BULIMIA NERVOSA


Definição Transtorno Alimentar

Os Transtornos Alimentares são definidos como desvios do comportamento alimentar, que podem levar ao emagrecimento extremo (caquexia) ou à obesidade, entre outros problemas físicos e incapacidades. Os Transtornos Alimentares são todos aqueles que se caracterizam por apresentar alterações graves na conduta alimentar. As mulheres são as grandes vítimas dos transtornos alimentares. Os Transtornos Alimentares na área psiquiátrica, são definidos como quadros psiquiátricos que afetam principalmente, adolescentes e adultos jovens do sexo feminino, provocando aumento de morbidade e mortalidade nessa população.

Introdução

A Bulimia Nervosa é uma doença  caracterizada por um ciclo secreto de compulsão alimentar seguida de vômitos induzidos ou de outros métodos compensatórios inadequados com  o objetivo de evitar ganho de peso.  A Bulimia nervosa é considerada um transtorno alimentar. Para qualificar o transtorno, a compulsão alimentar periódica e os comportamentos compensatórios inadequados devem ocorrer, em média, pelo menos duas vezes por semana por pelo menos 3 meses consecutivos.  A Bulimia é formada por episódios repetidos de ingestão compulsiva de grandes quantidades de alimento, com perda completa de controle alimentar e esforços para controlar o peso através da provocação de vômitos ou uso abusivo de laxativos. Os vômitos são  comuns e auto induzidos. O vômito diminui a dor abdominal e permite que a pessoa continue a comer sem medo de ganhar peso. Comportamentos ritualísticos em relação aos alimentos podem estar presentes. A Bulimia pode ser uma síndrome em diferentes doenças médicas ou mais um componente da anorexia nervosa.

Os indivíduos  com Bulimia nervosa colocam uma ênfase excessiva na forma do corpo  e/ou no  seu peso, sendo esses fatores que interferem profundamente na sua auto-estima. As pessoas com Bulimia nervosa podem ter estreita semelhança com as que têm Anorexia Nervosa, em seu medo de ganhar peso, no desejo de perder peso seja de que forma for e no nível de insatisfação com seu próprio corpo. Geralmente,  o peso dos pacientes bulímicos costuma manter-se na normalidade, e por isso é freqüente que nem sequer a família ou amigos próximos percebam o problema.

Incidência

·         Estudos mostram que cerca de 70% dos pacientes com a doença que fazem tratamento longo, se recuperam; menos de 5% se recuperam após um ano de tratamento.

·         90% dos portadores pertencem ao sexo feminino; ocorrência maior em adolescentes e mulheres jovens.

·         Ocorre geralmente no período final da adolescência, ou no início da idade adulta.

·         Estudos mostram uma incidência maior nas mulheres adultas  com problemas e dificuldades no casamento ou recém-separadas.

·         Maior incidência em pessoas das classes sociais mais elevadas (classe A e B).

·         Costuma ocorrer com mais freqüência  em pessoas obesas ou com o peso um pouco acima do normal, mas atualmente, também está ocorrendo com uma certa freqüência em adolescentes e jovens  com o peso na média para a sua faixa etária.

·         O bulímico reconhece mais facilmente seu descontrole alimentar do que o anoréxico, e tende a procurar ajuda médica.

·         Nos homens os transtornos alimentares aparecem entre 18 e 26 anos.

·         Pacientes que passaram por cirurgia bariátricas (para redução de peso) apresentam em algum grau casos de Bulimia.

Quando o controle alimentar passa a ser um transtorno alimentar

O controle alimentar passa a ser um problema quando começam a ocorrer alterações. Mas, porque algumas moças podem fazer dieta desde a adolescência sem problemas e outras têm o transtorno, é preciso levar em conta os fatores genéticos, sociocultural, às vezes até estados associados, porque é muito freqüente a co-morbidade com episódios depressivos. Sabe-se que emoções negativas podem influenciar no aparecimento desses episódios bulímicos. Mulheres muito ansiosas ou que estejam vivendo situações emocionais, alterações na dinâmica familiar ou problemas de cunho pessoal também podem correr o risco de desenvolver a Bulimia.

Motivos que podem levar à Bulimia

Estudos comprovam que não existem causas como a predisposição genética nem hereditária, para que ocorra a Bulimia nervosa. Porém, as estatísticas  destacam os seguintes motivos que podem levar uma adolescente a ser portadora de Bulimia nervosa:

·         Padrão estético de beleza.

·         Fatores comportamentais.

·         Fatores emocionais.

·         Obesidade.

·         Medo de engordar.

·         Modismo.

·         Ambiente familiar.

·         Problemas originados na infância.

·         Carreira de modelo: devido ao biotipo exigido para essa profissão, em que o peso e os números das medidas do corpo são quase um padrão que se deve seguir.

·         Mídia:  a propagação de dietas que promovem maravilhas, em termos de emagrecimento em tempo recorde,  incitam as jovens a experimentar, e este processo de experimentação,  pode ser o "pontapé" inicial para os primeiros episódios de Bulimia nervosa.

Características essenciais

Os indivíduos que sofrem de  Bulimia nervosa têm duas características fundamentais:

Compulsões periódicas: é definida pela ingestão, em um período limitado de tempo, de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos consumiria sob circunstâncias similares.

Comportamentos compensatórios inadequados: são métodos para compensar a compulsão periódica. Nesses casos o paciente  se arrepende de ter comido excessivamente, e tenta através de várias técnicas se livrar do alimento ingerido. As técnicas compensatórias podem ser as seguintes:

·         Indução de vômito.

·         Uso de laxantes ou purgativos.

·         Uso de enemas (lavagens intestinais).

·         Uso de diuréticos.

·         Jejum forçado por um dia ou mais.

·         Exercícios  físicos excessivos.

Classificação

São meios para especificar a presença ou ausência do uso regular de métodos purgativos como meio de compensar uma compulsão periódica. Na Bulimia existem dois tipos de classificação:

·         Tipo purgativo:   são aqueles em que o indivíduo usou como recurso para combater a compulsão periódica de alimentos a auto-indução de vômito, uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas (lavagens intestinais), durante o episódio atual.

·         Tipo sem purgação:  são aqueles em que o indivíduo usou como recursos para combater os comportamentos compensatórios inadequados, técnicas compensatórias, tais como jejuns ou exercícios excessivos, mas não utilizou  auto-indução de vômitos, laxantes, diuréticos ou enemas durante o episódio atual.

Do ponto de vista médico, os casos de purgações (tipo purgativo) são os mais graves, já que ao induzir vômitos a pessoa provoca no organismo um desequilíbrio eletrolítico entre o potássio e o sódio, podendo entrar em coma ou sofrer parada cardíaca.

Fatores genéticos

São evidenciáveis devido a maior freqüência de quadros idênticos em familiares de pacientes. Famílias com história de depressão, alcoolismo  e obesidade também apresentam um risco maior.

Fatores biológicos

Os fatores biológicos começaram a ser observados a partir de estudos terapêuticos com medicamentos antipsicóticos e antidepressivos.

Fatores psicológicos

Influem por constituírem ma demanda sobre os adolescentes de independência, e de funcionamento social e sexual sobre os adultos. No entendimento psicanalítico, pode-se falar de uma defesa contra fantasias e conflitos orais, uma grave regressão no desenvolvimento do   prazer.

Fatores ambientais

Os fatores ambientais estão presentes através da valorização social pelo físico, o culto ao corpo. Socialmente a obesidade é ridicularizada.

Fatores desencadeantes

São situações ou fatores  que juntos ou individualmente podem desencadear ou contribuir para o início do processo evolutivo da Bulimia nervosa.

·         Dietas para perda de peso.

·         Problemas de comportamento.

·         Baixa da auto-estima.

·         Fixação na aparência.

·         Competição para perda de peso.

·         Fatores ambientais.

·         Stress emocional forte.

·         Falta de tempo ou ausência dos pais que precisam trabalhar (casos de crianças e adolescentes).

·         Abuso de álcool.

·         Separação do casal.

·         Separação dos pais.

·         Falta de comunicação na família.

·         Comportamentos ritualísticos.

Evolução

A Bulimia nervosa geralmente se inicia pela compulsão periódica (ingestão excessiva de alimentos),  após um período de dieta  alimentar. A pessoa começa a comer exageradamente. Depois de algum tempo, ela começa a se achar feia e gorda (mesmo que o seu peso não tenha aumentado tanto), e então começa a comer compulsivamente e provocar vômitos. Esse  comportamento alimentar perturbado persiste por pelo menos vários anos, no ciclo básico: compulsão alimentar e indução de vômitos.  As portadoras de Bulimia perdem o controle e comem tudo o que vêem pela frente. Enquanto uma ingestão normal por dia é algo em torno de 2.500 calorias, pacientes com Bulimia chegam a consumir 4 mil, 5 mil, até 15 mil calorias em um ataque. Com culpa e muito medo de engordar, quando terminam de comer elas vão para o banheiro vomitar. O curso evolutivo pode ser crônico ou intermitente, com alternância de períodos de remissão e recorrências de ataques de fome e vômitos. O resultado da Bulimia nervosa a longo prazo (mais de 5 anos) no organismo, ainda não foi totalmente estudado e avaliado. Isso ocorre, porque as pessoas com esta doença, procuram ou são induzidas a procurar ajuda médica geralmente antes desse período. 

Diferença entre a Bulimia e a Anorexia

A diferença básica entre as anoréxicas e as bulímicas é que as últimas, de uma forma ou de outra, são capazes de perceber que seu comportamento é nocivo e sentem muita vergonha do que fazem. As anoréxicas, por sua vez, negam ajuda e acreditam que o que fazem é normal e correto. Além disso, as pacientes de Bulimia não têm uma distorção de imagem corporal tão como a que é causada pela Anorexia. O que diferencia clinicamente Bulimia da Anorexia é o índice de massa corporal (IMC), inferior a 17,5, no caso das anoréxicas, e o grau de distorção da própria imagem.

Na Bulimia nervosa ocorrem episódios recorrentes de compulsão periódica de alimentos, seguidos de comportamento compensatório recorrente. Essa compensação se dá por recursos inadequados, como a auto-indução de vômitos, o uso freqüente de laxantes, diuréticos e enemas (lavagens intestinais), com o propósito de evitar o aumento de peso.  Na Bulimia a pessoa come desregradamente, e depois se arrepende dessa compulsão  exagerada e tenta de todas as formas possíveis, colocar para fora o que foi ingerido. Na Bulimia dificilmente a pessoa fica tão magra, ao ponto de aparecer costelas e outras proeminências ósseas pelo corpo. 

Na Anorexia nervosa,  existe uma recusa em manter o peso corporal em um nível igual ou acima do adequado. A pessoa anerótica tem um medo  intenso de engordar, mesmo já estando com o peso abaixo do normal. Existe uma dificuldade em perceber o próprio corpo como ele é na realidade. Ou seja, os outros à sua volta dizem que ela já está suficientemente  magra (ou magra até demais), mas mesmo assim a pessoa não acredita, nem se olhando no espelho. Na maioria dos casos, a pessoa com Anorexia nervosa, não se conscientiza  da sua magreza, mesmo com os problemas de saúde que podem ser provocados pela magreza excessiva. Para ela, na sua realidade e concepção de beleza, precisa emagrecer mais ainda.

O bulímico reconhece mais facilmente seu descontrole alimentar do que o anoréxico, e tende a procurar ajuda médica. Os pacientes anoréticos geralmente recusam-se a comer em público.

Resumindo, na Bulimia existe uma meta de peso ideal a alcançar. Ele se alimenta, às vezes em excesso, se arrepende, e vomita ou usa de outros métodos para não aumentar de peso, enquanto na Anorexia o indivíduo não tenta se alimentar ou se o faz é em quantidade extremamente reduzida,  com o objetivo principal de sempre emagrecer. Ele não tem uma meta de peso ideal a alcançar.

Diferenças entre os pacientes de transtornos alimentares

 

ANOREXIA

BULIMIA

COMPULSÃO ALIMENTAR

 TCAP      

Grande maioria de mulheres.

Grande maioria de mulheres.

Maioria de mulheres, mas há bem mais homens que nos outros transtornos.

Maioria de mulheres, mas há bem mais homens que nos outros transtornos.

 

Algumas, além de restringir alimentação, vomitam (por auto-indução ou com remédios).

Vomitam (por auto-indução ou com uso de remédios) recorrentemente após episódios compulsivos.

Não apresentam vômitos.

Não apresentam vômitos.

Abusam de diuréticos e laxantes.

Algumas abusam  de diuréticos e laxantes.

Não usam diuréticos ou laxantes

Não usam diuréticos ou laxantes

 

Apresentam perda de peso grave.

Apresentam peso normal ou acima do normal. Depois de algum tempo, podem evoluir para a perda de peso

75% apresentam obesidade.

30%  a 40% apresentam obesidade

Possuem  grande  distorção  da   imagem    corporal, tanto própria quanto alheia.

Distorção da imagem corporal é menos acentuada.

Não há distorção da imagem corporal.

Não há distorção da imagem corporal.

Negam a fome.

Tentam controlar a fome

Alimentam-se normalmente durante o dia, mas têm episódios onde comem em demasiado.

Têm episódios recorrentes de comer compulsivo, em qualquer horário

São introvertidas.

São mais extrovertidas

São introvertidos.

São introvertidos e depressivos

Não tem sentimento de culpa.

Sentem-se culpadas por seu comportamento.

Não se culpam pelo comportamento.

Sentem-se culpadas por seu comportamento.

A menstruação pára.

A menstruação pode se tornar irregular.

A menstruação não sofre qualquer  interferência.

A menstruação não sofre qualquer interferência.

Podem apresentar problemas afetivos.

Podem apresentar problemas afetivos e abuso de álcool , cigarroe drogas.

Podem apresentar problemas afetivos

Podem apresentar problemas afetivos

Não apresentam depressão

Podem apresentar quadro de depressão leve

Não apresentam depressão

Apresentam quadros de depressão moderada a grave

 

Sinais de alerta

Os distúrbios alimentares devem ser identificados precocemente. É importante intervir logo no início do processo. Os pais ou familiares que convivem na mesma casa  da pessoa com Bulimia, devem ficar  atentos aos seguintes sinais:

·         A pessoa desaparece da mesa durante o almoço ou jantar  e vai direto para o banheiro com freqüência.

·         Fala  o tempo todo sobre perder peso ou fazer dieta.

·         Está obcecada pela aparência, e sempre fala que está gorda, apesar de se encontrar no peso ideal.

·         Controle absoluto de todas as calorias ingeridas.

·         Come mais rápido que os demais na mesa.

·         Depois de comer mais que os outros, sente repulsa por si mesmo, porque comeu muito.

·         Preocupação exagerada com a forma e o peso do corpo.

·         Uso indiscriminado de substâncias e estimulantes para perder peso e controladores do apetite.

·         Uso indiscriminado de laxantes  e diuréticos.

·         Demonstra sentimentos de perda de controle.

·         Episódios de jejum freqüentes.

·         Após episódios de compulsão periódica de alimentos, a pessoa passa a fazer exercícios físicos excessivos.

·         Uso de roupas menores que o seu tamanho (no início).

·         Distanciamento da escola.

·         Distanciamento dos amigos.

·         Emagrecimento no início discreto, com o tempo começa a ficar mais evidente.

·         Olhos fundos e olheiras.

·         A pessoa tem uma aparência mais cansada.

·         Desânimo.

·         Sinais de depressão.

·         Vontade de se refugiar no seu quarto, devido a sua aparência.

·         As roupas ficam grandes no corpo, devido ao emagrecimento.

Características do portador de Bulimia nervosa

·         Peso um pouco acima do normal, antes do transtorno alimentar.

·         Perda de peso acentuada, conforme a evolução.

·         Uso quase exclusivo de alimentos com baixas calorias (diet).

·         Preocupação excessiva com a forma e o peso do corpo.

·         Sempre que tem oportunidade,  se pesa.

·         Auto-estima em baixa.

·         Fica depressivo sem motivo aparente.

·         Alterações freqüentes do humor.

·         Uso indiscriminado de estimulantes e controladores de apetite, com seus efeitos colaterais mais exarcebados.

·         Abuso do álcool (como a pessoa está mais fraca devido a Bulimia, o álcool faz efeito mais rápido, causando situações inconvenientes).

·         Queixas freqüentes de azia (devido aos vômitos provocados).

·         Rendimento escolar vai baixando, à medida que a Bulimia vai evoluindo.

Sinais e sintomas

A Bulimia nervosa é assintomática na sua fase inicial, com a sua evolução o indivíduo começa a apresentar a sintomatologia e características da doença. A família é a primeira a notar que algo não está certo. Começa-se a perceber em casa que não se trata mais de um simples regime. Existe quase uma obsessão em perder peso, e um pavor enorme em ganhar qualquer grama. Quando os sinais físicos se evidenciam ou visualizam-se a pessoa geralmente, já está com a doença há mais de um ano:

·         Perda de peso acentuada.

·         Episódios freqüentes de vômitos.

·         Mãos com cicatrizes e dedos com calos, devido à indução de vômitos pela estimulação manual da glote, isto é,  a pessoa coloca um dedo ou dois  dentro da boca (o mais profundo possível) para provocar os vômitos. Esse ato causa calos nos dedos (Sinal de Russel) , e pequenas feridas nas mãos.

·         Irregularidades no ciclo menstrual das mulheres.

·         Amenorréia (casos raros).

·         Distúrbios hormonais.

·         Distúrbios hidroeletrolíticos.

·         Rosto emagrecido e  olhos fundos com presença de olheiras (caso avançado).

·         A pele apresenta-se pálida, seca e sem elasticidade (caso avançado).

·         Proeminências ósseas visíveis (caso avançado).

Manifestações dentárias:

·         Alteração na arcada dentária.

·         Dentes lascados.

·         Perda do esmalte dentário.

·         Dentes com aparência serrilhada e corroída.

·         Maior freqüência de cáries dentárias.

Manifestações gastrintestinais:

·         Alterações no peristaltismo intestinal (movimentos intestinais), devido ao uso crônico de laxantes.

·         Episódios freqüentes de azia, devido aos vômitos.

·         Episódios de diarréia, devido aos laxantes e purgantes.

·         Vômitos controlados no início, mas com a evolução da doença, começa a ficar descontrolado.

·         Gastrite nervosa.

·         Alterações nutricionais.

Manifestações psicológicas:

·         Transtorno do humor.

·         Ansiedade.

·         Depressão leve, mas com a evolução da doença, a depressão pode chegar  a graus mais graves.

·         Astenia.

·         Desânimo.

·         Irritabilidade.

·         Sintomas da Síndrome do Pânico.

Diagnóstico

·         Anamnese

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

·         Exame psicológico.

·         Exame neurológico (alguns casos específicos).

·         Exame psiquiátrico (alguns casos específicos).

·         Exames laboratoriais.

Diretrizes diagnósticas  para Bulimia

·         Impulso persistente de comer e um desejo irresistível de comida,

·         O paciente tenta neutralizar os efeitos de engordar dos alimentos através de vômitos, uso de laxantes, uso de drogas, períodos alternados de inanição.

·         Pavor mórbido de engordar definindo para si mesmo um limiar de peso nitidamente definido.

Diagnóstico diferencial

Alguns transtornos psiquiátricos podem causar perda de peso acentuada, como a depressão patológica. Alguns  esquizofrênicos podem recusar alimentação por motivos delirantes, que raramente envolve critérios calóricos. A Bulimia Nervosa  deve ser diferenciada dos seguintes distúrbios e transtornos:

·         Anorexia nervosa.

·         Síndrome de Kleine-Levin.

·         Transtorno Depressivo Maior.

·         Transtorno da Personalidade Bordeline.

Tratamento

Equipe multidisciplinar:

·         Médico psiquiatra.

·         Endocrinologista.

·         Nutricionista.

·         Psicólogo.

Objetivos do tratamento

·         Interromper a compulsão descontrolada de ingestão de alimentos.

·         Interromper a indução aos vômitos forçados e o uso de laxantes.

·         Estabilizar o quadro clínico.

·         Restaurar o estado nutricional.

Obstáculos ao tratamento:

·         Resistência da paciente em admitir que está doente e que precisa de cuidados médicos e psicológicos.

·         Falta de adesão ao  tratamento.

·         Abandono do tratamento.

Tratamento clínico: é necessário, se houver distúrbios orgânicos. Internamento em unidade hospitalar é necessário quando, a doença acarreta distúrbios hidroeletrolíticos, e nutricionais graves no paciente, decorrentes da desidratação e alterações do metabolismo.

Tratamento medicamentoso:   Geralmente, não se utiliza medicamentos para tratar a Bulimia nervosa. Mas, quando há co-morbidade com depressão patológica  ou com transtorno obsessivo compulsivo, é necessário utilizar medicamentos antidepressivos que atuam  exclusivamente na Bulimia nervosa, que são os  inibidores seletivos de recaptura de serotonina, alguns tricíclicos e, atualmente, alguns inibidores de dupla-ação.

Tratamento dietoterápico: é fundamental no paciente com Bulimia nervosa, devido ao emagrecimento descontrolado e aos graves distúrbios nutricionais que esse emagrecimento acarreta no organismo.

Tratamento psicológico: é essencial para tentar descobrir o motivo que levou a paciente ao quadro evolutivo da doença, e tentar reverter o quadro.

Tratamento psicoterápico: distúrbios alimentares acarretam tanto sintomas físicos quanto psíquicos. Alguns tipos de psicoterapia têm bons resultados:

·         Terapia gestalt: a situação aqui-e-agora  do paciente é tomada como ponto de partida. O tom da voz, gestos e postura corporal do paciente ao narrar uma determinada situação fornece informações importantes ao terapeuta.

·         Psicanálise: escola terapêutica que toma como ponto de partida um conflito inconsciente como  causa do transtorno. À medida que os sentimentos afloram e tornam-se conscientes ao longo de anos de tratamento, é possível que se abrandem as conseqüências de vivências  traumáticas e que o paciente se abra a novas experiências.

·         Terapia sistêmica: de acordo com a compreensão sistêmica o ser humano é uma parte da rede de relações de seu ambiente. Sintomas da doença são a expressão de determinados modelos relacionais. As intervenções terapêuticas têm por meta tornar claros esses modelos e com isso ampliar as possibilidades de ação dos envolvidos.

·         Terapia comportamental: método que contém um espectro de técnicas fundadas sobre leis de aprendizagem, conhecimentos provenientes da psicologia experimental e social e conhecimentos médicos sobre o corpo.

Tratamento psiquiátrico: é necessário quando o quadro evolui para situações que evidenciem distúrbios ou transtornos mentais e tentativa de suicídio (caso gravíssimo). Nesses casos específicos, o paciente deve ser internado em uma ala psiquiátrica do hospital, pelo menos durante alguns dias para tratamento específico.

Obs: Geralmente, mesmo depois  de uma internação hospitalar e da conscientização do problema, as dificuldades em mudar o comportamento  persistem no paciente com Bulimia, principalmente, pelos traços compulsivos nele embutidos. O ciclo comer, vomitar, tomar laxante, diurético ou fazer ginástica já se tornou uma atitude automática. E mudar essa percepção da realidade é muito difícil. O trabalho do psicólogo e do psicoterapeuta  nessa fase é fundamental para um tratamento a longo prazo da Bulimia nervosa.

Prognóstico: Quando se submetem a um tratamento especializado as pessoas com Bulimia, tem altas chances de cura:  cerca de metade consegue livrar-se da doença, mas para 25% os vômitos continuarão fazendo parte do dia-a-dia. Os demais em geral permanecem na zona nebulosa da doença.

Complicações

Diversas complicações médicas podem surgir relacionadas a perda de peso, aos vômitos e abuso de laxantes:

·         Desidratação grave.

·         Perda de massa muscular.

·         Metabolismo tireóideo reduzido.

·         Intolerância ao frio.

·         Arritmias cardíacas.

·         Anemia.

·         Cálculos renais.

·         Constipação intestinal (prisão de ventre).

·         Ulceração do esôfago (devido à ação dos ácidos estomacais).

·         Sangramentos do trato intestinal.

·         Dores abdominais fortes.

·         Edema.

·         Aumento da glândula salivar.

·         Erosão do esmalte dentário.

·         Diarréia crônica (devido aos laxantes).

·         Problemas cardiovasculares.

·         Hipocalemia.

·         Hiponatremia.

·         Hipocloremia.

·         Alcalose metabólica (devido  a perda do ácido gástrico por meio dos vômitos).

·         Acidose metabólica (devido a diarréia crônica).

·         Depressão patológica.

·         Prolapso do reto (devido ao uso indiscriminado de laxantes).

A Bulimia em algumas pessoas,  pode ser considerada um fator desencadeante do transtorno obsessivo compulsivo.

Bulimia e a Psicologia

Não existe nenhuma estrutura psíquica profunda e estável específica na pessoa bulímica, ou seja, qualquer estrutura mental pode levar a esse comportamento. A incapacidade de manter um nível de funcionamento estável. Os comportamentos oscilantes de " tudo ou nada"  apresentam-se como constantes para elas. As condutas bulímicas refletem a instabilidade da organização psíquica da pessoa. Observa-se uma vulnerabilidade na pessoa e uma instabilidade no seu funcionamento mental.

A Bulimia se apresenta como  uma atitude muito agressiva e auto destrutiva diante do próprio corpo: o único limite é o esgotamento, a dor, a impossibilidade material de colocar mais coisa no estômago. Há na realidade graus diversos de prazer e dor nas crises bulímicas. A Bulimia aparece como uma tentativa de recuperar a ruptura do sentimento de si, de objetos perdidos, e encontrar nos alimentos partes de si, que o tempo arrancou. O preenchimento frenético procura ocultar a falta, o vazio, a dor psíquica e a dor física. A vivência do vazio interno apela para o preenchimento bulímico. Se por um  lado a crise bulímica é uma desordem, pode também ser considerada uma defesa, como um último recurso do ego, de reorganização para justamente evitar os processos depressivos. Neste caso, a Bulimia pode significar um progresso na evolução de uma Anorexia.

A crise bulímica é para o sujeito uma prova da verdade, que o confronta com os limites de seu poder e o força a reconhecer a existência em si mesmo do que pretende ignorar, excluir ou dominar (suas necessidades), ou seja, a crise bulímica impede de um certo modo a morte. Sentir-se aceito e protegido ajuda a romper o círculo vicioso de excesso e privação alimentar.

Transtornos alimentares e a  Internet

Os pais devem  ficar atentos à determinados sites ou grupos on-line na Internet, que promovem o distúrbio alimentar como estilo de vida. Nesses ambientes virtuais as adolescentes, incentivam umas às outras a favor da Bulimia nervosa ou da Anorexia nervosa, trocam dicas de alimentação pouco saudável, competem entre elas para ver quem perde peso mais rápido, dividem truques para manter a doença em segredo dos pais e colegas. Também trocam imagens entre elas, difundem esses sites nas escolas ou em grupos e ainda mantêm a lista desses sites sempre atualizada.  Os pais precisam conversar e aconselhar seus filhos sobre o que vêem, mandam e recebem na Internet.

Alguns pais que não se interessam ou que não sabem o que é Internet, devem tentar aprender a manipular um computador e aprender a navegar na Internet, para que eles possam entender como seus filhos, têm acesso a determinados sites de propaganda sobre a Bulimia nervosa e a Anorexia nervosa. Talvez, eles vendo o conteúdo e as imagens desses sites, possam entender a preocupação de algumas ONGs em  desaconselhar esses sites, perante os provedores.

A Bulimia nervosa e a Anorexia nervosa são consideradas doenças, que podem causar graves complicações e seqüelas tanto físicas como mentais em adolescentes e adultos jovens. A Anorexia nervosa inclusive pode matar por inanição ou caquexia,  o seu portador.

Transtornos alimentares e a Mídia

Os rígidos padrões de beleza difundidos pela mídia é a principal causa apontada pelas adolescentes para os transtornos alimentares. Os padrões de beleza atuais e a rejeição social à obesidade feminina fazem com que as adolescentes sintam um impulso incontrolável de estar tão delgadas como as "top models" que a publicidade e os meios de comunicação apresentam diariamente no glamour da glória e do sucesso.

Na ânsia de se enquadrar nos atuais padrões de beleza, milhares de pessoas travam  uma busca insaciável pela perfeição. De acordo com psiquiatras e psicólogos, as adolescentes bulímicas e anoréxicas possuem distorção da imagem corporal. Quanto mais magra a garota está, mais gorda ela se , e o estopim para desencadear esse processo doentio pode ser a imagem da magreza que o mercado da moda e a mídia colocam como ideal.

Transtornos alimentares e a Psicologia

Distúrbios alimentares ocorrem nas mais diversas famílias e em todas as classes sociais. Há, entretanto, traços comuns que se evidenciam no ambiente de pessoas com o problema. Justamente nos casos de Anorexia e Bulimia a família tem boa situação, instrução acima da média e passa a impressão de ser impecável e harmoniosa. Não é raro que prevaleça grandes expectativas: todos se orientam rigorosamente de acordo com determinadas noções de valor e não dão vazão a sentimentos desagradáveis como raiva e ciúmes, de modo que os conflitos ficam latentes no subsolo, em vez de vir à tona. Os verdadeiros problemas por trás da fachada idealmente esbelta, só são descobertos bem mais tarde pelos terapeutas. Os propósitos psicológicos certamente se relacionam com o mundo interno da pessoa e seu ambiente familiar. Sempre existe algo  para além do desejo de emagrecer. Os transtornos alimentares não dizem respeito somente à comida. Há nitidamente um segundo ganho, pois os transtornos  alimentares são na realidade defesas inconscientes sobre o desafio de enfrentar a vida. Esta foi a forma encontrada por essas pessoas para lidar com pensamentos, sentimentos difíceis para si, como por exemplo, morte de uma pessoa querida, perdas, maus tratos, abuso sexual, etc.

Por estar diretamente relacionada  com os transtornos alimentares, fisiologicamente, o estresse passou  a ser o representante emocional da ansiedade. Psicologicamente, a ansiedade pode mobilizar as atividades psíquicas e comprometer desde a atenção e memória, até a realidade. Em geral, as pessoas não tem consciência e não conseguem relacionar os eventos de sua estória de vida com seus transtornos atuais.  No caminho para a cura, o afeto familiar, aliado à ajuda profissional, é o que conta para o doente aceitar o próprio corpo, desistindo de vez da idéia de uma perfeição inatingível.

A pessoa com transtorno alimentar não quer perder o controle sobre o corpo, e teme qualquer coisa que possa ameaçar esse controle.


Dúvidas de termos técnicos e expressões, consulte o Glossário geral.