apresentam déficit de linguagem e, nos casos extremos, têm capacidade de memorização bem acima da média. A maioria dos autistas têm o aspecto físico de uma criança “normal”. Nem a expressão facial é diferente. A coordenação motora também é boa. Só o comportamento é diferente. Quando o autista apresenta  muitas diferenças físicas, mentais e neurológicas, pode ser decorrente de alguma outra patologia associada.

O Autismo é considerado um distúrbio do desenvolvimento humano, que compromete seriamente os padrões de comunicação, interação social e no uso da imaginação, desde a infância. O Autismo diminui a capacidade de um indivíduo se comunicar e de  se relacionar socialmente. A dificuldade dos autistas em entender  o contexto social, transforma a rotina em parte fundamental das suas vidas, e por isso as mudanças físicas e ambientais trazidas pela adolescência, podem agravar o quadro.

Para as outras pessoas consideradas "normais", o autista é descrito geralmente, como uma pessoa estranha com comportamento esquisito. A falta de informação também faz com que as pessoas considerem os autistas, pessoas com deficiência mental, quando isso é mais o resultado da falta de estímulo ou do diagnóstico tardio.

A observação prévia dos pais tem extrema importância para o diagnóstico do Autismo.

Sinonímia

O Autismo também é conhecido por outra nomenclatura:

·         Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Histórico

O termo  "autismo" foi empregado pela primeira vez por Eugene Bleuer, em 1911, para designar  a perda de contato com a realidade dentro do quadro de Esquizofrenia. O Autismo foi descrito em 1943, pelo psiquiatra austríaco, radicado nos EUA, Léo Kanner. Ele estudou 11 crianças que, embora mostrassem grandes conhecimentos em certas áreas, não conseguiam conversar. Ele caracterizou o Autismo como um isolamento externo do indivíduo,  um desapego ao ambiente, detectado já no primeiro ano de vida.

Incidência

·         Pesquisas demonstram que  a ocorrência no sexo masculino são quatro vezes maior.

·         Estudos estatísticos indicam a incidência atual que varia de 40 a 130 casos por 100.000  nascimentos.

·         No Brasil, ainda não existem estatísticas oficiais de incidência.

·         Em alguns casos, está associado também a quadro de epilepsia.

·         Entre os autistas, 40% podem apresentar deficiência mental em vários graus de comprometimento.

·         Muitos autistas  que têm o distúrbio em um grau mais leve, quando adultos têm uma preferência  pelas carreiras que envolvem a  Matemática, Engenharia e Computação.

·         O Autismo não tem prevalência por qualquer grupo social, cultural  e racial da população em geral.

·         Os autistas têm uma expectativa de longevidade normal.

Causas

Embora o Autismo seja alvo de estudos psiquiátricos desde a década de 40, pouco se sabe sobre suas causas.  O Autismo não é doença. Trata-se de um distúrbio de desenvolvimento que pode ser causado por uma série de outras doenças e determinado por alterações genéticas em vários cromossomos, que podem cursar para o Autismo. 

Estudos demonstram que fatores biológicos estão implicados na etiologia do transtorno autista, embora não tenha sido ainda identificado um marcador biológico específico.   

Alguns casos são atribuídos a drogas teratogênicas (como a talidomida) consumidas pela mulher grávida.  Metais pesados como chumbo, mercúrio e outros materiais também parecem danificar o cérebro e levar ao Autismo. 

A Síndrome Fetal Alcoólica provocada pela ingestão de álcool durante a gravidez é uma das causas freqüentes de deficiência mental e Autismo.

Atualmente, sabe-se que o Autismo não pode ser causado por fatores emocionais e/ ou psicológicos. O Autismo nada tem a ver com o ambiente psicossocial. Antes, a culpa recaia sobre os pais. Acreditava-se que as crianças se tornavam autistas porque não eram amadas e tinham deficiência na educação dada pelos pais. Essa visão tornou-se ultrapassada quando surgiram os estudos genéticos.

Autismo e o preconceito

O Autismo não é doença. O preconceito sobre o autista geralmente é devido ao baixo nível  de informação sobre o transtorno. O maior obstáculo aos autistas é mesmo o desconhecimento da sua condição. Como predomina uma falta de conhecimento mais aprofundado sobre o distúrbio, inclusive nos meios médicos, o diagnóstico demora. Os pais percorrem um longo caminho até chegar ao diagnóstico correto. A falta de informação também faz com que as pessoas considerem o autista, uma pessoa com deficiência mental. Dentre os autistas, apenas 50% apresentam deficiência mental, e isso geralmente acontece por falta de acompanhamento especializado ou diagnóstico tardio. A depender do nível de Autismo apresentado e da idade do diagnóstico, os autistas podem não encontrar atividades voltadas para pessoas com necessidades especiais. Os prejuízos causados por essa dificuldade de aceitação,  pela sociedade, ganham proporções ainda maiores quando se sabe que muitas crianças com autismo leve, tecnicamente chamado de Síndrome de Asperger  são superdotadas. Nesses casos específicos,  o preconceito é por causa do nível de inteligência do autista que é mais alto do que a média geral.

Autismo e a escola regular

Para a criança autista existem inúmeras dificuldades de interação social  na escola. A linha divisória é saber se ela  consegue lidar com a escola sem sucumbir às pressões do cotidiano da vida escolar. Se ela é capaz de acompanhar as aulas, apesar dos sintomas do autismo, provavelmente terá sucesso no futuro. Muitos autistas com a Síndrome de Asperger (autismo leve) se tornam professores universitários, matemáticos, engenheiros, advogados etc. Mas, caso a criança autista não consiga acompanhar as aulas, devido às suas limitações, poderá ter muitas dificuldades, e começará a ser discriminada pela própria turma.  No caso dos professores, muitos também não sabem lidar com crianças especiais, e podem tratá-las com distância, discriminação e indiferença, por não entender o seu grau de deficiência intelectual. Os próprios pais percebem a situação, principalmente quando a criança se queixa de que não quer ir mais para escola, porque não consegue  acompanhar o que o professor fala e escreve, ou porque sofre discriminação e distanciamento por parte dos seus colegas.  Os professores e funcionários devem receber um treinamento especializado para que possam lidar com essas crianças com mais profissionalismo,  tato, carinho e amor. Infelizmente, algumas crianças ditas "normais" conseguem ser bem cruéis e preconceituosas, com as outras crianças "especiais" que estudam na mesma escola, independente da faixa etária. Por isso, os pais devem pensar muito bem nos aspectos positivos e negativos, quando for matricular  seu filho com Autismo em uma escola regular, que não está adaptada para recebê-lo.

Autismo  e a criança

O Autismo infantil é considerado um transtorno global do desenvolvimento caracterizado pelo desenvolvimento anormal ou alterado, que se manifesta antes da idade de três anos. O Autismo leva a criança  a viver num mundo em que não existe a noção de fantasia. Apresenta uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo.  Além disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (auto-agressão).Quando as crianças autistas crescem, desenvolvem  sua habilidade social em extensão variada. Alguns permanecem indiferentes, não entendendo muito bem o que se passa na vida social, outros se comportam como se as outras pessoas não existissem, olham através delas, como se elas não estivessem lá, e não reagem a alguém que fale com elas ou as chame pelo nome. Geralmente, suas expressões  mostram muito pouco de suas emoções, exceto se estiverem muito bravas ou agitadas.

Autismo e a adolescência

As dificuldades na interação social do autista na adolescência podem  manifestar-se como isolamento ou comportamento social impróprio; pobre contato visual; dificuldade em participar de atividades em grupo; indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto; falta de empatia social ou emocional.  A agressividade e os comportamentos automutilantes podem aumentar na adolescência. Os movimentos anormais, bem como as anormalidades de postura e uma variedade de outros movimentos involuntários persistem na adolescência.

Adolescentes e adultos com Autismo têm interpretações equivocadas  a respeito de como são percebidos por outras pessoas, e o adulto autista, mesmo com habilidades cognitivas adequadas, tende a isolar-se. Quando chegam á idade adulta, geralmente há uma melhora na adaptação a mudanças, mas os interesses restritos persistem, e aqueles com habilidades cognitivas adequadas tendem a concentrar seus interesses em tópicos limitados, os quais dominam suas vidas.

 

Autismo e o diagnóstico tardio

Embora o Autismo mais freqüentemente se apresente associado a outros problemas, como deficiência mental, epilepsia e hiperatividade, de 25% a 30% dos autistas têm o transtorno de forma isolada. Principalmente nesses casos, as possibilidades de conseguir sair um pouco do seu mundo interno, e estabelecer uma convivência social dependem da estimulação desde os primeiros anos de vida. A grande dificuldade para  o início desse tratamento direcionado  é exatamente o diagnóstico tardio, que agrava ainda mais o problema.

O diagnóstico do Autismo não é muito complicado, devido a quantidade de sinais de alerta que o distúrbio  manifesta, o problema é a falta de treinamento dos pediatras para fazer essa identificação. Responsáveis pela saúde infantil, os pediatras, deveriam estar mais capacitados para perceberem os sinais e sintomas do distúrbio em seus pequenos pacientes, mas, infelizmente, muitos não conseguem identificá-los corretamente.  São poucos os que identificam os sinais de alerta  relatados pela mãe, ou que conseguem perceber esses sinais diretamente na criança. Outros,  por dificuldade de reconhecer o distúrbio, fazem diagnósticos errados e submetem seus pequenos pacientes a tratamentos inúteis, o que ajuda a comprometer  e agravar ainda mais o quadro mental.  

Infelizmente, essa situação é confirmada pela quantidade de diagnósticos errados para Autismo e  por depoimentos das mães que fazem uma verdadeira via-crúcis, até receberem o diagnóstico e o tratamento correto para esse distúrbio. Muitas crianças autistas, têm seqüelas graves para o resto de suas vidas, devido ao tempo gasto entre os primeiros sinais de alerta e o diagnóstico definitivo de Autismo. O pediatra é o primeiro médico a entrar em contato com o paciente autista e, portanto, deveria estar apto para reconhecer os desvios do desenvolvimento e orientar a investigação e o tratamento multidisciplinar.

 

Autismo e a Epilepsia

Os autistas em torno de 15% são acometidos pela Epilepsia, um índice muito alto, especialmente se comparado com o da população normal que é de 0,5% a 1%. Essa doença pode manifestar-se no autista em qualquer idade e exige atenção, principalmente, porque em muitos casos, não se exterioriza sob a forma tradicional de uma convulsão típica, mas pode provocar crises psicomotoras que se caracterizam por episódios de ausência ou por uma série de movimentos automáticos. Esses sintomas num indivíduo que já apresenta alguns distúrbios de comportamento, às vezes, são muito difíceis de serem notados.

Patologias associadas ao Autismo

Relação das patologias potencialmente associadas ao Autismo:

Congênitas / Adquiridas

·         Rubéola.

·         Toxoplasmose.

·         Citomegalovírus.

·         Síndrome de Moebius.

·         Síndrome de Dandy-Walker.

·         Síndrome de Cornelia de Lange.

·         Síndrome de Soto.

·         Síndrome de Goldenhar.

·         Síndrome de Williams.

·         Síndrome de Joubert.

·         Síndrome de West.

·         Hipomelanose de Ito.

·         Microcefalia.

·         Hidrocefalia

·         Encefalite / Meningite.

·         Intoxicação por chumbo.

·         Cirurgia de meduloblastoma de cerebelo.

 

Genéticas / Metabólicas

·         Cromossopatias.

·         Esclerose Tuberosa.

·         Neurofibromatose.

·         Amaurose congênita de Leber.

·         Fenilcetonúria.

·         Histidinemia.

·         Lipofuccinose ceróide.

·         Doença celíaca.

·         Distúrbios do metabolismo das purinas.

·         Adrenoleucodistrofia.

·         Distrofia muscular de Duchenne.

·         Síndrome de Angelman.

Sinais de alerta

Os pais podem detectar alguns sinais de alerta em seu filho, mas isso não quer dizer que caso a mãe perceba alguns desses sinais no seu filho, vai dizer que ele é autista. É dificílimo ou até impossível  detectar o Autismo antes dos dois anos de idade, mas quando a mãe  comenta pelo menos a metade desses sinais de alerta que ela percebe em seu filho para o pediatra, este profissional pode pelo menos suspeitar de alguma deficiência   neurológica ou mental, e encaminhar a criança para um especialista.

Bebês:

·         Não olham para a mãe, principalmente quando está mamando.

·         Não mamam corretamente, mesmo que a mãe tente colocar o peito na sua boca, o bebê não se interessa muito.

·         Quando estão no colo, a mãe percebe que o bebê não olha pra ela e sim através dela. Geralmente, só as mães com muita percepção, sensibilidade e contato íntimo com o bebê, pode perceber esse sinal.

·         Não imitam gestos.

·         Geralmente, não são carinhosos e nem demonstram afeto.

·         Não gostam de colo, nem de muito contato físico e não se aconchegam.

·         Não se antecipa levantando os braços, quando querem colocá-lo no colo.

·         Dificilmente choram.

·         Não são risonhos.

·         Fica muito tempo no berço parado e sem emitir ruídos.

·         Mexem com a cabeça de um lado para o outro e piscam os olhos ao mesmo tempo.

·         Têm dificuldade para engatinhar e andar.

·         Não gostam de brincar.

·         Não ficam surpresos, quando a mãe finge que se esconde e aparece de repente.

·         Apresentam dificuldade para dormir.

·         Pode comportar-se como se fosse surdo.

·         Desde pequenos apresentam hábitos alimentares seletivos, podendo ter restrições quanto à consistência e a qualidade dos alimentos oferecidos. Não gostam muito de mudanças alimentares, nem de novos alimentos acrescentados a sua dieta.

Crianças pequenas até cinco anos de idade:

·         Vêem o mesmo desenho ou filme várias vezes no dia. Quando se tenta  trocar de filme a criança fica brava e agitada, e só se acalma quando volta o mesmo filme ou desenho.

·         Tem dificuldade para expressar necessidades, utilizando gestos  ou apontando para o lugar, ao invés de usar as palavras.

·         Usa as pessoas como ferramenta, por exemplo, para abrir uma porta ou a geladeira, ligar o interruptor de luz, levantar a tampa do vaso sanitário, abrir a porta do guarda-roupa ou da cômoda etc.

·         Aponta e gesticula, em vez de usar as palavras.

·         Repete palavras e frases.

·         Pode não querer falar, ou emite  palavras monossilábicas ou frases curtas.

·         É resistente a mudanças.

·         Não gosta de brincar com outras crianças, fica mais reservada.

·         Não consegue participar de brincadeiras de faz-de-conta ou que usem a imaginação.

·         Pode ficar no mesmo lugar e na mesma posição durante várias horas (geralmente sentada ou deitada na cama imóvel).

·         Não tem real medo do perigo, isto é, uma consciência de situação que envolva perigo.

·         Não gosta de festas.

·         Pode ter procedimentos bizarros, isto é, ficar de cócoras para olhar um objeto, andar na ponta dos pés,  andar numa perna só,  impedir a passagem por uma porta,etc.

·         Age como se estivesse surda.

·         Desenvolve hipersensibilidade a determinados sons, por exemplo, apitos, buzinas, som do telefone, campainhas, gritos, etc.

·         Resiste ao aprendizado.

·         Tem dificuldade para andar, prefere engatinhar. Muitas crianças autistas só começam a andar a partir de 3 a 4 anos de idade.

·         Não gosta muito de ser abraçada e nem demonstra afeto ou carinho com os pais.

·         Pode apresentar movimentos estereotipados: levantar e abaixar os braços; girar as mãos; bater palmas repetitivamente; balançar a cabeça ou o tronco; andar em círculos etc.

·         Pode ter uma acentuada hiperatividade física, que chama atenção, se repetindo várias vezes.

·         Pode  se auto-agredir quando não  consegue o que quer.

·         Tem uma tendência a girar rodas ou hélices dos brinquedos.

·         Gosta de alinhar os brinquedos, ou classificar por cores e tamanhos.

·         Rir em horas inapropriadas, aparentemente sem razão aparente.

·         Gosta de colecionar.

·         Faz muita birra, quando não consegue o que quer.

·         Pode se tornar agressiva e destrutiva quando mudam algum objeto ou brinquedo, do lugar de costume.

·         Tem fixação por um determinado objeto.

·         Mostra-se indiferente e não gosta de se relacionar, ficando sempre pelos cantos e quieta.

·         Tem preferência por uma determinada roupa. Sempre que pode, só usa aquela roupa. 

·         Tem dificuldades para se alimentar.

·         Apresenta distúrbios do sono.

Sinais e sintomas

O Autismo está classificado como síndrome. Usa-se esse nome para um conjunto de sintomas que são observados num paciente. No caso do Autismo, os sintomas estão reunidos em três grupos:

·         Comunicação: Apresentam muita dificuldade de comunicação. No primeiro, estão os sintomas que se referem a prejuízos para a interação social, como evitar contato visual, ter pouco interesse na voz humana e raramente emitir uma resposta facial, a ponto que os pais costumam suspeitar de surdez.

·         Linguagem: Em relação à linguagem, os autistas  costumam apresentar atraso ou falta de fala, têm dificuldade para iniciar ou manter uma conversa e repetem a mesma palavra várias vezes.

·         Comportamento: Têm um padrão comportamental muito restrito e repetitivo. Os sintomas relacionados ao comportamento costumam fazer com que apresentem manias ou fixação em um único assunto ou interesse. Costumam fazer movimentos repetitivos, a exemplo de bater as mãos ou estalar os dedos, dentre muito outros.

Obs:  Atualmente, qualquer indivíduo que apresente esses sintomas, em maior ou menor grau, é caracterizado como autista. Para o diagnóstico do Autismo vai ser feita a soma dos itens reunidos nos três grupos.

As manifestações comportamentais que definem o Autismo incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões  de comportamentos repetitivos e estereotipados e um repertório de interesses  e atividades.

Características do Autismo:

Autismo grave ou típico: São  isolados, que não falam e repetem movimentos estereotipados permanentemente, ou ficam girando em torno de si mesmas. Como não são sensíveis à comunicação, não respondem quando se fala com eles, não interagem como o outro e têm, em geral, deficiência mental importante.

Autismo moderado ou clássico:  Os autistas clássicos falam, mas não se comunicam. São capazes de repetir fora do contexto uma frase inteira que ouviram num programa de televisão na noite anterior, no entanto, se lhe perguntam quantos anos têm ou qual é o seu nome, não respondem. Eles ouvem e falam, mas não usam a fala como ferramenta da comunicação. Embora possam entender enunciados simples, apreendem apenas o sentido literal das palavras. Não compreendem as metáforas nem o duplo sentido. Os autistas clássicos são voltados para si mesmos e têm ligação muito pobre com o ambiente. Não olham nos olhos dos outros, não entendem pista sociais.

Autismo leve:  São os portadores da Síndrome de Aspenger, que apresentam as mesmas dificuldades dos outros, mas, num grau bem reduzido. São verbais e inteligentes. Tão inteligentes que chegam a ser  confundidos  com gênios, porque são imbatíveis nas áreas do conhecimento em que se especializam. Mas em outras áreas ou outras situações do cotidiano podem apresentam as dificuldades típicas do Autismo.

Diagnóstico

·         Anamnese.

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

·         Exame neurológico.

·         Exame psiquiátrico.

·         Exame psicológico.

Crianças menores de 12 meses: O diagnóstico é feito por intermédio de testes de comportamento e questionários respondidos pelos pais. Caso  o  diagnóstico seja  positivo para Autismo, o tratamento  deve ser iniciado o mais rápido possível.

Os critérios atualmente utilizados para diagnosticar Autismo são aqueles descritos no Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM.

Critério Diagnóstico para Distúrbio Autista (DSM-IV, 1994):

A.  Pelo menos dos seis dos 12 critérios abaixo, sendo dois de (1) e pelo menos um  de (2) e (3):

1) Déficits qualitativos na interação social, manifestados por:

a.  dificuldades marcadas no uso de comunicação não-verbal;

b.  falhas do desenvolvimento de relações interpessoais apropriadas no nível do desenvolvimento;

c.  falha em procurar, espontaneamente, compartir interesses ou atividades prazerosas com outros;

d.  falta de reciprocidade social ou emocional.

2)  Déficits qualitativos de comunicação, manifestados por:

a.  falta ou atraso do desenvolvimento da linguagem, não compensada por outros meios (apontar, usar mímica);

b. déficit marcado na habilidade de iniciar ou manter conversação em indivíduos com linguagem adequada;.

c.  uso estereotipado, repetitivo ou idiossincrático de linguagem;

d. inabilidade de participar de brincadeiras de faz-de-conta ou imaginativas de forma variada e espontânea para o seu nível de desenvolvimento.

3)  Padrões de comportamento, atividades e interesses restritos e estereotipados:

a. preocupação excessiva, em termos de intensidade ou de foco, com interesses restritos e estereotipados;

b.  aderência inflexível a rotinas ou rituais;

c.  maneirismos motores repetitivos e estereotipados;

d.  preocupação persistente com partes de objetos.

B.  Atrasos ou função anormal em pelo menos uma das áreas acima presente antes dos 3 anos de idade.

C.  Esse distúrbio não pode ser melhor explicado por um diagnóstico de Síndrome de Rett ou pelo Transtorno desintegrativo da infância.

Mesmo quando distúrbios autistas são diagnosticados adequadamente, isto é, utilizando critérios diagnósticos apropriados, há uma variação considerável no perfil sintomático, dependendo da etiologia subjacente. O diagnóstico de Autismo requer uma apreciação clínica cuidadosa.

Obs: É importante que o diagnóstico seja feito o mais precoce possível para que a criança receba educação especializada, consiga contornar os distúrbios comportamentais e que também receba ajuda no sentido de direcionar  os campos de interesses e de estudo da criança. Não existe qualquer espécie de exame capaz de detectar o transtorno.

Os exames físico, clínico e neurológico são necessários para tentar verificar ou identificar se existe algum problema físico, fisiológico ou neurológico que possa contribuir para o quadro apresentado pelo paciente. Esses exames também contribuem para o diagnóstico diferencial de exclusão de outras patologias ou distúrbios mentais, que apresentam manifestações e sintomatologia parecida com o Autismo.

Diagnóstico diferencial 

O diagnóstico diferencial deve ser feito para que o Autismo não seja confundido com outras patologias  e distúrbios mentais com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, neurológico e psiquiátrico, o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças e os distúrbios mentais e neurológicos que podem ser confundidos com  o Autismo são os seguintes:

·         Esquizofrenia com início na infância.

·         Psicose.

·         Deficiência mental.

·         Retardo mental.

·         Transtorno de déficit de atenção.

·         Mutismo seletivo.

·         Transtorno de Rett.

Tratamento

Médico especialista:  Psicólogo e Psiquiatra. O autista deve ser tratado individualmente, de acordo com as características de suas dificuldades. Para o tratamento do autista é necessário que o portador seja acompanhado por uma equipe multidisciplinar, composta dos profissionais das seguintes áreas:

·         Psiquiatria.

·         Neurologia.

·         Pediatria.

·         Psicologia.

·         Fonoaudiologia.

·         Fisioterapia.

·         Pedagogia.

·         Terapia ocupacional.

Objetivo: Tentar integrar o autista ao mundo real.

Apesar do Autismo não ter cura, quanto mais cedo for feito o diagnóstico e a criança tenha acesso ao tratamento, mais rápido ela poderá desenvolver habilidades fundamentais para sua reabilitação e, dependendo do grau do Autismo poderá levar uma vida independente.   A base da terapêutica inclui também o envolvimento da família.

Tratamento psiquiátrico. Os distúrbios mentais devem ser acompanhados e tratados sempre pelo psiquiatra, que é o profissional especializado. 

Tratamento medicamentoso:  Não existe um remédio específico para o Autismo, existem algumas medicações que servem para controlar alguns sintomas-alvo, como  agressividade, hiperatividade e irritabilidade. Os neurolépticos e os antipsicóticos usadas na Esquizofrenia podem ser indicados para autistas com distúrbios de comportamento que os impeçam de freqüentar escolas ou morar com a família.  A depressão em alguns casos pode ser tratada com medicação, mas apenas em casos particulares, indicados estritamente pelo psiquiatra.   São remédios que não devem ser usados por longos prazos, isto é, só devem ser usados enquanto forem absolutamente necessários. Apenas um terço dos portadores de Autismo típico necessita de medicação.

Tratamento psicológico: Para acompanhamento e orientação sobre o intelecto/emocional do autista. A assistência psicológica serve também para a melhor interação social e a comunicabilidade do autista com as outras pessoas e a família.

Tratamento fisioterápico: pode ser necessário caso haja comprometimento motor.

Tratamento fonoaudiológico: pode ser necessário quando o autista tem dificuldade para o desenvolvimento da comunicação e linguagem.

Terapia ocupacional: é necessária para trabalhar habilidades motoras e atividades da vida diária. A musicoterapia, o canto e o uso dos instrumentos musicais também serve como terapia alternativa para o autista se socializar.

Alguns centros especializados usam a equoterapia (método terapêutico que utiliza o cavalo) como uma opção terapêutica para a  criança autista interagir.

Obs: Diferente do que muita  gente pensa, o estímulo faz com que os autistas desenvolvam suas capacidades, inclusive com destaque.

Prognóstico:  O Autismo é um distúrbio incurável, mas o quadro pode ir se modificando à medida que o indivíduo fica mais velho. Alguns sintomas podem amenizar-se e até vir a desaparecer, porém outros podem surgir com a evolução do indivíduo Dependendo do grau de comprometimento mental o tratamento seja psiquiátrico, psicológico ou medicamentoso serve para ajudar o autista a controlar alguns sintomas do distúrbio e suas dificuldades. 

O prognóstico a longo prazo, enfocando especialmente as dificuldades de interação social, mostram que no autista não portador de retardo mental  ou que tenha um retardo mental menos pronunciado, podem diminuir. Mas, mesmo assim, a dificuldade de relacionamento social irá persistir por toda a vida.

Obs: Não existe reversão total do quadro de Autismo. Caso haja uma reversão total do quadro, o diagnóstico para Autismo  estava errado.

Dificuldades para cuidar de crianças autistas

Assistência ao autista: A maior queixa das mães e pais que lidam com o Autismo é que, geralmente, eles contam apenas com seus próprios esforços, a sociedade e o governo dão pouquíssima ou nenhuma ajuda.  As alternativas de assistência ao portador de Autismo são caras, envolvem profissionais de várias áreas como, psiquiatras, neurologistas,  fonoaudiólogos, psicólogos e psicoterapeutas. 

Aquisição de medicamentos: Nos casos que envolvem medicação, está é muito cara, e difícil de ser adquirida gratuitamente em postos de saúde do governo. A maioria das medicações para o  portador de Autismo são também usadas pelos portadores de Esquizofrenia, que conseguem  a medicação gratuitamente nos centros de referência das Secretárias Estaduais de Saúde, já o mesmo não acontece com os portadores de Autismo.

Educação na escola regular: No âmbito da educação escolar regular, a criança autista tanto pode ter dificuldade no relacionamento social e na comunicação com os colegas,  como pode ter também  dificuldades no aprendizado. Essas dificuldades dependem do grau de comprometimento mental que a criança apresente.   Nos casos de Autismo típico  (graves desvios de comunicação, interação social e dificuldades no uso da imaginação), a criança autista preferencialmente, deve ser matriculada em escolas especializadas, que podem ajudá-los mais nas dificuldades características do distúrbio. 

Um dos principais fatores de estímulo para uma criança autista  é outra criança, especialmente se for da mesma escola. No caso de crianças autistas portadoras do autismo moderado e  leve ou a Síndrome de Asperger, essas podem ser matriculadas em escolas regulares, desde que a escola tenha estrutura para abrigar crianças com deficiência. Essas crianças são mais lentas em algumas matérias e mais rápidas no raciocínio de outras, por isso os professores devem ter a sensibilidade de detectar essas dificuldades e ajudar a criança

Preconceito e discriminação: As crianças  e adolescentes autistas além de sofrerem discriminação e preconceito por parte da "sociedade", ainda, na sua grande maioria, são discriminadas e tratadas diferentemente, pela própria família.  Ás vezes, a própria família  esconde o filho especial, que elas consideram "diferente", tentando evitar  a discriminação e o preconceito tanto dos parentes como das  outras pessoas. Essas crianças autistas passam uma boa parte da sua vida,  dentro de casa, porque os seus pais têm medo do tratamento que elas vão ter lá fora. Infelizmente, eles acham que é uma forma de amparo e proteção.

Atualidades

A ONU implementou o dia 2  de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

A Lei Federal nº 12.764/12 instituiu a política nacional para proteção aos direitos da pessoa com Autismo.  Esse dispositivo  assegura aos autistas os benefícios legais de todos os portadores de deficiência, incluindo desde a reserva de vagas em empresas com mais de 100 funcionários, até o atendimento preferencial em bancos e repartições públicas.

O Ministério da Saúde implementou a Diretriz de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo a qual traz tabela com indicadores  do desenvolvimento infantil e alguns sinais de alerta para que  os médicos do SUS possa identificar precocemente o Autismo em crianças de até três anos de idade.


Dúvida de termos técnicos e expressões, consulte o Glossário geral.