PARALISIA CEREBRAL


Definição

 A Paralisia Cerebral (PC) resulta de lesão ocorrida nos centros motores do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento. Esta lesão ocasiona vários graus de incapacidade física e mental. A capacidade sensorial é também atingida, sendo comum perturbações da visão, da audição e da palavra. A paralisia cerebral constitui a principal causa de incapacidade entre crianças nascidas de partos complicados, prematuros e demorados. A paralisia cerebral é um distúrbio não-progressivos que atinge os centros e vias motoras do cérebro.

A Paralisia Cerebral pode ser definida também como um grupo heterogêneo e não bem delimitado de síndromes neurológicas residuais, produzidas por lesões não progressivas do encéfalo consecutivas à ação de hipoxia / anoxia pré-natal, perinatal e pós-natal, manifestando-se essencialmente por distúrbios motores, às vezes isoladamente, porém geralmente em associação com transtornos psíquicos, sensoriais e/ ou de imagem.

A Associação Brasileira de Paralisia Cerebral tem em seus estatutos o seguinte conceito de Paralisa Cerebral: 

"Entende-se por Paralisia Cerebral o conjunto de alterações oriundas de um determinado acometimento encefálico, caracterizado essencialmente por uma alteração persistente, porém não estável do tônus, da postura e do movimento que se inicia durante o período de maturação anatomo-fisiológico do Sistema Nervoso Central".

Quando não existem  alterações evidentes dos braços e pernas, as outras modalidades de paralisia cerebral só se manifestam após a criança completar o  primeiro  ano ou mesmo mais tarde,  quando a criança começar a ser  iniciada na aprendizagem da leitura e outras  tarefas escolares. 

Ao longo de sua vida para aprender, a criança com Paralisia Cerebral necessita além do nível intelectual compatível, estar emocionalmente equilibrada, possuir eficiente organização percepto-viso-motora e raciocínio abstrato, projetando desta forma perspectivas para o desenvolvimento de atividades da vida diária e os aspectos necessários para não só com  aprendizado escolar, como também para o seu desenvolvimento intelectual e social.

Sinonímia

É uma doença também conhecida pelo seguinte nome:

·         Encefalopatia Não-Progressiva da Infância.

Condições fundamentais para caracterizar a Paralisia Cerebral

·         Anatômica - lesão difusa ou localizada do encéfalo.

·         Etiológica - que a causa determinante haja atuado em período pré-natal, perinatal ou pós-natal (até 3 anos), período de crescimento e desenvolvimento do SNC.

·         Semiológica - que apresenta transtorno motor, somente, ou associado a outras perturbações neuropsíquicas.

·         Evolutiva - que a lesão não seja progressiva.

Causas

Geralmente consideram-se três grupos como fatores causais da Paralisia Cerebral:

Fatores Pré-natais:

Após o fenômeno embrionário da indução ventral, o cérebro fetal passa por diferentes fases ao longo do desenvolvimento:  proliferação neuronal, migração neuronal, organização das conexões sinápticas e mielinização. As últimas duas prosseguem após o nascimento, por tempo variável. Todas estas fases dependem também  do adequado suporte vascular. Consequentemente, qualquer fator que interfira neste processo, quer direta, quer indiretamente, através de agressão vascular ou baixa da tensão de O2 do sangue placentário, pode provocar lesão do cérebro fetal. Dentre os fatores pré-natais devem-se excluir as doenças hereditárias, as de causas genéticas em geral, lembrando a exclusão dos erros inatos do metabolismo, considerando-se a forma progressiva de instalação ou manifestação.

·         Infecciosos: Rubéola congênita, Toxoplasmose congênita, Herpes simples congênita, Citomegalovirose, Sífilis e outros agentes viróticos ou infecciosos (a maioria dessas doenças podem ter como seqüela a paralisia cerebral).

·         Anoxia materna.

·         Metabólicos: Diabetes mellitus materno (casos raros) e desnutrição materna. 

·          Infartos placentários. 

·         Hipoxemia: as lesões cerebrais hipoxêmicas podem ocorrer, causadas por anemias da gestante, circulação do cordão, deslocamento prematuro da placenta, hemorragias uterinas durante a gestação, cardiopatias congênitas, eclampsia e hipotensão.

·         Hemorragia cerebral pré-natal, sangramento materno. 

·         Toxemia gravídica, incompatibilidade Rh ou ABO.

·         Anoxia pré-natal, torção ou nó do cordão.

·         Várias - toxinas, medicamentos tomados pela mãe.

·         Exposição materna  aos Raios X, para fins diagnósticos, também oferece riscos, interferindo no desenvolvimento do parênquima cerebral.

Fatores Perinatais:

Os fatores perinatais correspondem  geralmente a qualquer situação que aumente o sofrimento da cabeça fetal durante a passagem pelo canal de parto, ou altere a dinâmica do mecanismo de parto, seja este natural ou não. Incluem-se entre estas situações os diferentes tipos de distorcias maternas ou fetais, as apresentações anormais, sobretudo o parto pélvico, anestesias mal conduzidas, uso de fórceps, entre outras.

Anoxia de qualquer causa:

·         Medicamentos anestésicos e analgésicos administrados à mãe podem causar anoxia no cérebro do bebê.

·         Trabalho de parto prolongado ou traumático.

·         Placenta prévia ou deslocamento prematuro da placenta.

·         Incompetência do istmo cervical.

·         Obstrução respiratória.

Traumatismo cerebral durante o trabalho de parto:

·         Hemorragia intracraniana: o sangramento pode ser consequente à ruptura de veias, em virtude de compressão da cabeça  no canal do parto.

·         Parto traumático.

·         Parto com uso de fórceps.

Complicações do nascimento:

·         Bebês "pequenos para a idade gestacional", prematuridade, imaturidade, pós-maturidade.

·         Icterícia grave do RN, responsável pela Encefalopatia bilirrubínica, quando não tratada oportunamente, pode produzir lesões corticais devastadoras.

·         Distúrbios hemolíticos.

·         Angústia respiratória.

·         Infecções.

·         Hipoglicemia.

·         Hipocalcemia.

·         Hipomagnesemia.

·         Hipotensão.

·         Convulsões neonatais.

Fatores Pós-natais:

Não existe limite rígido de idade para que uma lesão pós-natal possa ocasionar quadro motor de sequelas de Paralisia Cerebral; o importante é que incida sobre um SNC imaturo e admite-se que por volta dos 2 anos a maioria das funções já esteja estabelecida, não existindo mais a ampla suplência funcional própria da imaturidade cerebral. Compreendem  patologias variadas que podem acometer o lactente e a criança com o seu SNC em processo de amadurecimento.

·         Traumatismos Crânio-encefálicos (acidentais ou Síndrome da criança espancada).

·         Infecções: Meningite, Encefalite, Abscesso cerebral.

·         Encefalopatias desmielinizantes pós-infecciosas e pós-vacinais.

·         Distúrbios hidroeletrolíticos:  desidratação, desnutrição.

·         Convulsões de várias etiologias que incidem no período neonatal concorrem para o agravamento das lesões que as provocam.

·         Intoxicações: envenenamento por chumbo, medicamentos, plantas, produtos agrotóxicos e industriais.

·         Episódios anóxico-isquêmicos: asfixia mecânica, afogamento, estado de  mal epiléptico, acidente cerebrovascular espontâneo ou pós-operatório.

·         Defeitos neoplásicos e neurodesenvolvimentais tardios.

ObsA anoxia é considerada uma das causas mais importante da Paralisia cerebral, principalmente pelas lesões que produz no córtex e no subcórtex  cerebral, nos  núcleos basais e no cerebelo.

A idade materna também é considerada um fator importante, pois nas gestantes com mais de 40 anos a incidência de ocorrer fatores pré-natais, partos complicados e longos e suas sequelas é o dobro daquelas observadas em mães jovens.

Etiopatogenia

Os fatores etiológicos ligados  ao desenvolvimento da Paralisia cerebral podem ser pré, peri ou pós-natais. É comum aceitar que o sofrimento perinatal é responsável por mais de 50% dos casos de PC, sem considerar que este possa decorrer de uma lesão pré-natal já existente que predispôs o SNC aos efeitos de um parto traumático. Da mesma forma, a prematuridade aumenta a suscetibilidade ao sofrimento perinatal e pode ser decorrente ela própria de um fator pré-natal já em ação, por exemplo, patologia placentária.

De modo geral, os fatores pós-natais são pouco valorizados (cerca de 10%), os perinatais são aventados em 45% a 65% dos pacientes e os pré-natais em 25  a 45%. Estes últimos tornaram-se mais conhecidos e aumentaram sua incidência  após o advento da Tomografia do crânio e da Ultrassonografia, na década de 1970, que permitiu  a detecção de diversos tipos de lesões de natureza  malformativa, vascular ou inflamatória. Por outro lado, nos últimos 20 anos tem decrescido a importância dos fatores perinatais em decorrência da melhora do atendimento à gestante e ao recém-nascido.

Alteração fisiológica

Tipo Espástica:

·         O defeito na área motora cortical ou nos feixes piramidais, produz um tônus anormalmente poderoso de certos grupos musculares.

·         A tentativa de movimentar uma articulação faz com que os músculos se contraiam e bloqueiem o movimento. Surgem contraturas permanentes sem treinamento musculares.

Tipo Atetósica:

·         As lesões do feixe extrapiramidal e dos gânglios basais produzem movimentos involuntários, incoordenados e incontroláveis dos grupos musculares.

Atáxica:

·         Os distúrbios do equilíbrio resultam do comprometimento cerebelar.

Classificação

A -Tipo clínico

Espástica:

·         A forma espástica pode ocorrer em 50% a 65% dos casos; em geral aparece antes dos 6 meses de idade; a atividade motora é afetada em virtude da desarmonia dos movimentos musculares. Em  muitos casos as manifestações clínicas podem ser observadas ao nascimento, acentuando-se à medida que a criança vai se desenvolvendo. Em diversas situações a espasticidade é precedida por flacidez.  A ocorrência de convulsões pode estar presente  neste tipo clínico de apresentação da doença.  O déficit motor é mais evidente no segundo semestre, quando o bebê começa  a utilizar os membros inferiores para ficar em pé, engatinhar e andar.  A forma espástica  tem como tipos clínicos a tetraparética, a hemiparética e a diparesia crural (impropriamente denominada paraparesia). A tetraparesia é a mais frequente e também a mais grave nessa forma as manifestações clínicas podem ser observadas ao nascimento acentuando-se à medida que a criança vai se desenvolvendo.

Atetósica:

·         A forma atetóide da PC  pode ocorrer em 20% a 25% dos pacientes. Tem sua  incidência variável dependendo dos cuidados que serão dispensados aos recém-nascidos, pois sua etiologia está ligada à icterícia grave neonatal, geralmente associada à asfixia. Sua evolução varia dependendo da agressão inicial ao SNC. São frequentes naqueles recém-nascidos que não receberam cuidados visando corrigir a icterícia.   A encefalopatia bilirrubínica se manifesta precocemente em hipertonia em extensão, assumindo posição de epistótono, com acentuado reflexo tônico-cervical. É caracterizada  por atividade motora estranha e involuntária; os estados emocionais acentuam sobremaneira a hipertonia e hipercinesia; com o passar do tempo surgem hipercinesias difusas, com características atetóides, e escassa movimentação voluntária, com dificuldade à deglutição e à mastigação que na maioria das vezes não se desenvolve. Estrabismo paralítico pode estar presente. A fala, naquelas crianças que conseguem falar, é disártrica e ininteligível.  Frequentemente a atetose se encontra associada à tetraparesia espástica, agravando o quadro.

Atáxica:

·         A forma atáxica  da PC é a mais rara, podendo ocorrer em 1% a 5% dos pacientes.  Caracteriza-se por incapacidade de conseguir o equilíbrio; a marcha costuma ser trôpega ou balanceada; o nistagmo é comum. Manifesta-se em vários graus, dependendo da patologia. Os pequenos pacientes apresentam marcha atáxica, fala escandida e disártrica, tremores de ação e dismetria. O tono muscular é hipotônico, podendo ser variável. A inteligência pode estar rebaixada, gerando dificuldades para o diagnóstico inicial.

Mistas:

·         Pode ocorrer em 15% a 40% dos pacientes.  Consiste de várias combinações dos tipos acima. Atetose combinada com espasticidade ou rigidez e a ataxia ocorre freqüentemente.

B - Classificação Topográfica

·         Hemiplegia: os achados estão limitados a um lado do corpo (35% a 40% dos pacientes).

·         Diplegia:  as pernas são acometidas mais do que os braços (10% a 20%).

·         Paraplegia:  só estão acometidas as pernas (10% a 20%).

·         Quadriplegia:  estão acometidas as quatro extremidades (15% a 20%).

·         Monoplegia:  apenas um membro é acometido (rara).

·         Triplegia3 membros estão acometidos (rara).

·         Hemiplegia dupla:  estão acometidos ambos os lados do corpo (rara).

C - Grau de Intensidade

·         Ligeira: deterioração apenas do movimentos delicado e de precisão.

·         Moderada: movimentos grosseiros e delicados, assim como a fala, estão afetados, porém a criança consegue realizar as atividades comuns da vida.

·         Intensa: incapacidade de realizar corretamente as atividades habituais da vida diária, isto é, andar, usar as mãos, comunicar-se verbalmente.

Fatores que influenciam o quadro clínico e o grau de comprometimento

·         Extensão e localização da lesão cerebral.

·         Idade na qual ocorreu a interrupção do desenvolvimento cerebral.

·         Estados dos padrões dos reflexos.

Sinais e Sintomas

Sinais iniciais:

·         Alterações faciais.

·         Alterações cranianas: macro e microcefalia.

·         Sinais de hipertensão intracraniana.

·         Sinais oculares.

·         Alterações sensoriais.

·         Assimetria no movimento ou no contorno.

·         Prostração ou irritabilidade.

·         Dificuldade  na sucção e deglutição.

·         Choro excessivo ou fraco.

·         Recém-natos compridos e delgados que custam a ganhar peso.

Sinais tardios:

·         Atraso na aquisição de condutas motoras, adaptativas e sociais nas semanas seguintes ao nascimento.

·         Incapacidade de acompanhar os padrões normais de desenvolvimento motor.

·         Persistência dos reflexos infantis.

·         Fraqueza.

·         Preferência aparente por uma das mãos antes dos 12 a 15 meses.

·         Fala retardada ou defeituosa.

·         Evidência de retardo mental.

Diagnóstico

·         Anamnese materna para investigar fatores pré-natais e perinatais que podem ter contribuído para a lesão cerebral.

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

·         Exames laboratoriais.

·         Exames neurológicos.

·         ENM - Eletroneuromiografia estática.

·         EEG - Eletroencefalograma.

·         ECG - Eletrocardiograma.

·         Raio X.

·         Ultrassonografia.

·         TAC - Tomografia  Axial Computadorizada.

·         RNM - Ressonância Nuclear Magnética.

·         Análise do LCR para exames.

O diagnóstico clínico precoce pode ser proposto, também levando-se  em consideração as seguintes observações no bebê:

·         Alterações faciais.

·         Alterações de atitudes, tono muscular, motilidade de tronco e membros.

·         Alterações do reflexo de integração: moro, endireitamento e marcha.

·         Convulsões e movimentos involuntários.

·         Alterações na sucção e deglutição.

·         Sinais de hipertensão endocraniana.

·         Sinais oculares.

·         Alterações cranianas: macro e microcefalia.

·         Alterações sensoriais.

·         Atraso na aquisição de condutas motoras, adaptativas e sociais nas semanas seguintes ao nascimento. 

Exames radiológicos:  em grande número de bebês acometidos por déficits motores os exames de neuroimagem apresentam-se totalmente normais, considerando que não houve nesses casos alterações estruturais, mais funcionais.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Paralisia Cerebral não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças  que podem ser confundidas com a Paralisia Cerebral são as seguintes:

·         Amiotrofias espinhais progressivas.

·         Rubéola congênita.

·         Toxoplasmose congênita.

·         Sífilis congênita.

·         Citomegalovirose

Tratamento

O tratamento da Paralisia Cerebral é paliativo,  longo e constitui-se de um conjunto de abordagens e técnicas terapêuticas desencadeadas de forma simultânea ou não. O tratamento recomendado são os programas de reabilitação, que auxiliam os pacientes a usarem suas aptidões, da maneira mais conveniente.

A precocidade no diagnóstico leva ao tratamento precoce.

Não há cura para a paralisia cerebral, já que não se pode agir sobre uma lesão já superada e cicatricial.

Tratamento precoce: deve ser implementado imediatamente através de técnicas de intervenções terapêuticas iniciadas em seguida ao diagnóstico, feito o mais cedo possível, nos primeiros meses de vida do bebê com a detecção de alterações do tônus, da motricidade, enfim, do desenvolvimento de alterações caracterizadas pela demora na aquisição de etapas motoras, persistência de reflexos posturais primitivos, manutenção de atitudes e posturas próprias do recém-nascido, em crianças com meses de vida. 

Tratamento medicamentoso:  ao longo do tempo têm-se utilizado drogas que passam a diminuir a espasticidade. O seu uso permanente, no entanto, tem a desvantagem de trazer letargia e sonolência ao pequeno paciente. A criança pequena com Paralisia Cerebral, muitas vezes necessita de tratamento para o quadro convulsivo que a acompanha, sendo assim necessária a prescrição e uso de drogas fortes anticonvulsivantes. Há ainda em muitos casos, distúrbios comportamentais que necessitam ser avaliados  e se necessário ser implementado tratamento específico medicamentoso.

Antibiocoterapia: Para prevenir  infecções, principalmente as respiratórias, que podem ser agravadas pela imobilidade do pequeno paciente.

Mudança de decúbito (cada duas horas), para prevenir as úlceras de decúbito (escaras).

Neurectomia química seletiva, ou bloqueio nervoso periférico:  é um procedimento auxiliar muito importante no tratamento da espasticidade na Paralisia Cerebral. A atuação da espasticidade permite a atuação dos grupos antagonistas que estavam inibidos, e esta utilização ativa promove por mecanismos reflexos fisiológicos, a manutenção da redução do tônus.

Tratamento cirúrgico: em muitos casos os pacientes têm que se submeter a cirurgia ortopédica para a prevenção da luxação de quadris, alívio da dor, melhora das deformidades e da função dos membros comprometidos, e a obtenção de uma marcha satisfatória quando possível. A cirurgia ortopédica é uma etapa importante para muitos pacientes atingirem esses objetivos.  Apesar do grande avanço obtido nos últimos anos, em relação ao conhecimento e ao tratamento cirúrgico das deformidades, os resultados ainda contêm um elevado grau   de imprevisibilidade. Os pais sempre devem estar cientes das dificuldades e do que se espera obter com o tratamento cirúrgico.

A Estimulação Elétrica Funcional, conhecida internacionalmente como FES (Functional Eletrical Stimulation), é uma forma de terapia que produz contrações musculares em músculos privados de controle central. Na Paralisia Cerebral, a FES é utilizada visando ao condicionamento muscular, a redução da espasticidade e auxílio na aprendizagem motora.

Tratamento fisioterápico:  o tratamento físico da Paralisia Cerebral é ainda um campo comprometido com vários métodos diferentes , cada um apresentando estatísticas de bons resultados. Genericamente, os métodos de tratamento fisioterápico têm se baseado em abordagens que utilizam a linha de reeducação do corpo inteiro e não do músculo ou grupos musculares isolados. A fisioterapia é primordial  e imprescindível para o tratamento da Paralisa cerebral. Os programas de reabilitação fisioterápicos auxiliam os pequenos pacientes a usarem suas aptidões da maneira mais conveniente. De preferência o programa de reabilitação deve ser feito em Centros de Reabilitação.

Resfriamento:  para qualquer exercício ser eficaz é necessário reduzir a espasticidade. Um dos modos é esfriar a extremidade envolvida. Têm-se estudado que por um mecanismo neural, o frio reduz a espasticidade; o resfriamento local aumenta a excitabilidade dos motoneurônios alfa, enquanto diminui a dos motoneurônios gama.

Biofeedback:  refere-se a um processo pelo qual informações visuais ou auditivas sobre um aspecto do funcionamento do corpo servem para corrigir este funcionamento; esta técnica é usada em crianças maiores.

Fonoaudiologia:  é empregada nos casos mais graves para treinamento das praxias bucolinguofaciais, visando eventual articulação e para evitar dificuldade alimentar. Quando a articulação é possível, auxilia nas diferentes etapas do desenvolvimento da fala, com o objetivo de minimizar o retardo e diminuir o número de dislalias.

Órteses: as  órteses na Paralisia Cerebral são predominantemente estáticas, com o objetivo de posicionamento para manter uma articulação em posição funcional, sem o uso ativo da mesma, estabilizando a articulação e permitindo a função do segmento comprometido de um modo mais apropriado. Quando as deformidades osteoarticulares estão presentes, as órteses são contraindicadas, sendo utilizadas nestes casos somente após as correções cirúrgicas, com o objetivo de manter o resultado obtido e com apoio no processo de reeducação da articulação e do segmento comprometido.

Dietoterapia: um paciente com Paralisia Cerebral pode sofrer de deficiências nutricionais, devido à incapacidade de fechar os lábios, de sugar, de morder, de mastigar ou de deglutir. Nos lactentes afetados pela doença, os problemas de sucção e de deglutição podem impedir o aporte nutricional adequado. Há perdas de líquidos através da saliva que escorre permanentemente,  de modo que a ingesta efetiva deve ser cuidadosamente controlada. Os problemas de mastigação exigem que sejam eliminados da dieta os alimentos duros e fibrosos. O vômito pode ser um problema por aumentar a perda de nutrientes. Quando a quantidade total de alimentos é limitada, a qualidade dos mesmos torna-se particularmente importante. Um paciente espástico que se move com dificuldade, pode requerer menos calorias; um atetóide pode necessitar de calorias adicionais para cobrir as energias gastas com os movimentos involuntários.  Qualquer paciente cuja capacidade torna impossível a sua movimentação, pode tornar-se obeso; o excesso de peso corporal é um problema de grande importância, durante a adolescência.

Prognóstico: Depende do grau de dificuldade motora, da intensidade de retrações e deformidades esqueléticas e da disponibilidade e qualidade da reabilitação. Entretanto, mesmo que o quadro motor seja considerado de bom prognóstico, existem três outros fatores que interferem decisivamente no futuro desempenho da criança:  

·         grau de deficiência mental;

·         número de crises epilépticas;

·         intensidade do distúrbio de comportamento.  

Crianças com deficiência mental moderada ou grave, com epilepsia de difícil controle ou com atitudes negativistas ou agressivas, Têm mais dificuldade de responder adequadamente à reabilitação.

Fatores que influenciam o prognóstico:

·         Extensão das manifestações.

·         Existência de defeitos associados, especialmente retardo mental grave.

·         Capacidade da família em enfrentar  a doença da criança.

·         Tipo e disponibilidade de recursos que a família pode ter acesso para o longo tratamento e reabilitação da criança.

Sequelas

·         Deficiência auditiva.

·         Deficiência visual.

·         Defeito visual congênito.

·         Distúrbios da percepção.

·         Retardo mental em vários níveis.

·         Distúrbios da linguagem.

·         Instabilidade postural.

·         Comprometimento do desenvolvimento.

·         Convulsões.

·         Problemas respiratórios.

·         Alterações cardíacas.

·         Complicações renais.

·         Distúrbios esfincterianos.

·         Deformidades incapacitantes.

·         Deformidades dos membros inferiores

·         Deformidades dos membros superiores.

·         Excesso de peso corporal, costuma ocorrer na fase de adolescência.

·         Emagrecimento acentuado na fase pré-escolar e escolar.

·         Úlceras de pressão (escaras).

Adaptações ambientais

Os carrinhos e cadeiras de rodas especiais são utilizados para facilitar o deslocamento das crianças com Paralisia Cerebral grave ou de evolução lenta, tanto no ambiente domiciliar como na escola e em atividades externas. Têm indicação para crianças que apresentam incapacidade para marcha, ou para uso de determinadas situações nas crianças com marcha lenta ou instabilidade acentuada. 

Quando a incapacidade motora impedir as atividades da vida diária no caso de crianças maiores, prescrevem-se adaptações com finalidade funcional para alimentação, higiene, vestuário e escrita.

Cuidados na alimentação

·         Quando a ingesta for limitada, os alimentos podem ser enriquecidos com leite em pó desengordurado, germe de trigo ou farelo.

·         Os líquidos podem ser espessados com cereais ou iogurte, para reduzir a insalivação.

·         Ao alimentar uma criança com paralisia cerebral, ponha o alimento num lado da boca, e ensine-a a usar a língua para movimentá-la por toda a cavidade bucal.

·         Lembrar sempre a criança  que os lábios devem ser mantidos fechados, a fim de evitar que os alimentos caiam de suas bocas.

·         Colocar a criança em uma boa posição anatômica, para se alimentar. Portadores espásticos tendem a hiperestender a cabeça, o que prejudica o mecanismo da deglutição.

·         Procurar orientar sobre a maneira de comer, a fim de torná-la independente, tanto quanto o possível.

·         Procurar não apressá-la na hora das refeições; proporcione um ambiente calmo e sem confusão.

·         A constipação pode tornar-se um problema, devido à atonia muscular e à reduzida ingesta de fibra. Alimentos laxativos podem ser úteis, o  farelo sem ser processado, poderá ser adicionado aos alimentos. 

Equoterapia e a Paralisia cerebral

 A Equoterapia é uma nova terapia, a qual através do uso do cavalo como um agente promotor de ganhos físicos, psicológicos e educacionais, vem beneficiando portadores de deficiência com lesões motoras, centrais, medulares ou sensoriais. A técnica, particularmente para as crianças portadoras de Paralisia Cerebral, contribui para o desenvolvimento da força e da resistência muscular, do aumento da flexibilidade e do relaxamento dos músculos e articulações dos praticantes que movimentam todo o corpo.

No plano psicológico, promove novas formas de socialização, autoconfiança e autoestima. A percepção do corpo da criança sobre o animal interagindo com o ambiente em movimento propicia estímulos visuais, auditivos, táteis e emocionais que geram mudanças no organismo. A abordagem terapêutica trata de aproveitar este momento para que, através de memórias internas, se realize o aprendizado.

Para cada criança cabe um programa individual, que considera suas finalidades e potencialidades.  A indicação para a terapia é feita na maioria das vezes, pelo médico que a assiste na respectiva patologia.  As sessões são individuais e duram, em média, 30 minutos.  A criança é atendida por uma equipe multidisciplinar composta de fisioterapeuta, psicólogo, equitador e professor de educação física.

O uso terapêutico do cavalo denominado de Equoterapia foi reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina em 1997. Os pais devem se informar se a sua cidade tem acesso a esses centros que oferecem a Equoterapia.


Dúvidas de termos técnicos  e expressões consulte o Glossário geral.