DOENÇA DE POMPE*

GLICOGENOSE TIPO II


Introdução 

As Glicogenoses:

As miopatias de depósito podem ser devidas ao acúmulo de polissacárides ou de lípides. Entre os polissacárides destacamos o glicogênio, embora de maneira excepcional, possam ser encontrados outros, como as glicoproteínas, polissacárides neutros e mucopolissacárides neutros.O glicogênio é encontrado em praticamente todos os tecidos, destacando-se o hepático e o muscular esquelético. O metabolismo do glicogênio é regulado por um sistema enzimático que, quando alterado, acarreta importantes modificações no seu teor, bem como na sua estrutura. 

As glicogenoses se caracterizam por um depósito anormalmente aumentado de glicogênio nos diversos tecidos, cuja estrutura pode ser normal ou anormal. Essa alteração ocorre por ausência ou deficiência de enzimas envolvidos no processo de síntese e degradação do glicogênio. Em se considerando os aspectos clínicos, as glicogenoses podem ser divididas em quatro tipos, dependendo de sua distribuição: muscular, hepática, hepato-muscular e generalizada. A herança é do tipo autossômico recessivo A classificação numérica adotada é a que foi proposta por Gerty Cori, em 1957, chegando ao número VI. Desde então, outras foram descritas.

Definição da Glicogenose Tipo II

A Glicogenose tipo II de Cori, descrita em 1932, é uma forma rara e grave das glicogenoses, levando à morte no primeiro ano da doença. A doença ocorre devido a erro inato da ausência da alfa 1,4 glicosidase (maltase ácida); essa deficiência de maltase ocorre no lissoma. Costuma ter início no primeiro semestre de vida do bebê, sendo excepcional sua ocorrência mais tardia.

A doença é de fundo genético e a modalidade de transmissão hereditária é do tipo autossômico recessivo. O glicogênio acumulado é de cadeia normal e o mecanismo exato deste depósito é desconhecido. Como a alfa 1,4 glucosidase (maltase ácida) é normalmente  encontrada em todos os tecidos, a sua ausência ou deficiência compromete os órgãos com maior intensidade, devendo-se destacar a musculatura esquelética e a cardíaca.

Mas, já foram identificados casos  de Glicogenose tipo II  de menor severidade clínica, com início no fim da infância, adolescência ou mesmo na idade adulta,com acometimento muscular proximal moderado primeiramente na cintura pélvica e mais tardiamente na cintura escapular Tais casos assemelham-se aos de DMP (Distrofia Muscular Progressiva), porém  com menor gravidade, não apresentando além disso nenhum comprometimento cardíaco.

Sinonímia

·         Doença de Pompe.

·         Cardiomegalia glicogênica difusa.

·         Deficiência de maltase ácida.

·         Doença de acúmulo do glicogênio tipo II.

·         Gliocogenose generalizada de forma neuromuscular.

·         Glicogenose generalizada idiopática.

·         Glicogenose generalizada tipo II de Cori.

·         Glicogenose tipo II.

·         Rabdomioma congênito do coração.

Incidência

Acomete 60% de indivíduos de sexo masculino.

Formas clínicas

·         Lactente.

·         Infância e adolescência.

·         Adulto.

Manifestações clínicas

Forma do lactente:  

É a mais grave, podendo ser evidenciada logo ao nascimento ou mais frequentemente nos primeiros meses de vida, podendo apresentar os seguintes sintomas:

·         alterações cardíacas: sopro sistólico, arritmia grave, cardiomegalia;

·         dispnéia;

·         taquicardia (aumento da frequência cardíaca);

·         crises de cianose (devido ao comprometimento cardíaco);

·         cardiomegalia (aumento do tamanho do coração) importante, com hipertrofia do miocárdio, e por vezes, estenose sub-áortica secundária;

·         hipoatividade motora e debilidade muscular acentuada, sem atrofias;

·         déficit motor;

·         hepatomegalia(aumento do tamanho do fígado), geralmente sem alterações funcionais;

·         o bebê apresenta uma incapacidade de sustentar a cabeça ou de se manter sentado;

·         os reflexos profundos  costumam estar diminuídos ou abolidos;

·         comprometimento dos nervos cranianos especialmente o facial e o hipoglosso;

·         língua apresenta-se protusa e imóvel (macroglossia), ocorre em 30% dos casos;

·         sucção e a deglutição apresentam alterações, em virtude de comprometimento bulbar e/ ou muscular.

Forma  da infância e adolescência:

É notada a partir do primeiro ano de vida, através dos seguintes sintomas:

·         dificuldade à deambulação;

·         panturrilhas (batata da perna)  com diâmetro aumentado, assemelhando-se aos portadores de Distrofia Muscular de Duchenne;

·         o andar é do tipo anserino e digitígrado, pela retração dos tendões aquileanos;

·         levantar miopático e acentuação da lordose lombar são também evidenciados ao lado de hipotonia e hipo ou arreflexia.

Forma do adulto: 

O quadro é lentamente progressivo, assumindo as características de uma miopatia de evolução crônica. O início é na segunda ou terceira década, podendo ser mais tardio. Geralmente costuma apresentar os seguintes sintomas:

·         fraqueza muscular, com predomínio proximal, especialmente na cintura pélvica;

·         comprometimento da musculatura intercostal e diagragmática;

·         não apresenta cardiomegalia, hepatomegalia ou macroglossia.

Diagnóstico

·         Anamnese.

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

·         Exames laboratoriais.

·         Raio X.

·         ECG - Eletrocardiograma.

·         TC - Tomografia Computadorizada.

·         EMG - Eletromiografia.

·         Biópsia do músculo esquelético e do fígado mostram acúmulo anormal de glicogênio nesses tecidos.

·         Através de exames pode se comprovar  a ausência de maltase ácida na pele do bebê.

·         Estudos bioquímicos quantitativos, são necessários para confirmar o diagnóstico.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Glicogenose tipo II  não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças  que podem ser confundidas com a Glicogenose tipo II são as seguintes:

·         Doença de Werdnig-Hoffmann.

·         Várias outras miopatias congênitas, mas nesses casos não existe cardiopatia, nem macroglossia ou hepatomegalia.

Tratamento

Não há tratamento específico para essa glicogenose, embora alguns médicos preconizem o uso de vitamina A, com a finalidade de aumentar a lise dos lisossomas.

Prognóstico:  O óbito, infelizmente costuma ocorrer no primeiro ano da doença, após os primeiros sintomas,  por infecção, arritmia cardíaca ou paralisia bulbar.


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