TRANSTORNO DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA


Transtornos alimentares

Os Transtornos Alimentares são definidos como desvios do comportamento alimentar, que podem levar ao emagrecimento extremo (caquexia) ou à obesidade, entre outros problemas físicos e incapacidades. Os Transtornos Alimentares são todos aqueles que se caracterizam por apresentar alterações graves na conduta alimentar. As mulheres são as grandes vítimas dos transtornos alimentares. Os Transtornos Alimentares na área psiquiátrica, são definidos como quadros psiquiátricos que afetam principalmente, adolescentes e adultos jovens do sexo feminino, provocando aumento de morbidade e mortalidade nessa população.

 

Introdução

O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) é   o ato de comer excessivamente, acompanhado de um grande sentimento de culpa, por ter comido em excesso e pela falta de controle.  A caracterização desse transtorno baseia-se na presença de compulsão alimentar, com subsequente angústia, devido à ausência de comportamentos regulares, voltados para a eliminação do excesso alimentar.     Após ter um ataque sem controle à comida, a pessoa sente-se culpada e angustiada com o ato. A perda do controle sobre o episódio alimentar, mais o consumo de grandes quantidades de alimentos, são características muito importantes para a definição do transtorno de compulsão alimentar periódica.

 

O indivíduo que tem ataques de TCAP geralmente, só param de comer se alguém entrar no local, ou por mal estar físico devido a grande ingestão de comida ou se a comida acabar. Muitos que desenvolvem o TCAP, não se lembram nem do que comeu e nem do quanto que comeu. Esse comportamento provoca um grande sofrimento, e compromete seriamente a qualidade de vida do portador.  A pessoa deixa de frequentar ambientes sociais (principalmente se houver comida), restringe amizades, tem dificuldades na área profissional, e sua auto-avaliação se baseia somente em como tem controle sobre a comida. Caso consiga controlar os episódios, sente-se bem; se tem um ataque de compulsão, perde a auto-estima e o processo depressivo recomeça. A TCAP não está associada com o uso regular de comportamentos compensatórios inadequados, como por exemplo, a purgação, jejuns  prolongados, exercícios excessivos e nem ocorre durante o surto de Anorexia nervosa ou Bulímia nervosa. Muitos portadores de TCAP apresentam um passado de várias flutuações de peso. É o efeito "sanfona" que acontece nos que sofrem dessa compulsão, numa proporção bem maior do que os que não sofrem desse transtorno. No geral, esse transtorno tem início no final da adolescência, até por volta dos 24 anos, e com frequência, reaparece logo em seguida a uma dieta para perda de peso.

Incidência

·         Estudos epidemiológicos apontam uma prevalência do transtorno  de 2% a 3% na população em geral.

·         Cerca de 30% dos obesos, apresentam sinais de TCAP.

·         Antes de apresentar TCAP, cerca de metade dos pacientes desenvolvem a compulsão alimentar.

·         Acomete indivíduos de todas as raças.

·         Incidência um pouco maior entre as mulheres.

·         Pode ocorrer em todas as raças.

·         Início no final da adolescência.

·         Portadores de TCAP têm uma maior incidência de apresentar depressão patológica.

·         Portadores de TCAP têm uma tendência maior de apresentar Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

·         Portadores de TCAP, principalmente adolescentes apresentam níveis maiores de ansiedade e de obesidade.

·         Apresentam maiores taxas de abandono de tratamento.

 

Obs: Estudos indicam que existe um círculo vicioso entre o TCAP, a ansiedade e a obesidade. A pessoa ansiosa pode desenvolver o TCAP e, consequentemente, a obesidade, que por sua vez pode levar à ansiedade.

 

Fatores desencadeantes

Muitos portadores do transtorno identificam os seguintes "gatilhos"  relacionados abaixo, que podem funcionar como desencadeadores do próximo episódio de TCAP.

·         Angústia.

·         Ansiedade.

·         Baixa-estima.

·         Depressão.

·         Estresse.

·         Frustração.

·         Medo.

·         Tédio.

·         Término de uma dieta alimentar.

 

Perfil dos portadores de TCAP

·         Têm baixo-estima.

·         Apresentam sinais de depressão.

·         Grande maioria são obesos.

·         Evitam frequentar lugares com excesso de comida: ex: churrascarias, jantares festivos, aniversários, restaurante self-service etc.

·         Muitos são introvertidos.

·         São perfeccionistas.

·         Querem ter controle sobre tudo.

·         Outros tem total descontrole sobre a sua vida.

 

Diferença entre TCAP e a Compulsão Alimentar

Quando um paciente não vomita depois de um episódio de comer compulsivo, os psicólogos falam de transtorno de compulsão alimentar periódica (binge eating disorder). Nesse caso não se trata de passar dos limites apenas ocasionalmente. Esse diagnóstico supõe que a pessoa perca o controle sobre seu comportamento alimentar ao mesmo duas vezes por semana, geralmente em decorrência de frustração, medo ou tédio.

 

No transtorno da compulsão alimentar periódica o indivíduo apresenta a compulsão alimentar, e logo após, apresenta um sentimento de culpa, que o corroe por dentro e deixando-o angustiado,  enquanto na compulsão alimentar, o indivíduo apresenta o comer compulsivo, sem o sentimento de culpa.

 

Outro fator diferencial é que a TCAP é  considerada uma doença psiquiátrica, enquanto a compulsão alimentar não é considerada uma doença propriamente dita.

 

A compulsão alimentar pode ser um comportamento eventual, que não apresenta  tanto incômodo ao indivíduo, e sim uma certa preocupação, (devido a odesidade) que o leva a procurar algum tipo de tratamento, enquanto o  transtorno da compulsão alimentar periódica, deixa o seu portador, angustiado, depressivo e ansioso, por ter perdido o controle, quando estava comendo compulsivamente.

 

Diferenças entre os pacientes de transtornos alimentares

 

ANOREXIA

BULIMIA

COMPULSÃO ALIMENTAR

 TCAP

Grande maioria de mulheres

Grande maioria de mulheres

Maioria de mulheres, mas há bem mais homens que nos outros transtornos

Maioria de mulheres, mas há bem mais homens que nos outros transtornos

 

Algumas, além de restringir alimentação, vomitam (por auto-indução ou com remédios)

Vomitam (por auto-indução ou com uso de remédios) recorrentemente após episódios compulsivos

Não apresentam vômitos

Não apresentam vômitos

Abusam de diuréticos e laxantes

Algumas abusam  de diuréticos e laxantes

Não usam diuréticos ou laxantes

Não usam diuréticos ou laxantes

 

Apresentam perda de peso grave

Apresentam peso normal ou acima do normal. Depois de algum tempo, podem evoluir para a perda de peso

75% apresentam obesidade

30%  a 40% apresentam obesidade

Possuem  grande  distorção  da   imagem    corporal, tanto própria quanto alheia

Distorção da imagem corporal é menos acentuada

Não há distorção da imagem corporal

Não há distorção da imagem corporal

Negam a fome

Tentam controlar a fome

Alimentam-se normalmente durante o dia, mas têm episódios onde comem em demasiado

Têm episódios recorrentes de comer compulsivo, em qualquer horário

São introvertidas

São mais extrovertidas

São introvertidos

São introvertidos e depressivos

Não tem sentimento de culpa

Sentem-se culpadas por seu comportamento

Não se culpam pelo comportamento

Sentem-se culpadas por seu comportamento

A menstruação pára

A menstruação pode se tornar irregular

A menstruação não sofre qualquer  interferência

A menstruação não sofre qualquer interferência

Podem apresentar problemas afetivos

Podem apresentar problemas afetivos e abuso de álcool, cigarro e drogas

Podem apresentar problemas afetivos

Podem apresentar problemas afetivos

Não apresentam depressão

Podem apresentar quadro de depressão leve

Não apresentam depressão

Apresentam quadros de depressão moderada a grave

 

 

 

Diagnóstico

·         Anamnese.

·         Exame físico.

·         Exame clínico.

·         Exame psiquiátrico.

·         Exames laboratoriais.

O critério de diagnóstico para TCAP proposto pelo DSM-IV requer a presença de:

 

a.  Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado por ambos os seguintes critérios:

1.  ingestão, em um período limitado de tempo (por exemplo, dentro de um período de duas horas), de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período similar, sob circunstâncias similares;

2.  um sentimento de falta de controle sobre o episódio (por exemplo, um sentimento de não conseguir parar ou controlar o que ou quanto se come).

 

b. Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) dos seguintes critérios:

1.  comer muito e mais rapidamente do que o normal;

2.  comer até sentir-se incomodamente repleto;

3.  comer grandes quantidades de alimentos, quando não está fisicamente faminto;

4.  comer sozinho por embaraço devido à quantidade de alimentos que consome;

5.  sentir repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer excessivamente.

 

c. Acentuada angústia relativa à compulsão alimentar.

 

d. A compulsão alimentar ocorre, pelo menos, dois dias por semana, durante seis meses.

 

e. A compulsão alimentar não está associada ao uso regular de comportamentos compensatórios inadequados (por exemplo, purgação, jejuns e exercícios excessivos), nem ocorre durante o curso de anorexia nervosa ou bulimia nervosa.

 

De acordo com os critérios de diagnósticos, é necessário que a compulsão alimentar se dê em um período de tempo delimitado, o que exclui, por exemplo, indivíduos que “beliscam” o dia todo pequenas quantidades de alimentos. A quantidade de alimentos deve ser grande para um determinado período, (por exemplo, período de duas horas), mesmo considerando-se que,esse julgamento seja subjetivo.

 

Além disso, é importante o sentimento de perda de controle, em que o indivíduo fica sem liberdade para optar, entre comer ou não comer. Por fim, o paciente deve apresentar sofrimento relativo a esse comportamento recorrente, e ter sua vida pessoal comprometida, em virtude dessa enfermidade.

 

Diagnóstico diferencial

O principal diagnóstico diferencial deve ser feito com a  Bulimia nervosa.

 

Tratamento

Médico especialista: Psiquiatra, Psicólogo e Endocrinologista.

 

Objetivos:

·         Tratar as complicações físicas.

·         Reestruturar os hábitos alimentares.

·         Acompanhar e tratar as co-morbidades psiquiátricas.

·         Atender as necessidades psicológicas.

 

O tratamento é ambulatorial. A hospitalização é indicada quando o paciente apresenta um quadro muito grave associado à depressão, ao risco de suicídio ou também quando envolve outras complicações físicas, decorrentes da hiperalimentação.

 

Tratamento dietoterápico: Reeducação alimentar:  Através da reeducação alimentar tenta-se adequar alimentos de valor calórico corretos e horários de refeição também corretos. Redução das calorias diárias também é necessário.

 

Tratamento medicamentoso: Antidepressivos: Os antidepressivos podem ser considerados como uma opção para todos os pacientes com TCAP, principalmente para aqueles que não responderam aos tratamentos psicossociais.

 

As doses podem ser elevadas gradualmente, a cada duas a três semanas, observando seus efeitos sobre o comportamento alimentar compulsivo, assim como o efeito sobre o humor.

 

Deve-se ficar atentos ao uso do medicamento em pessoas obesas, já que os obesos geralmente, fazem uso de outros medicamentos, ou apresentam co-morbidades clínicas como a hipertensão, o diabetes e os   distúrbios cardiovasculares.

 

Tratamento psicológico:

·         Terapia-cognitivo-comportamental. A terapia cognitivo-comportamental é a que  tem sido mais estudada e a que aponta melhores resultados. Trata-se de uma psicoterapia de curto prazo (cerca de 12 a 16 sessões), que enfoca aspectos cognitivos do problema (pensamentos distorcidos) como a auto-avaliação centrada no peso e forma do corpo, baixa auto-estima, perfeccionismo e outros aspectos, enquanto a parte comportamental enfoca os hábitos alimentares inadequados.

·         Terapia comportamental.

·         Psicoterapia focal.

·         Psicoterapia interpessoal.

·         Psicoterapia psicodinâmica.

·         Tratamentos de auto-ajuda.

·         Intervenções psicoeducacionais.

 

Essas abordagens  psicoterapêuticas podem ser aplicadas individualmente ou em grupo.

 

Sequelas

·         Obesidade: A pessoa se torna obesa, porque aumentam os níveis do metabolismo, para uma ingestão calórica muito alta.

·         Problemas gástricos.

·         Desenvolvimento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

·         Depressão patológica.

 

Transtornos alimentares e a Psicologia

Os propósitos psicológicos certamente se relacionam com o mundo interno da pessoa e seu ambiente familiar. Sempre existe algo  para além do desejo de emagrecer ou o comer compulsivo. Os transtornos alimentares não dizem respeito somente à comida. Há nitidamente um segundo ganho, pois os transtornos  alimentares são na realidade, defesas inconscientes sobre o desafio de enfrentar a vida. Esta foi a forma encontrada por essas pessoas para lidar com pensamentos, sentimentos difíceis para si, como por exemplo, morte de uma pessoa querida, perdas, maus tratos, abuso sexual, etc.  

Por estar diretamente relacionada  com os transtornos alimentares, fisiologicamente, o estresse passou  a ser o representante emocional da ansiedade. Psicologicamente, a ansiedade pode mobilizar as atividades psíquicas e comprometer desde a atenção e memória, até a realidade. Em geral, as pessoas não tem consciência e não conseguem relacionar os eventos de sua estória de vida com seus transtornos atuais.  No caminho para a cura, o afeto familiar, aliado à ajuda profissional, é o que conta para o doente aceitar o próprio corpo, gordo ou magro. Sentir-se aceito e protegido ajuda a romper o círculo vicioso de excesso e privação alimentar.


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