SÍNDROME DE
EDWARDS
Definição
A Síndrome de
Edwards é um erro genético que consiste na trissomia do cromossomo 18. A
Síndrome de Edwards ou Trissomia do 18 é um distúrbio
multisistêmico, com fenótipo complexo (resulta de uma variedade de cariotipos
raros), que pode causar várias malformações e anomalias no portador, tendo como
principais características: retardo no
crescimento fetal, Tetralogia de Fallot, anomalias abdominais,
mielomeningocele, alterações crâneo-faciais e sobreposição dos dedos da mão e
atraso mental grave. A doença tem alta morbidade, com elevado índice de abortamento (pré-natal)
e de mortalidade (pós-natal).
A doença causa
mais de 150 anormalidades diferentes, por isso a sua complexidade. A síndrome
causa no portador múltiplas malformações e anomalias, resultando em um
prognóstico extremamente reservado. A trissomia do 18
está associada a uma elevada taxa de mortalidade intra-uterina. Dentre as
várias caracteristicas físicas e fisiológicas, destacam-se o atraso mental,
malformação do coração, a boca pequena e o pescoço muito curto, crânio
excessivamente alongado na região occipital e atraso grave do crescimento do
indivíduo. O rastreamento dessa síndrome
deve ser preconizado em gestações de risco e gestantes com idade avançada.
Atenção:
Caso a síndrome seja detectada o aborto terapêutico ou provocado não é
permitido no Brasil. Deve-se verificar e esclarecer a etiologia da síndrome
para que o casal não corra o risco de gerar um novo descendente com a
trissomia.
Sinonimia
A Síndrome de Edwards
também pode ser conhecida pelos seguintes nomes:
·
Trissomia do 18.
·
Trissomia E.
Histórico
O professor
geneticista John H. Edwards e seus colegas descreveram o primeiro caso de
trissomia 18 em 1960, em uma menina de nove semanas de vida.
Incidência
A incidência da
doença é estimada entre 1:5000 a 1:8000 nascidos
vivos, aumentando a frequência com
a idade materna.
A trissomia do
cromossomo 18 corresponde
a segunda trissomia mais frequente nos seres humanos.
Maior
predominância em indivíduos do sexo feminino (3:1).
A mortalidade
pós-natal associada à síndrome é extremamente elevada.
A trissomia do 18 é
menos comum nos casos de abortos espontaneos do que a trissomia do 21.
Estudos indicam que
cerca de 30% dos portadores da síndrome apresentam comprometimento a nível
cerebral.
Cerca de 95% dos casos em
que o embrião é portador da trissomia 18, evoluem para aborto espontâneo ou
óbito fetal durante o primeiro ou segundo trimestre da gravidez.
Estatisticas
confirmam que apenas 5% dos portadores da trissomia 18 evoluem até o
nascimento, sendo que os recém-nascidos têm uma sobrevida média inferior a uma
semana, geralmente decorrente dos graves problemas cardíacos e renais que
apresentam logo após o nascimento.
Menos de 5% das
crianças portadoras da síndrome atingem o primeiro ano de vida.
São raros os
casos da síndrome em que o cromossoma extra tem origem
paterna.
Estatisticas
confirmam que cerca de 85% dos casos da doença, o erro
ocorre na disjunção cromossômica da meiose materna.
Etiologia
A síndrome é
causada por alteração genética durante a oogênese. A causa da doença é a não separação do
cromossomo no momento da formação do gameta, gerando uma falha da segregação
dos cromossomos.
Indivíduos com a
síndrome podem chegar a adolescência caso não
apresentem a forma livre de trissomia.
Fisiopatologia
A Síndrome
ocorre devido a uma não-disjunção do cromossomo 18 durante a gametogênese, o
que leva a uma falha na segrgação dos cromossomos. Geralmente os pacientes com
a trissomia 18, apresentam uma trissomia regular sem mosaicismo, isto é, com
cariotipo 47, XX ou XY, +18. Nos casos restantes, cerca da metade
apresenta uma trissomia com mosaicismo e
outras situações mais complexas, como aneuploidias duplas
ou translocações. O cariotipo de um paciente com trissomia em forma de
mosaico é 46/47, +18. Em cerca de 85% dos casos o erro
ocorre na disjunção cromossômica da meiose materna.
Fatores de risco
Idade avançada
da gestante (acima dos 35 anos).
Historia
familiar de anomalias cromossômicas.
Sinais e sintomas
Os portadores da
Síndrome de Edwards apresentam várias características, que podem ser
diagnosticadas logo ao nascimento, podendo também se apresentar ao longo da
infância (raramente). Geralmente as deformações ou alterações físicas são visíveis
quando o bebê nasce, principalmente aquelas que se apresentam nos membros
inferiores e/ou superiores, o rosto, a
cabeça e o tronco. As alterações cardíacas (malformação no coração) podem
causar risco de vida ao bebê logo após o nascimento, sendo que o recém-nascido para
sobreviver tem que ser submetido muito a cirurgia cardíaca imediatamente
Sinais
físicos:
Crânio-facial:
Crânio:
microcefalia (cabeça pequena) apresentando a zona occipital muito saliente;
diâmetro bifrontal estreito; fontanelas amplas; suturas cranianas abertas; em
alguns casos o portador pode apresentar hidrocefalia;
Orelhas:
displásicas e
de baixa implantação, com poucos sulcos e geralmente malformadas;
Olhos: cataratas;
fissuras palpebrais pequenas; opacificidade da córnea; microftalmia (olho
pequeno); inclinação mongolóide ou antimongolóide; coloboma de íris.
Boca: pequena;
palato alto e estreito (palato ogival); limitação à abertura da boca; alguns
portadores da síndrome apresentam lábio leporino / fenda palatina; mandíbula
recuada;
Sistema nervoso
central: hidrocefalia; mielomeningocele; anomalias do corpo caloso; alteração
do padrão dos giros cerebrais; paralisia facial;
Esqueleto:
ossificação incompleta da clavícula; esterno curto; pescoço normalmente curto;
aplasia radial; escoliose; peito escavado; anormalidade das costelas; vértebras fusionadas.
Mãos e pés:
postura das mãos; desvio lateral das mãos; dedos caracteristicamente fletidos
(o dedo indicador é maior do que os outros e flexionado sobre o dedo médio; os
2º e 5º dedos da mão são sobrepostos aos 3º e 4º dedos); ausência da prega
falangeana distal; prega
única; polegar hipoplásico ou ausente; áreas simples nas polpas digitais.
Pés:
proeminência dos calcanhares (pé em cadeira de balanço); em alguns casos os pés
são virados para fora e com o calcanhar proeminente; alguns portadores
apresentam hipoplasia e atrofia das unhas; rugas presentes na palma da mão e do
pé, ficando arqueadas nos dedos. Apresentam
rugas nas mãos e nos pés.
Tórax: tórax de
pombo; espaço intermamilar aumentado (a distância
entre os mamilos é maior do que o normal); mamilos hipoplásicos (pequenos);
pulmão apresenta malsegmentação ou ausência de segmentação do pulmão direito.
Sistema
cardíaco: má formação cardíaca; defeito nos septos interventricular e
interauricular; persistência do duto arterial; nodularidade dos folhetos
valvares; coarctação da aorta; estenose da artéria pulmonar; tetralogia de
Fallot; proliferaão da camada íntima em artérias com aterosclerose e
calcificações; dextrocardia; sopro sistólico; cardiomegalia.
Abdome: atresia
do esôfago; pâncreas ectópico; onfalocele (malformação congênita da parede
abdominal); fístula traqueoesofágica; divertículo de Meckell;
estenose pilórica; hernias umbilicais; hernias inguinais; vesícula hipoplásica; hipoplasia do
timo; rotação incompleta do cólon;diástases do músculo
reto; ânus afunilado, imperfurado ou em posição anormal.
Rins: os rins
podem apresentar-se em forma de ferradura, ectópicos; hidronefrose; rins
policísticos; ureteres duplos; tumor de Willms (câncer).
Pelve: pequena;
limitação à abdução do quadril; luxação de quadril.
Pele: Hirsutismo
leve (pelos), principalmente na testa e nas costas.
Sistema
reprodutor: os genitais externos são anômalos; hipoplasia dos grandes lábios
com clitóris proeminente; hipoplasia ovariana; útero bífido; hipospadia; escroto bífido.
Diagnóstico
A Síndrome pode
ser diagnosticada ainda intra-útero, isto é, quando o bebê ainda está no útero
da mãe (período pré-natal).
Durante a
gravidez (pré-natal):
·
Ultrassonografia:
detecta a translucência nucal alterada, cisto no plexo coróide, ausência do
osso nasal e malformação cardiáca. A translucência
nucal (TN) é a espessura do “espaço escuro” entre a pele e o tecido subcutâneo,
que recobre a coluna cervical do feto; exame deve ser feito entre a 10-14
semanas de gestação.
·
Alterações
nos rastreadores de marcadores séricos (AFP, HCG e uEST).
·
Amniocentese
(método mais eficiente).
·
Biópsia
de vilosidades coriônicas ( em caso de forte suspeita
de trissomia do 18)
·
Testes
sorológicos.
·
Tempo
gestacional alterado.
·
Placenta
pequena.
·
Atividade
fetal fraca.
·
Retardo
no crescimento fetal.
·
Batimentos
cardíacos anormais.
Logo após o
nascimento: algumas características apresentadas pelo recém-nascido podem levar
a equipe médica e de enfermagem a suspeitar que o bebê é
portador da Síndrome de Edwards:
·
choro agudo;
·
batimentos cardíacos
fracos;
·
placenta pequena;
·
hipoplasia da musculatura
esquelética;
·
baixo peso ao nascer
(< 2.100g);
·
posição dos dedos das
mãos (dedos sobrepostos); mão com tendência a punho fechado hálux curto e
fletido dorsalmente;
·
formato do crânio e da
face (orelhas baixas e malformadas, occipital proeminente e frontal pequeno,
mandíbula recuada, etc.);
·
esterno curto.
Obs: Existe um
sistema de escore para o diagnóstico da trissomia do 18
em recém nascidos para que clínicos não especializados em doenças genéticas possam
suspeitar ou fazer o reconhecimento da síndrome. A soma dos pontos atribuídos a cada
característica especificada, deve resultar 94 pontos,
em média, para que se possa considerar o diagnóstico clínico da síndrome.
O diagnóstico
definitivo é dado pela análise genética das células do recém-nascido (após o
nascimento) e pela amniocentese (pré-natal).
Após o período
neonatal:
·
Deficiência
mental.
·
Déficit
no crescimento.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico
diferencial deve ser feito para que a
Síndrome de Edwards não
seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através
dos exames clínico, físico, laboratoriais, genéticos e estudos radiológicos o
médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As
doenças que podem ser confundidas com a
Síndrome de Edwards
são as seguintes:
·
Sindrome
de Patau.
·
Síndrome
de Marden-Walker ou Síndrme de Bowen-Conradi.
·
Síndrome
de Pena-Shokeir tipo I.
Tratamento
Não existe
tratamento específico para a doença. O tratamento é sintomático, isto é,
conforme os sintomas apresentados.
Em alguns casos
pode ser necessário o uso de sonda para a alimentação, já que muitos
recém-nascidos apresentam dificuldade com a alimentação e deglutição.
Os bebês tem que
ter acompanhamento médico permanente.
A fisioterapia
pode melhorar as condições físicas e motoras da criança.
Apoio
psicológico para os pais pode ser necessário, pois na maioria dos casos os
bebês não sobrevivem além do primeiro ano de vida.
Prognóstico: Na grande
maioria dos bebês que apresentam essa síndrome têm o prognóstico reservado,
devido ao alto risco de morte que pode apresentar os sobreviventes. Cerca de
30% dos portadores morrem antes de um mês de vida e 10% antes de um ano. Casos
com grave formação cardíaca têm a sobrevida diminuída consideravelmente. Os que
apresentam a trissomia em mosaico têm uma sobrevida maior com limitações,
podendo chegar até a idade adulta.
Recorrência
Em famílias
consideradas normais, sem história de anormalidades cromossômicas a trissomia do 18, se dá de forma aleatória, isto é, simplesmente
ocorre. Neste caso, o risco de
recorrência é de 0,55%, isto é, caso ocorra outra gravidez o risco de gerar uma
criança com a síndrome é
muito baixo (0,55%).
Os casos em que
a trissomia do 18 é por translocação, os pais devem
procurar o Serviço de Genética para estudo citogênico, para que possa ser
averiguado a possibilidade do casal gerar um novo filho com a trissomia.
Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o Glossário geral.