MENINGITE BACTERIANA NO RECÉM-NASCIDO


Definição

A Meningite Bacteriana é um processo inflamatório agudo das meninges que acompanha a invasão do líquido cefalorraquidiano por um agente bacteriano, que pode acometer o RN. Os recém-nascidos estão relativamente protegidos contra as bactérias comuns do trato respiratório (pneumococos, meningococos, e homophilus), pela transferência passiva de anticorpos maternos através da placenta, mas são suscetíveis a infecções por inúmeras outras bactérias.  A meningite bacteriana no RN por enterobactérias, ocorre geralmente em berçários com más condições higiene, ou sem controle efetivo sobre infecções hospitalares, gerando microssurtos epidêmicos. A meningite causada por estafilococos, as pseudomonas e os microorganismos oportunistas, incidem em geral, em RN debilitados, prematuros, desnutridos ou com imunodeficiência. 

A meningite  bacteriana no período neonatal é relevante pela alta letalidade e gravidade das seqüelas neurológicas, caso não seja diagnosticada e tratada precocemente. Com o advento da terapêutica antibiótica a letalidade entre os recém-nascidos teve uma queda significativa, mas por outro lado, a elevação da sobrevida tem resultado em um percentual maior dessas seqüelas neurológicas. A utilização terapêutica de potentes antibióticos e de complexa tecnologia aplicada à UTI neonatal tem modificado favoravelmente esta evolução, infelizmente ainda não o suficiente, para tornar insignificantes as taxas de mortalidade e morbidade produzidas pela doença.

Sinonímia

É uma doença também conhecida pelo nome de Meningite do Recém-nascido.  

Incidência

·         É uma doença que tem uma alta taxa de letalidade em torno de 70%.

·         Maior incidência em recém-nascido com peso inferior a 2,5kg.

Agente etiológico

Do nascimento até aos 2 meses as bactérias mais comuns são:

·         Escherichia coli (sorotipo K).

·         Salmonella sp

·         Staphlococcus epidermidis.

·         Staphlococcus aureus.

·         Streptococcus do grupo D.

·         Klebsiella sp.

·         Flavobacterium

Obs: As duas bactérias mais prevalentes são: E.coli (sorotipo K), e Streptococcus (sorogrupo B) até os 2 meses de idade.

Fontes de infecção

As principais fontes de infecção são:

·         Canal de parto infectado.

·         Contactantes infectados em berçários.

·         Equipos contaminados de berçário (nebulizadores, incubadoras, máscaras de oxigênio, balanças, bicos de mamadeira etc.).

·         Infecções respiratórias ou da pele (materna ou do pessoal de enfermagem).

·         Infecções cruzadas por Salmonellas e E. coli.

·         As outras fontes de infecção podem ocorrer devido a meningites intercorrentes durante a gestação e decorrentes de trabalho de parto.

Quando as bactérias penetram no Sistema Nervoso Central (SNC) através de sítios vulneráveis nas células capilares endoteliais (barreira hematoencefálica), tem início todo o processo inflamatório.

Vias  de infecção

·         Transplacentária:

·         Vertical:  durante o parto.

·         Horizontal:  após o nascimento.

Manifestações clínicas no bebê

Os pais devem ficar atentos aos sinais que podem evidenciar o início da Meningite. Na maioria dos casos o bebê já está em casa, e como a mãe é quem cuida mais da criança, ela é a primeira a  constatar que alguma coisa errada está acontecendo com o seu filho, nesse caso deve levar o bebê imediatamente ao pediatra ou a um posto de saúde. O início da doença pode ser insidioso ou fulminante. 

·         instabilidade térmica (hiper ou hipotermia);

·         desconforto respiratório;

·         letargia;

·         vômitos;

·         perda ponderal;

·         irritabilidade;

·         o bebê recusa o peito na hora da amamentação ou a mamadeira;

·         icterícia em alguns casos;

·         choro de timbre alto ou gemido;

·         tensão da fontanela e abaulamento;

·         rigidez de nuca;

·         opistótono (casos graves);

·         diminuição do ritmo respiratório (casos graves);

·         ataques convulsivos (casos graves);

·         presença do Sinal de Kernig em bebês com mais de 6 meses;

·         presença do Sinal de Brudzinki em bebês com mais de 6 meses.

Obs: Os sinais clássicos da Meningite no RN, podem estar ausentes porque a caixa craniana pode-se distender devido a presença de suturas cranianas abertas, as quais permitem a expansão do conteúdo endocraniano, sem causar aumento da sua pressão. O bebê pode apresentar alguns sinais neurológicos, dependendo da gravidade do processo infeccioso:  certo grau de letargia, Sinal de Moro anormal, tremores, olhar fixo, alterações na tonicidade muscular e, mais raramente, sinais de comprometimento dos nervos cranianos.

 Em crianças maiores a Meningite se exterioriza através  dos sinais e sintomas clássicos da doença: febre alta que começa de repente; dor de cabeça intensa e contínua; vômitos em jato; náuseas; rigidez de nuca; podem susrgir pequenas manchas vermelhas na pele.

Diagnóstico

O diagnóstico da meningite bacteriana, requer  extremada valorização dos sinais clínicos. Esses sinais na fase inicial da meningite do RN são na maioria das vezes, vagos e inespecíficos, indistinguíveis daqueles presente em sepse e em outras doenças que incidem no período neonatal.

·         Exame físico.

·         Exames laboratoriais.

·         Análise do LCR.

·         Coleta de material do coto umbilical ou de qualquer outro foco supurativo.

·         RX do crânio e do tórax.

Tratamento

Objetivo:  Controlar a infecção para evitar as complicações que podem vir no decurso da doença.

As meningites bacterianas devem ser encaradas como emergência médicas, não só no caso de RN, como  em crianças maiores. O recém-nascido deve ser internado em uma UTI neonatal para monitorização adequada dos seus sinais vitais e de suas condições clínicas, porque as meningites em RN associam-se com freqüência à sepse neonatal.

·         Específico: tratamento medicamentoso através da antibiocoterapia  imediata para controlar a infecção.

·         Doença que necessita de hospitalização imediata e isolamento respiratório.

·         O bebê deve ser contido numa posição funcional para que possa ser administrados os medicamentos via IV.

·         Durante o tratamento  deve-se ficar atento as erupções hemorrágicas, pois podem indicar coagulação intravascular disseminada.

·         Deve-se medir diariamente a circunferência cefálica, pois o aumento pode indicar derrame subdural.

·         Ficar atento ao volume urinário, principalmente quando ocorre redução do volume urinário e aumento no peso corporal..

·         Dependendo do quadro  e se apresentar apnéia, pode ser necessário, monitor respiratório, sob indicação médica.

·         Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética deve ser feita pa certificar-se de que não houve complicações intracranianas.

·         Os pais devem fazer exames laboratoriais para verificar se não estão infectados ou se são portadores da bactéria.

Controle de tratamento: deve ser feito via análise do LCR   48 a 72 horas após o início do tratamento, nessa oportunidade, o médico pode avaliar a evolução do processo inflamatório em comparação à evolução clínica.

Complicações

Complicações na evolução da doença:

·         Ataques.

·         Edema cerebral.

·         Derrame subdural.

·         Hidrocefalia.

·         Infarto ou abscesso cerebral.

·         Convulsões.

·         Choque.

·         Coagulação intravascular disseminada.

·         Aumento da PIC (Pressão Intracraniana).

Há suspeita de evolução desfavorável quando  ocorrem:

·         a melhora clínica inicial não se confirma nos períodos subseqüentes;

·         o bebê apresenta piora do quadro de consciência;

·         aparecem crises convulsivas;

·         aparecimento de sinais de aumento da PIC (Pressão Intra Craniana);

·         quando há sinais focais no exame neurológico;

·         o exame do LCR exibe evolução mais lenta do que o esperado ou aparecem sinais de reagudização do processo.

Seqüelas

A Meningite é uma doença que pode, em alguns casos, deixar seqüelas após alguns meses ou anos após a cura da doença.

·         Retardo no desenvolvimento.

·         Retardo mental.

·         Distúrbio da audição.

·         Hidrocefalia (é mais comum em crianças menores de seis meses de vida; os primeiros sinais e sintomas  começam a surgir após cerca de três meses após a cura da Meningite, mas pode-se detectá-la precocemente medindo-se o perímetro cefálico da criança  durante a fase aguda da doença).

·         Lesão cerebral.

·         Convulsões.

·         Rebaixamento do Quociente de Inteligência (QI) pode ocorrer entre 20 a 45% em crianças que tiveram a doença nos primeiros seis meses de vida e tiveram complicações graves.

·         Distúrbios na aprendizagem.

·         Incoordenações motoras mínimas.

Obs: As seqüelas geralmente são decorrentes de  diagnóstico e tratamento tardio, ou quando a infecção já está muito disseminada no organismo do bebê.

Prevenção

As prevenções das meningites bacterianas no período neonatal incluem:

·         Prevenção da prematuridade. 

·         Diagnóstico e tratamento precoces de infecções maternas durante a gestação.

·         Adequado manejo obstétrico durante o parto.

·         Redução de infecções hospitalares.

·         Profissionais de saúde, incluindo os médicos, devem seguir  as normas para controle de infecção hospitalar.

·         Lavagem das mãos de todos aqueles que manipulam o bebê.

·         Procedimentos invasivos no RN, só quando for estritamente necessário.

·         Evitar  o uso abusivo de antibióticos.

Cuidados em casa

·         Quando o bebê recebe alta do hospital, quase sempre o restante do tratamento medicamentoso deve ser feito em casa. A mãe deve ficar atenta quanto ao tipo de medicamento, horário e as doses administradas ao bebê. Seria interessante que a mãe fizesse uma tabela de horário, para que não ocorram erros de administração de medicamentos, principalmente os antibióticos.

·         Quando o bebê  recebe alta, os pais devem pedir informação  ao médico sobre sinais de possíveis complicações que podem ocorrer quando o bebê está se recuperando em casa.

·         A alimentação do bebê deve ser indicada pelo pediatra do hospital.

·         O bebê em casa deve descansar, a mãe deve proibir as visitas, porque o bebê está em processo de recuperação de uma doença infecciosa muito grave.

·         O quarto do bebê deve ficar com uma iluminação mais baixa, luz alta incomoda o neném.

·         Se for possível, os pais devem falar mais baixo, quando estiverem com o bebê no colo.

·         A higiene do bebê não deve demorar muito.

·         A mãe deve medir o perímetro cefálico do bebê diariamente para detectar precocemente a hidrocefalia.

·         Os pais devem ficar atentos a qualquer evidência de que o bebê está apresentando seqüelas da doença, caso ocorra alguma suspeita deve informar ou telefonar imediatamente para o pediatra que está assistindo a criança, para que possa ser tomadas as providencias necessárias para tentar reverter o quadro.


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