DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA - DPOC


Introdução

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma enfermidade respiratória crônica, não contagiosa, que afeta diretamente o funcionamento dos pulmões, obstruindo a passagem do oxigênio pelas vias aéreas, diminuindo a capacidade para a respiração.  É uma doença caracterizada pela presença de sintomas respiratórios de longa duração (tosse, produção de catarro e falta de ar). O processo inflamatório crônico que a doença provoca nos pulmões pode produzir alterações nos brônquios (bronquite crônica),  nos bronquíolos (bronquiolite  obstrutiva) e da estrutura pulmonar - parênquima (enfisema pulmonar).  

A lesão pulmonar causada pela doença é irreversível, mas os sintomas podem ser tratados.  A DPOC reduz a capacidade das pessoas de realizar atividades básicas diárias, diminuindo  a qualidade de vida com o passar do tempo.  A sigla DPOC pode ser traduzida como a bronquite crônica ou enfisema pulmonar, manifestados em conjunto ou separadamente. Na maioria das vezes, quando se fala de DPOC, refere-se à bronquite crônica e ao enfisema pulmonar.

Estima-se que até 2020, a DPOC seja a terceira causa de morte mais freqüente no mundo, depois apenas da doença cardíaca isquêmica e da doença vascular cerebral. Atualmente,  a DPOC é considerada uma doença crônica  e  incurável. A DPOC é considerada pela Organização Mundial de Saúde um grande problema de saúde pública.

Incidência

·         Cerca de 85% dos portadores da doença fumaram cigarros por pelo menos duas décadas.

·         Maior incidência da doença nos indivíduos do sexo masculino, com idade acima de 40 anos.

·         Cerca  de 15% de todos  os fumantes  desenvolvem DPOC.

·         A doença é responsável por cerca de 39 mil mortes de brasileiros por ano.

·         Geralmente, o portador de DPOC quando diagnosticado já se encontra em estado avançado da doença.

·         Estima-se que de dez portadores da doença apenas quatro conheçam o estado dos seus pulmões.

·         Ocorre uma piora dos sintomas nos períodos mais frios ou no inverno, devido a concentração mais acentuada de poluentes e as quedas bruscas de temperatura.

·         A incidência da doença aumentou nos últimos 10 anos, principalmente entre as mulheres, em razão do aumento de fumantes na população feminina.

Causas

Tabagismo: A DPOC tem como causa principal o tabagismo. A doença desenvolve-se após vários anos de tabagismo ou exposição à poeira (em torno de 30 anos de exposição), o que leva a danos em todas as vias respiratórias, incluindo os pulmões. Os danos aos pulmões podem ser permanentes.

Genética: deficiência na enzima alfa-1 antitripsina, responsável por reparar a camada elástica do pulmão.

Infecções: os indivíduos que fumam apresentam com mais facilidade episódios de infecções respiratórias, que contribuem para a obstrução das vias respiratórias.

Fatores de risco

Os fatores de risco para se adquirir a  DPOC  são os seguintes:

Fatores externos:

·         Tabagismo (prática de fumar).

·         Exposição à poluição.

·         Exposição a irritantes  no ar.

·         Exposição a substâncias químicas nocivas (cola, mercúrio, pó de  carvão, sulfato de hidrogênio).

·         Exposição ocupacionais a produtos orgânicos no ar ou gases tóxicos.

·         Inalação persistente de fumaça gerada pela queima da lenha.

·         Infecções respiratórias graves na infância e adolescência.

·         Problemas respiratórios freqüentes.

·         Condições socioeconômicas.

Obs: O tabagismo é considerado o principal  fator de risco para o desenvolvimento da DPOC.

Fatores individuais:

·         Deficiência de alfa1-antitripsina: É causada por uma mutação genética (herdada) resultante da falta dessa proteína protetora aos pulmões.

·         Deficiência de glutationa transferase.

·         Alfa-1 antiquimotripsina.

·         Hiper-responsividade brônquica.

·         Desnutrição.

·         Prematuridade (indivíduo que nasceu de parto prematuro).

Classificação

A doença tem quatro níveis de classificação:

·         Leve.

·         Moderado.

·         Grave.

·         Muito grave.

DPOC e o  tabagismo

É uma doença que se desenvolve após vários anos de tabagismo, causando danos permanentes em todas as vias respiratórias, principalmente nos pulmões. Quanto maior a intensidade do tabagismo, maior a tendência ao comprometimento da função pulmonar. Aproximadamente 15% dos fumantes desenvolvem DPOC. A tosse é o principal sintoma na DPOC. O aparecimento da tosse no fumante é tão freqüente, que muitos portadores da doença não a percebem como sintomas da doença, considerando a tosse como "pigarro do fumante".

Na DPOC existe uma obstrução ao fluxo de ar, que ocorre, na maioria dos casos, devido ao  tabagismo de longa duração. O cigarro contém centenas de substâncias irritantes que causam alterações no trato respiratório, que podem evoluir para a doença obstrutiva crônica na grande maioria dos fumantes. Todas as formas de doença pulmonar crônica obstrutiva fazem com que o ar fique retido nos pulmões. O número de capilares nas paredes dos alvéolos diminuem e essas alterações prejudicam a troca de oxigênio e de anidrido carbônico entre os alvéolos e o sangue.

Diferenças entre DPOC e a Asma

 

DPOC

ASMA

Mais comum em fumantes e ex-fumantes

Não-fumantes são afetados

Os sintomas geralmente começam por volta dos 40 anos de idade

Os sintomas geralmente começam na infância

Os sintomas pioram com o tempo

Os sintomas pioram com o tempo de gravidade, mas nem sempre pioram com o tempo

Não associada a alergias

Mais da metade dos pacientes com asma têm alergia associada.

 

Sinais e sintomas

Na DPOC os sintomas aparecem de maneira lenta e progressiva, fazendo com que o paciente só procure o médico quando a doença já se encontra em uma fase mais avançada. Muitos pacientes se queixam  que ao acordar não têm disposição para levantar ou para realizar  as atividades cotidianas, como tomar banho, alimentar-se e caminhar. A queixa inicial mais comum é um cansaço intenso, sem justificativas, depois vem a tosse. A duração da tosse é crônica, podendo ser diária ou intermitente.

Período prodrômico:

·         Tosse

·         Catarro.

·         Falta de ar ao realizar exercícios, subir escadas ou ladeiras ou se precisar fazer pequenas corridas.

·         Cansaço frequente.

·         Aparecimento de dispnéia.

Caso grave:

·         Chiado no peito (sibilância).

·         Dificuldade grave para respirar.

·         Tosse produtiva.

·         Dispnéia freqüente.

·         Cansaço progressivo.

·         Aparecimento de inchaço nos pés e nas pernas.

·         Fraqueza no funcionamento do coração, causando problemas cardíacos.

Obs:  Cada crise grave provoca maiores danos pulmonares irreversíveis, que elevam os riscos de comprometimento respiratório, como também acentuam os problemas cardíacos.

Diagnóstico

·         Anamnese.

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

·         Exames laboratoriais.

·         Espirometria: exame que serve para medir a capacidade de expelir o ar dos pulmões.

·         RX simples do tórax nas posições póstero-anterior e perfil.

·         Oximetria: aparelho que em contato com a pele, mensura a quantidade de oxigênio circulando no sangue. Se for identificada uma saturação periférica de oxigênio (SpO2) igual ou inferior a 90%, está indicada a realização de gasometria arterial para avaliação da PaO2 e da PaCO2.

·         Gasometria arterial: exame que pode identificar uma hipoxemia e hipercapnia. É uma análise para medir a quantidade de oxigênio e dióxido de carbono no sangue das artérias. A primeira anormalidade presente na DPOC é a hipoxia moderada;

·         Tomografia Computadorizada: está indicada em casos especiais, tais quais suspeita da presença de bronquiectasias ou bolhas.

·         ECG-Eletrocardiograma: exame que serve para detectar sinais indicativos de sobrecarga ventricular direita e de taquiarritmias associadas.

Obs: A espirometria com obtenção da curva expiratória volume-tempo é obrigatória na suspeita clínica de DPOC, devendo ser realizado o exame antes e após a administração de broncodilatador.

Diagnóstico diferencial

Deve ser feito um diagnóstico diferencial  através de exames de imagens, laboratoriais  e clínico, para que a DPOC, não seja confundida com outras patologias com sintomas iniciais parecidos. As doenças que podem ser confundidas com a DPOC são as seguintes:

·         Asma brônquica.

·         Bronquiolites.

·         Bronquiectasias.

·         Tuberculose.

·         ICC - Insuficiência Cardíaca Congestiva.

Tratamento

Médico especialista: Pneumologista.

Objetivos: Melhorar a oxigenação do paciente, tratar e/ou prevenir a exacerbação ou agudização da doença, estabilizar a função respiratória, os sintomas da dispnéia, e melhorar a função da musculatura respiratória.

Tratamento medicamentoso: Os medicamentos específicos para tratar a DPOC servem para dilatar os brônquios, facilitando a respiração.  Os broncodilatadores são os medicamentos de escolha.  Esses medicamentos controlam a progressão da doença e a dispnéia.

Beta-agonistas de curta ação (salbutamol, terbutalina), os Beta-agonistas de longa acção (formoterol, salmeterol).

Anti-colinérgicos: Brometo de ipratrópio (curta ação): medicamento de inalação única diária. Tiotrópio (longa ação).

Corticoterapia: Os corticóides inalatórios podem ser necessários, quando prescritos pelo médico.

Antibioticoterapia: Os antibióticos são necessários para tratar processos infecciosos.

Oxigenoterapia: Inalação direta  de oxigênio com o auxílio de máscara ou cateter nasal, podem ser necessários. O oxigênio como qualquer remédio, só pode ser usado sob prescrição médica. O médico orientará de acordo  com as características do paciente o tipo de equipamento a ser empregado, a forma de administração, o fluxo e quantas horas por dia o paciente utilizará o oxigênio.

 

As exacerbações da doença podem ser tratadas a nível ambulatorial ou hospitalar, dependendo da gravidade do quadro.

 

Transplante Pulmonar: É a medida mais drástica no tratamento da DPOC muito grave. O transplante duplo de pulmão é a técnica de escolha. A principal indicação de transplante na DPOC é o déficit de alfa-1-antitripsina, que desenvolvem uma DPOC terminal aos 30 - 40 anos de idade.

Tratamento fisioterápico:  A fisioterapia respiratória deve ser avaliada individualmente.

Reabilitação pulmonar:  É um programa de cuidados para pacientes com alteração respiratória crônica, entre elas a DPOC, que  engloba o estabelecimento do diagnóstico preciso da doença principal e outras doenças associadas, tratamento farmacológico, nutricional e fisioterápico, recondicionamento físico, apoio psicossocial e educação. A reabilitação pulmonar está indicada tão logo o paciente fique consciente que a sua capacidade física está comprometida, independente da gravidade da DPOC. A equipe responsável por um programa de reabilitação é habitualmente constituída por diversos profissionais (multiprofissional): médico, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, enfermeiro, assistente social e terapeuta ocupacional. A elaboração do programa é individualizada, tendo os seguintes objetivos:

·         diminuir e controlar os sintomas respiratórios;

·         aumentar a capacidade física;

·         melhorar a qualidade de vida;

·         reduzir o impacto psicológico da limitação física imposta pela doença;

·         diminuir o número de agudizações (crises) relacionadas à doença;

·         prolongar a vida do paciente.

Prognóstico:  A doença é considerada irreversível. O prognóstico depende basicamente de um diagnóstico precoce, e conseqüentemente de um tratamento implementado o mais rapidamente possível.

A anorexia e a perda de peso são observadas freqüentemente nos períodos avançados da doença e têm mau prognóstico.

Importante:  Para começar o tratamento, o paciente deve parar de fumar imediatamente. Todo esforço deve ser feito  para combater o hábito de fumar.

Complicações

As complicações são na grande maioria decorrentes ou conseqüência das diversas crises graves que os portadores de DPOC, têm ao longo da vida. As mais comuns são as seguintes:

·         Insuficiência respiratória aguda grave.

·         Hipoxemia refratária.

·         Hipercapnia com acidose.

·         Insuficiência cardíaca descompensada.

Exarcebação da DPOC

Cerca de 80% dos pacientes com DPOC apresentam exarcebações ou agudização (crise de piora). A exacerbação é um quadro de instalação aguda, ou seja, rápida, caracterizada pela piora dos sintomas da doença, além das variações habituais diárias. Durante o processo de exacerbação ocorre um aumento significativo da tosse, da quantidade de escarro, que se torna amarelado ou esverdeado, e surgimento de falta de ar ou piora da falta de ar habitual. 

A principal causa da agudização da DPOC são as infecções respiratórias, provocadas por bactérias ou vírus. Outras possíveis causas de exacerbação da doença são: distúrbios cardiológicos, determinados medicamentos, embolia pulmonar e pneumotórax. Com a evolução da doença essas crises aumentam progressivamente tanto na frequência como na intensidade dos sintomas, constituindo um dos fatores determinantes para uma piora da qualidade de vida desses pacientes. Quanto maior o número de "crises" em um ano maior é a gravidade da doença. Um dos objetivos principais do tratamento do paciente portador de DPOC é a redução do número de agudizações ou exacerbações da doença.

Seqüelas

As seqüelas são decorrentes da perda da capacidade pulmonar do portador de DPOC.

·         Limitação das atividades diárias.

·         Dispnéia crônica (falta de ar).

·         Diminuição da qualidade de vida.

·         Depressão.

Prevenção

A DPOC é uma doença prevenível, isto é, com alguns cuidados ela pode ser perfeitamente prevenida ao longo da vida do indivíduo.

·         Evitar o fumo.

·         Evitar exposições a poeiras, gases e produtos químicos inalados.

·         Evitar a poluição do ar.

·         Qualquer pessoa com mais de 40 anos, deve fazer uma avaliação respiratória.

Cuidados gerais para o portador de DPOC

·         Evitar o fumo, em qualquer situação e quantidade.

·         Evitar locais poluídos.

·         Ter cuidado com as grandes variações atmosféricas e de temperatura.

·         Evitar viver em lugares muito frios.

·         Usar a medicação, conforme as indicações médicas.

·         Cumprir as instruções médicas para as crises ligeiras e  leves  para que não evoluam para uma crise grave.

·         Ficar atento  aos sinais iniciais de crise grave, causadas pelas infecções brônquicas: aumento da dispnéia, cor amarela ou esverdeada da expectoração e ao aumento do volume da mesma , com ou sem febre.

·         Conservar energia para poupar oxigênio utilizado na realização de atividades do cotidiano.

·         Prevenir e tratar rapidamente as crises graves.

Obs:  Muitos portadores de DPOC têm que entrar com liminar  na justiça para poderem ter acesso ao fornecimento gratuito de medicamentos de uso contínuo, reabilitação pulmonar com exercícios físicos contínuos, oxigenoterapia e transplante.


Dúvidas de expressões e termos técnicos, consultar o Glossário geral.