DOENÇA DE LYME

  


 

Definição

A Doença de Lyme é uma zoonose causada por uma picada de carrapato infectado. Consiste em um processo inflamatório, multissistêmico, caracterizada por lesão cutânea que aumenta lentamente, tomando uma forma anular, denominada de Eritema crônico migrans. É associada a febre, mialgias (dores musculares), artralgias (dores articulares), cefaléia (dor de cabeça), fadiga e linfoadenopatia. Caso não seja tratada, mais da metade dos pacientes, desenvolvem posteriormente, complicações neurológicas, cardíacas, paralisias e artrite crônica.

Sinonímia

A Doença de Lyme também é conhecida pelos seguintes nomes:

Incidência

Agente etiológico

Espiroqueta Borrelia burgdorferi. Vetor: carrapatos  do Gênero IxodesIxodes dammini, Ixodes scapularis e Ixodes pacificus.

Patogenia

Parece que a Doença de Lyme resulta da ação direta da infecção e da resposta imune à Borrelia burgodorferi. O espiroqueta é inoculado na corrente circulatória através da saliva do carrapato, ou depositado na pele junto com sua matéria fecal. Após um período de incubação, o espiroqueta pode invadir a pele ou migrar para ela, causando o Eritema crônico migrante, ou, ainda, entrar na corrente sanguínea e migrar para lugares distantes. O espiroqueta tem sido isolado no líquor de pacientes com sintomas neurológicos após 10 semanas da picada inicial do carrapato. As complicações tardias, são provavelmente causadas pelo efeito direto da infecção com organismos vivos, e a fenômenos imunológicos decorrentes.

Características epidemiológicas

É considerada uma doença endêmica na costa Atlântica dos Estados Unidos, que vai desde Massachusetts até Maryland, com outros focos em expansão. No Brasil, alguns focos já foram detectados em São Paulo, Santa Catarina e no Rio Grande do Norte.

A freqüência da Doença de Lyme em uma determinada área, depende da densidade populacional dos carrapatos do gênero  Ixodes e do grau de parasitismo desses carrapatos. 

 

Obs: No Brasil, ainda não se conhece a situação epidemiológica da doença, devido aos poucos casos relatados  à Vigilância Sanitária.

Grupos de risco

Fontes

O camundongo, o coelho, lagarto, o veado e outros animais silvestres representam o foco natural da doença.  Outros animais como o cão, o gato e os pássaros podem carregar o carrapato infestado pela bactéria Borrelia burgdorferi, que causa a doença.

Transmissão

A doença é transmitida para o homem através da picada do carrapato infectado, que transporta a bactéria do animal doente para outros animais e para o homem. 

Período de transmissibilidade

Não se transmite de pessoa a pessoa.

Período de incubação

Esse período oscila de 3 a 30 dias. O aparecimento do Eritema migrans ocorre de 3 dias a  um mês após à exposição a picada dos carrapatos. Se não houver o Eritema migrans na fase inicial, a doença pode se manifestar anos mais tarde, o que prejudica a determinação do período de incubação. Nesse caso, geralmente o paciente apresenta a doença já no estágio 3.

Sinais e sintomas

A Doença de Lyme pode manifestar-se através de uma ampla gama de sintomas e gravidade. Em sua forma inicial, existe freqüentemente um exantema (Eritema migrans) e pode ser acompanhado por linfadenopatia regional (ínguas). Sintomas inespecíficos como febre baixa, mal-estar geral, cansaço e falta de apetite costumam estar presentes, sobretudo no início da doença.

Intervalos de dias, semanas e meses, durante os quais o paciente se sente bem, separam os três estágios da doença.  Nos estágios tardios, são possíveis as manifestações neurológicas com suas complicações e seqüelas, variando desde a Paralisia de Bell até uma síndrome semelhante à de Guillain-Barré ou  demência.  Os sinais e sintomas característicos nos estágios clínicos da Doença de Lyme são os seguintes:

 

Estágio 1:  a média gira em torno de quatro semanas:

 

 

Estágio 2:   a média pode oscilar de dias a meses:

 

 

Estágio 3:  esta fase pode durar de meses a anos:

 

 

 Eritema Crônico Migrans ou migrante (ECM):

 

O Eritema crônico migrans é a mais perceptível e característica  apresentação da Doença de Lyme. Ele precede todas as outras fases da doença e segue a picada do carrapato em dias ou semanas. O rash inicia-se como uma pequena mácula ou pápula, que se expande, por dias ou semanas, para formar uma lesão eritematosa grande e anular.  A borda externa é com freqüência intensamente eritematosa e pode ser  elevada ou plana. Clareamento central geralmente acompanha a expansão do anel.  Em lesões precoces, o centro é algumas vezes, endurado. Em cerca de 40% dos pacientes, lesões múltiplas se apresentam simultaneamente e, algumas vezes, as bordas entre  as lesões se tornam contíguos ou se unem; raramente novas lesões se formam dentro de antigas. As lesões secundárias tendem a ser menores e menos enduradas do que as lesões primárias. O ECM ocorre mais comumente em extremidades próximas da coxa, região glútea, axila e tronco.

Alguns pacientes relatam que as lesões produzem sensação de queimação, sendo quentes à palpação; não escamam nem são pruriginosas. Em muitos pacientes, o rash desaparece após um período de três dias e oito semanas (média de três semanas). É comum febre (acima da 39,4°C), tremores, mal-estar, fadiga e cefaléia por vários dias. Alguns pacientes também relatam náuseas e vômitos, torcicolo e odinofagia. Linfoadenopatia (ínguas) pode ocorrer.  Nos pacientes com Doença de Lyme, a doença é prenunciada pelo ECM, e os sintomas neurológicos se manifestam de duas a seis semanas após o aparecimento do rash (variação de uma a 12 semanas).

Manifestações neurológicas:

 

A doença do SNC inicia-se com cefaléia grave e torcicolo. Em alguns pacientes, a neuropatia central, especialmente paralisia facial  e radiculopatia motora e sensorial, estão superpostas à fase meningítica da doença.

 

Manifestações cardiológicas:

 

Aproximadamente, 10% dos pacientes com Doença de Lyme desenvolvem doença cardíaca, dentro de algumas semanas até alguns meses, após o início da doença. O distúrbio mais comum é o bloqueio átrio-ventricular, de vários graus. Podem desenvolver também, bloqueio cardíaco total. Mais da metade dos pacientes tiveram evidências de envolvimento cardíaco difuso, incluindo miopericardite, disfunção ventricular esquerda ou cardiomegalia (aumento do coração).

 

Artrite de Lyme:

 

Em pacientes que desenvolvem sintomas articulares logo após o primeiro estágio da doença, as manifestações tendem a ser transitórias, menos bem definidas e caracterizadas por artralgia migratória ou dor em ossos, músculos e sinoviais.  Pacientes sem Eritema crônico migrans podem desenvolver artrite e outros sintomas constitucionais, tais como febre, torcicolo e sinais neurológicos precocemente. A Artrite de Lyme costuma envolver grandes articulações: joelhos quadris, ombros etc. A articulação temperomandibular e as pequenas articulações das mãos e pés são ocasionalmente envolvidas.    As articulações tendem a ser muito mais edemaciadas (inchadas) que dolorosas, apresentam calor mas não rubor, isto é, ficam quentes mas não ficam avermelhadas.  Cada episódio da artrite dura poucas semanas a pouco meses, e as  recorrências ocorrem de vez em quando, em intervalos de alguns anos.   A maioria dos indivíduos queixam-se de mal-estar, tremores, cefaléia e torcicolo durante os ataques recorrentes de artrite.  

Diagnóstico

 

Obs:  Atualmente, os casos de Doença de Lyme são considerados definidos somente se ocorre o Eritema Crônico Migrans (ECM).  A detecção do ECM é considerado diagnóstico positivo para a Doença de Lyme, juntamente com o quadro clínico e os dados  epidemiológicos sugestivo.

 Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial deve ser feito para que a Doença de Lyme não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico, laboratoriais e estudos radiológicos o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças  que podem ser confundidas com a Doença de Lyme são as seguintes:

 

Eritema crônico migrans:

 

Artrite de Lyme:

 

Manifestações neurológicas:

Tratamento

O tratamento depende da idade do paciente e da sintomatologia apresentada.

 

Antibioticoterapia: O tratamento é à base de antibióticos, que promove cura e recuperação rápida, caso seja iniciado na fase inicial da doença.

 

Em estágios mais avançados o tratamento à base de antibióticos deve ser mais longo, mas nem sempre se torna muito eficaz.

Complicações

Caso a doença não seja diagnostica e tratada na fase inicial, isto é, ainda no estágio 1, a evolução pode trazer complicações e seqüelas graves, que pode afetar consideravelmente a saúde do paciente.

Prevenção

Medidas sanitárias:

 

Medidas gerais: Para pessoas que trabalham ou vivem em áreas endêmicas da Doença de Lyme, algumas medidas preventivas podem ser implementadas, para tentar evitar a doença:

 

Cuidados na retirada de carrapatos:

A retirada dos carrapatos encontrados agarrados na pele deve ser feita com as mãos protegidas por luvas ou sacos plásticos. Essa retirada deve ser através do uso de pinças, sem, no entanto, apertar muito o carrapato, este deve ser retirado lentamente.  Evite esmagá-los, para que as bactérias que estão no interior do carrapato  não se espalhem mais ainda pela pele. Após tirar o carrapato, lave as mãos e a área da picada com água e sabão. Após a lavagem passe álcool iodado.  Guarde o carrapato vivo dentro de um frasco de vidro identificado com a data e o local da picada.  Entregue o frasco com o carrapato ao seu médico, no Posto de Saúde ou à autoridade sanitária do local.  Esse procedimento de entregar o carrapato  às autoridades sanitárias deve ser feito em áreas endêmicas.  Nunca se deve tirar o carrapato com as mãos sem proteção.


Dúvida de expressões e termos técnicos consulte o Glossário geral.